Ainda me lembro da primeira vez que tive contacto com este jogo: foi num Playstation State of Play, onde uma empresa indie chinesa chamada miHoYo (atualmente HoYoverse) apresentou um projeto promissor com um estilo artístico baseado em anime. Era um jogo RPG, de mundo aberto, e com mecânicas muito semelhantes a The Legend of Zelda: Breath of The Wild, como a habilidade de escalar tudo o que existia, sejam montanhas ou casas, ou o combate, tendo a oportunidade de usar uma espada ou um arco e flecha, entre outros. 

Porém, depois de esta demostração de gameplay impressionante, anunciaram que o jogo iria ser grátis, o que não costuma ser usual no género RPG, tirando uma seleção de MMORPGs. Iria finalmente ter a oportunidade de jogar um “Zelda-like”, numa Playstation, e ainda por cima, sem gastar um único cêntimo. Foi aí que tive o meu primeiro contacto com o que viria a ser Genshin Impact

Um lançamento atribulado

E pronto, depois deste anúncio inesperado, estava eu, à procura de mais conteúdo sobre este projeto, à procura de mais gameplay, e principalmente, à procura de uma data de lançamento. Também, além de mim, uma comunidade de hype foi formada à volta deste jogo: milhares de pessoas estavam ansiosas para se aventurar no mundo de Teyvat. Porém, obviamente que surgiu também uma grande comunidade de fãs de Breath of the Wild, irritados com o anúncio de Genshin Impact, um jogo que, supostamente, não era mais nada do que um plágio à mais recente entrada no universo extenso de The Legend of Zelda. Dificilmente me irei esquecer das gargalhadas que dei ao ver a imagem de um fã de Zelda a destruir a sua PS4 após o anúncio de Genshin Impact.

Além disso, a comunidade de anime no Twitter não estava muito satisfeita com este anúncio também, e mostrou o seu descontentamento com o design japonês das personagens deste jogo, devido ao facto de a sua developer ser chinesa. Ainda hoje, é possível encontrar indícios de hostilidade desta comunidade com a de Genshin Impact.

Por fim, depois de extensos e inúmeros testes beta, que acabaram por atrasar relativamente o lançamento, Genshin Impact finalmente foi lançado para PC, Playstation, Android e IOS, e, sem surpresa, foi o jogo mais jogado e assistido em plataformas de streaming como a Twitch nas suas primeiras semanas de lançamento. Também eu, no exato dia em que o jogo ficou disponível na Playstation, liguei logo a PS4, e fui finalmente introduzido ao maravilhoso mundo de Teyvat.

O começo de uma jornada

Mal começo o jogo, sou recebido no mundo de Teyvat com um main theme incrível, que fez com que ficasse uns quantos minutos parado no title screen do jogo, só a apreciar a beleza musical do jogo, com temas compostos por Yu-Peng Chen

Ao iniciar o jogo, começa uma cutscene, com o propósito de nos introduzir à premissa deste jogo: seguir uma jornada com o objetivo de nos voltarmos a encontrar com o nosso gémeo que foi capturado por uma deusa desconhecida. Depois da derrota dos irmãos gémeos Aether e Lumine contra essa deusa, é nos dada a opção de escolher uma destas personagens, para ser a personagem que o jogador vai controlar até ao fim da jornada. A minha escolha acabou por ser Aether, e então, Lumine foi capturada pela deusa desconhecida, enquanto que eu acabei por ser enviado para Teyvat.

Teyvat

Finalmente em Teyvat, na nação de Mondstadt, severamente inspirada pela Alemanha clássica, encontro um ser voador, chamado Paimon, que se oferece para nos ajudar na nossa jornada, de se voltar a reunir com a irmã Lumine. Paimon acompanha-nos então até uma Estátua dos Sete, embutida com o poder de Anemo, que Aether absorve. Estas Estátuas estão espalhadas por toda a Teyvat, e representam não só as sete nações deste reino, mas também os sete elementos presentes cada um numa nação: Anemo, Geo, Electro, Dendro, Hydro, Pyro e Cryo. Estes elementos não só estão embutidos nas estátuas dos sete, mas também nas visões, pequenos talismãs que são uma dádiva dos deuses a habitantes de Teyvat. As visões não só representam as suas ambições, mas também que os Arcontes reconheceram que o seu portador era merecedor desse poder.

Os Arcontes são divindades criadas por Celestia, a terra dos deuses. Cada um dos sete governa uma nação de Teyvat, e é responsável pela criação das visões de cada elemento. Por exemplo, o primeiro Arconte que conhecemos é Barbatos, ou, na sua forma humana, Venti: este deus é responsável pela criação de visões Anemo, e pela governação de Mondstadt, a nação deste mesmo elemento.

A Ordem do Abismo e Khaenri’ah

Logo no início, o viajante Aether, a nossa personagem, encontra um bardo, que se revela mais tarde como Venti, o Arconte de Mondstadt, ao lado de um dragão, Dvalin, conhecido nesta nação como Stormterror. Depois de salvar Mondstadt do estranho ataque de Dvalin, que havia sido corrompido por um organismo secreto chamado de Ordem do Abismo, contam a Aether o que aconteceu no passado, numa nação de Teyvat, Khaenri’ah, que não era governada por nenhum Arconte, sendo apenas criada pelos humanos que a habitavam, e que, mesmo assim era mais poderosa do que qualquer outra nação de Teyvat, o que fez com que se tornasse um perigo para o “absolutismo” imposto pelos deuses de Celestia. Então, os Arcontes foram enviados, 500 anos antes dos acontecimentos que o nosso protagonista testemunha, com o objetivo de destruir esta nação, o que causa uma guerra entre os próprios deuses, e que faz com que Khaenri’ah seja completamente dizimada.

Lê mais:  PlayStation | God of War, The Last of Us e Marvel's Spider-Man 2 em novo spot para a UEFA Champions League

É aí que o jogador se começa a questionar se, na verdade, o verdadeiro vilão da história não é a Ordem do Abismo, mas sim Celestia e os deuses que a constituem, principalmente quando se revela que o comandante da Ordem não é nada mais, nada menos do que Lumine, a irmã gémea da nossa personagem.

Ponto de vista sobre a história 

Sendo esta a premissa principal de Genshin Impact, tenho que afirmar que este é um dos principais pontos fortes do jogo, e uma das principais razões que me fez continuar esta jornada. Porém, apresenta bastantes falhas no que toca a storytelling: o jogo apresenta minutos seguidos de diálogo entre personagens que se podem tornar tediosos, afastando a atenção do jogador da história que está sendo contada. Além disso, vários pedaços de história podem ser facilmente perdidos, porque são contados através de trailers nas redes sociais do jogo, o que pode proporcionar uma experiência confusa aos jogadores que não os viram. 

As diferentes regiões do jogo estão também cheias de pedaços relativamente escondidos de lore, que não só contam a história de Khaenri’ah e do Abismo, mas como também de outras civilizações perdidas que antes habitavam Teyvat e haviam já sido dizimadas. Através de monumentos encontrados na Dragonspine, uma montanha descomunal que se encontra em Mondstadt, no The Chasm, uma área mineira em Liyue, ou em Enkanomiya, nas profundezas de Inazuma, conseguimos descobrir que estas civilizações eram governadas pelo Primordial One, o que alimenta a teoria de que este havia sido dizimado pelos deuses de Celestia, que também se tinham encarregado de soterrar estas civilizações, para que não houvesse vestígios das mesmas.

Obstáculos à progressão

Como em qualquer RPG, um dos principais objetivos é subir de nível, para poder desbloquear novos objetivos que as nossas personagens têm que cumprir para ficarem mais fortes. Porém, Genshin Impact apresenta um diferente sistema, em que a progressão do jogador na história também se baseia no rank de aventura, o que faz com que o jogador não possa continuar as missões principais sem ter o nível requerido, o que se torna bastante frustrante em certas situações. 

Falo por experiência própria: encontrava-me na missão em que descobria que Dvalin, o dragão do Arconte Anemo, que havia sido corrompido por uma organização misteriosa, que mais tarde fora revelada ser a Ordem do Abismo, e, como seria esperado, queria imediatamente jogar a missão a seguir, para descobrir realmente o que tinha acontecido, mas, infelizmente não tinha um nível alto o suficiente para continuar esse objetivo, o que fez com que passasse as próximas quase 2 horas a explorar Mondstadt e a apanhar baús, o que, apesar de ser algo divertido de se fazer, estragou completamente a imersão que a história proporcionava.

Um olhar pela gameplay

Uma grande parte da experiência de jogo consiste em apanhar loot de baús, em adquirir melhor gear, como armas, para tornar as personagens mais fortes e em realizar as missões principais, secundárias e dungeons, isto tudo num open-world incrivelmente detalhado. Se isto ainda não parece interessante o suficiente, Genshin Impact apresenta muitas mecânicas novas e conteúdo, como masmorras chamadas de Domínios, onde derrotando vários inimigos o jogador consegue adquirir variado loot, desde materiais para subir a personagem ou arma de nível, até artefactos, itens que aumentam as estatísticas das personagens em que são equipados. Em cada atualização que o jogo recebe, vários eventos são adicionados, que trazem novos modos de jogo limitados, e até diversos minijogos, que fazem com que haja sempre novo conteúdo para os jogadores experimentarem. Além disso, o jogo também contém algum conteúdo endgame, como o Abismo em Espiral, uma dungeon que em cada piso traz novas ondas de inimigos onde o jogador pode mostrar o verdadeiro poder das suas personagens.

Por isso, um dos principais pontos fortes, na minha opinião, é o combate. Além de existirem diferentes tipos de personagens: com espadas gigantes que parecem ser vindas de um Final Fantasy, com lanças, e até catalisadores, que funcionam como o típico “livro de magia” de um RPG, o jogo incorpora os elementos que as visões proporcionam às personagens e cria combinações denominadas de reações elementais. Cada uma destas reações elementais tem uma consequência diferente: a Superconduct, por exemplo, é uma reação que é criada a partir da interação entre os elementos Cryo e Electro, que aumenta o dano físico de todas as personagens, enquanto que a reação Freeze acontece entre os elementos Hydro e Cryo, congelando os inimigos afetados pelos elementos. As reações elementais permitem com que o jogador encontre formas mais criativas de derrotar os inimigos, realizando trocas entre as personagens que pertencem à sua equipa, para usar estas reações a seu favor.

Monetização e gacha

No final de contas, Genshin Impact é um jogo grátis, por isso introduziu uma monetização gacha no jogo. Para quem não sabe, gacha é um exemplo de monetização muito semelhante a lootboxes, porém em vez de ser algo completamente aleatório, o sistema gacha apresenta banners, que te permitem gastar as gemas ou qualquer outro tipo de wishing currency nas personagens ou armas que pretendes obter, obviamente com diferentes tipos de raridade e, consequentemente, drop rates. Estes tratam-se das probabilidades em obter as personagens presentes nos banners: as personagens 5 estrelas, as mais raras, têm drop rates muito menores do que as personagens 4 estrelas, por exemplo.

Lê mais:  Apex Legends: Arsenal | Ballistic sai da aposentadoria em novo trailer!

Como um jogador “free-to-play”, que ainda não gastou um cêntimo neste jogo, consigo afirmar que nenhum conteúdo do jogo está escondido por trás de uma DLC ou suplemento pago: a monetização neste jogo só é aplicada na mecânica gacha. De qualquer forma, as gemas usadas para realizar “pulls” ou “wishes” que permitem o jogador obter as personagens dos banners são dadas gratuitamente, apesar de ser em pequenas quantidades, nas missões principais, missões secundárias, baús e conquistas, que permite jogadores “free-to-play” obterem de vez em quando as personagens 5 estrelas do banner. Pessoalmente, nunca senti a necessidade de gastar dinheiro neste jogo, porém muitos jogadores já gastaram quantias exorbitantes no Genshin Impact, devido ao vício em “gambling” que a mecânica gacha pode trazer.

Recompensas de aniversário 

E, sem eu dar por ela, um ano de Genshin Impact passou. Um ano repleto de conteúdo, com 3 nações de Teyvat disponíveis para explorar, uma história que seguia um excelente caminho, introduzindo a missão do arconte de Inazuma, que particularmente me interessou bastante, e uma banda sonora divinal, que havia reunido não só o génio musical de Yu-Peng Chen, mas também algumas das orquestras mais famosas do mundo. Genshin Impact havia-se revelado para mim uma das melhores experiências a longo prazo que tinha alguma vez tido com um videojogo, e ainda hoje, no momento em que escrevo isto, todos os fins-de semana aproveito para fazer uma pausa do mundo real, e aventurar-me por Teyvat.

Porém, foi neste primeiro aniversário que alguns dos maiores problemas de Genshin Impact se começaram a sentir: a repetição constante e, por vezes, falta de conteúdo, e também a falta de comunicação que a empresa miHoYo tinha com a sua comunidade, que levou ao maior infortúnio da história de Genshin até hoje: as recompensas de aniversário.

Em jogos gacha é comum, no seu aniversário, a developer ser extremamente generosa e oferecer aos jogadores um monte de recompensas, que funcionam como um agradecimento ao jogador por continuar a jogar o videojogo. Por isso, semanas antes da data de aniversário de Genshin Impact, os fãs especulavam nas redes sociais como o Twitter qual seriam as recompensas que miHoYo ofereceria aos jogadores. Infelizmente, os fãs foram “presenteados” com apenas 10 wishes no gacha, que é uma recompensa bastante fraca tendo em conta as expectativas criadas à volta do aniversário de Genshin, o que resultou num boicote ao jogo, através não só das redes sociais, mas também das avaliações na Google Play Store e na App Store, e numa queda gigante na player count. Isto não foi só devido às recompensas de aniversário, mas também principalmente à falta de comunicação que a miHoYo teve com a comunidade, acabando até por censurar as mensagens e avaliações de jogadores descontentes. 

Burn-out

Foi também a partir deste acontecimento que os jogadores e criadores de conteúdo começaram a discutir sobre o burn-out que sentiam relativamente ao jogo: queixavam-se da falta de conteúdo endgame, apenas existindo o Abismo em Espiral e também no quanto o conteúdo do jogo apenas era introduzido em eventos de tempo limitado, ou seja, o conteúdo permanente no jogo demorava imenso tempo a ser lançado, e por isso os jogadores acabavam muitas vezes por receber atualizações com pouco conteúdo.

Por isso, vários jogadores e criadores de conteúdo começaram a deixar Genshin Impact, e apenas voltar ao jogo quando mais conteúdo (como regiões de Teyvat) era lançado. Na minha perspetiva, isso foi algo que realmente beneficiou o jogo, pois mais recentemente o jogo acabou por receber updates repletos de conteúdo, como as sub-regiões Enkanomiya e The Chasm, e os festivais de Liyue e Inazuma, o Rito das Lanternas e o Festival Irodori, o mais recente deles todos.

Mas, também acho que dá para continuar a apreciar Genshin Impact e a jogá-lo regularmente sem sofrer com burn-out, e o truque é simples: simplesmente não jogar todos os dias. A maioria dos jogadores dedica-se ao grind diário, para conseguir melhorar rapidamente as suas personagens e obter o maior número possível de recompensas para o gacha, porém, falo por experiência própria, não é necessário “grindar” o jogo todos os dias para conseguir as personagens 5 estrelas desejadas, ou conseguir bons artefactos. Jogando apenas nos fins-de-semana, consegui obter um número agradável de personagens 5 estrelas e também excelentes artefactos para as mesmas, e, assim, também nunca senti a necessidade de abandonar o jogo durante uns tempos. Esta é sem dúvida a minha melhor recomendação a todos os jogadores, quer sejam novos ao jogo ou já de longo prazo, para conseguirem obter a melhor experiência com Genshin Impact.

Recomendo o jogo?

Por fim, gostaria de apontar que recomendo, neste momento, o jogo a qualquer pessoa que goste de RPG’s que requerem bastante grind, porém será cada vez mais difícil começar uma nova aventura em Teyvat, devido à acumulação de conteúdo: por exemplo, um novo jogador pode obter uma personagem 5 estrelas de Inazuma, mas só a vai conseguir ascender e subir-lhe o nível quando desbloquear a própria região, que pode demorar 50+ horas, e com o passar do tempo, se este sistema não for atualizado, este número vai aumentar cada vez mais, obrigando o jogador a um grind extenso apenas para melhorar uma personagem, o que é obviamente enfadonho e inconveniente. Porém, quem quiser jogar o jogo sem ligar ao gacha, apenas para explorar o mundo e apreciar a história que Genshin Impact oferece, não poderia recomendar mais o jogo.

Por isso, Viajante, tem uma boa estadia em Teyvat!

Genshin Impact está disponível para PC, Playstation 4, PlayStation 5, Android e IOS.

CONCLUSÃO
Recomendado
8
genshin-impact-analiseO jogo tem um mundo aberto interessante e visualmente atraente, sendo a exploração acompanhada por uma banda sonora divinal, porém apresenta pouco conteúdo endgame, e muitas das missões secundárias e de exploração podem tornar-se tediosas devido à falta de objetivos e originalidade.