Para deixar bem claro antes de começar a escrever sobre esta, uma das trilogias mais bonitas e marcantes dos videojogos, a versão analisada aqui, foi jogada na Nintendo Switch. Tive a oportunidade de experimentar um destes títulos na Xbox Series, mas foi de longe na Nintendo Switch que coloquei mais horas a fio, portanto tudo o que será escrito de bom e mau, será baseado apenas na consola hibrida da Nintendo.

Nos últimos meses, surgiram imensos rumores sobre um possível lançamento de uma trilogia remasterizada, e com isso, os exigentes fãs da Rockstar, começaram a suscitar sobre o que poderia sair daqui, sabendo que quem iria distribuir seria a Rockstar Games, com aquele gigante currículo de videojogos; com um portefólio invejável como nenhuma outra na indústria, só podia sair coisa boa. Infelizmente, falhamos todos nas previsões.

Trilogia em Resumo

Esta trilogia é composta por 3 grandes clássicos que mudaram por completo o conceito de jogos de mundo aberto: Grand Theft Auto III (2001), Grand Theft Auto: Vice City (2002), e Grand Theft Auto: San Andreas (2004), e caso sejas novo na franquia, permite-me uma breve introdução das narrativas e ambientes em que os jogos se passam.

Em Grand Theft Auto III, controlamos Claude, um personagem de escasso carisma, e de poucas palavras (ok, talvez seja completamente mudo, esse é um dos mistérios do jogo que perdura até hoje, e que provavelmente nunca iremos saber a razão). O ano é 2001, e o jogo começa em clima de ação total, quando Claude, e a sua até então namorada Catalina, estão a meio de um assalto ao banco de Liberty City. Tudo parece estar a correr bem, quando, durante a fuga; Catalina dispara à queima-roupa sobre ele, assumindo a sua traição. Claude sobrevive, é preso, e mais tarde é libertado por um mero acaso, era transportado junto de um grande prisioneiro com negócios do poderoso cartel colombiano; que intercepta a carrinha da polícia para resgatar esse prisioneiro tão importante para o gangue. Claude, ao ver-se livre desta situação, começa a trabalhar em tudo o que é organização criminosa, com o objectivo de encontrar a sua ex, e a fazer pagar por tudo o que lhe fez.

Este é o primeiro título da saga 3D da Rockstar Games, e um dos jogos mais marcantes de todos os tempos, arrecadando imensos prémios da indústria. Com uma banda sonora poderosa, personagens memoráveis e história marcante; e com grande sensação de liberdade, GTA 3 chegou de uma forma arrebatadora, fazendo as pessoas questionar se estariam preparadas para tudo isso em 2001, um ano fascinante para os videojogos.

Um ano depois, surge Grand Theft Auto: Vice City, este que é talvez o mais marcante de todos eles por duas simples razões que definem tudo: A música, e o ambiente. Passado no final dos anos 80, a personagem agora é Tommy Vercetti, um mafioso de uma família poderosa, que após ser libertado da prisão, é imediatamente enviado para Miami, o local em que Vice City se passa. Tommy acaba por ser apanhado num esquema montado pelo seu antigo chefe, que o tenta enviar desta para melhor (conseguem sentir a semelhança dos dois jogos?), para o tirar das ruas; já que isso poderia oscilar com os negócios criminosos das restantes famílias.

Vice City é muito mais intenso narrativamente que o seu antecessor. Não só porque Tommy tem realmente uma voz ativa (interpretada pelo grande mestre Ray Liotta), mas porque o enredo é cheio de reviravoltas, e personagens memoráveis, assim como aquele ambiente néon dos anos 80, junto das várias pessoas e eventos reais que ocorreram em Miami, como gangues cubanas e haitianas, e a grande epidemia do crack que assolou os Estados Unidos por aquela época. Também é o primeiro GTA 3D a apresentar Motas, edifícios, negócios para adquirir, e armas únicas que mais tarde viriam a ser implementadas; e que seguem com a saga até aos dias de hoje.

Até que em 2004, surge o maravilhoso Grand Theft Auto: San Andreas. Este é o mais caprichado, e completo da trilogia, e também o mais querido pela maior parte dos jogadores, isto porque conta com um vasto leque de personalização, minijogos, grande variedade nas missões e até um sistema de namoradas; isso mesmo! O jogo é passado no início dos anos 90, quando o Hip Hop ganhava uma grande notoriedade nos Estados Unidos, com nomes em ascensão como Dr. Dre, Cypress Hill, N.W.A, Eazy E Tupac Shakur, Notorious B.I.G, entre outros.

Em San Andreas, assumimos Carl Johnson, que ao contrário dos protagonistas dos dois jogos anteriores; não é um “criminoso de profissão”, e até tenta fugir da vida do crime a todo o custo. Infelizmente, a sua mãe é assassinada, e Carl ao retornar a Los Santos para o seu funeral, vê-se perseguido pelo seu passado, quando verifica que os seus familiares e amigos vivem em condições deploráveis após perder uma grande reputação nas ruas, passando a experienciar muito risco com todos os problemas de gangues nas ruas. O protagonista decide ficar por groove street, o bairro que o viu crescer, e garantir uma vida estabilizada para os seus. Como será de esperar, Carl não tem tarefa fácil, com polícia corrupta que o persegue, a cidade inundada de tráfico de drogas e assassinatos, e o respeito terá que ser ganho com muito trabalho, nem que para isso tenha de sujar a sua dignidade.

Carl Johnson é uma personagem incrivelmente bem detalhada, e não é por acaso que aparece em diversas listas da crítica especializada como um dos melhores personagens de todos os tempos. O seu carisma é muito peculiar e desigual, e é o primeiro da série em 3D que definitivamente não gosta da vida do crime, e pensa duas vezes antes de cometer qualquer atrocidade. Talvez tenha sido por estas razões que fez os jogadores se aproximarem tanto da personagem.

Melhorias na gameplay, mas poucas!

Praticamente todas as funcionalidades dos jogos originais foram trazidas para esta versão definitiva. Para os mais ambientados na série (que acredito ser a maioria dos leitores), não irão sentir nada significativo que realmente faça justificar o dinheiro investido. O novo sistema de combate com armas em auto aim é penoso, mas pelo menos conta com um novo menu de seleção de armas, ao estilo de GTA V, algo que não existia nos anteriores. Durante a condução também terás um menu idêntico, mas desta feita para seleccionar as estações de rádio disponíveis.

É na navegação que está a grande melhoria do jogo em termos de mecânicas. Agora, os 3 títulos têm um sistema de GPS incorporado, que te indicam os caminhos a seguir até ao teu objectivo, ou marcação no mapa. Isto facilita imenso, principalmente no GTA III, já que na versão original nem acesso ao mapa existia.

Outra das novidades implementadas, é a vantagem de conseguir reiniciar a missão logo após falhar a mesma, diretamente sem precisar de apanhar o típico táxi habitual e viajar novamente até ao local da missão. Agora, ao morreres, irás-te deparar com uma mensagem de dupla escolha, e com isso podes começar a jogar de novo a missão através de um sistema de checkpoint. Facilita bastante, principalmente os mais impacientes.

Algumas missões foram também ajustadas no quesito da dificuldade, principalmente as cronometradas e de pontuação. Em Vice City, a missão do mini-helicópetro que tal como a mim, aterrorizou muita gente no passado, tem agora 30 segundos acrescentados ao seu tempo, o que facilita muito mais a sua conclusão. Numa das missões de GTA III o mesmo acontecia, na segunda cidade do jogo, quando o objectivo passar por passar em vários locais em pouco tempo. Agora com o sistema de GPS e acesso ao mapa, tudo fica mais fácil! Também as missões de quick time events de San Andreas tiveram uma melhoria ao extremo, com a pontuação diminuída, e uma hit box bem mais facilitada.

No geral, as melhorias de mecânicas e jogabilidade passam mesmo por acessibilidade, e pouco mais, infelizmente.

Visualmente como “GTAzão”, ou “GTAzinho”!

É muito estranho jogar o mesmo jogo, e em locais diferentes do mundo aberto sentir um trabalho visual caprichado, e em outras conseguir detectar facilmente um enorme descaso da produtora Groove Street Games. É como se trabalhassem em alguns cenários, e tivessem ignorado completamente outros.

Visuais como os casinos de Las Venturas, ou a costeira néon de Vice City com as cores de Miami dão um gosto tremendo de apreciação. É muito gratificante para quem jogou os anteriores, conseguir reviver estes ambientes dos jogos com mais cores e novos sistemas de iluminação, e dava por mim literalmente a apreciar cada canto dessas duas zonas em particular. Infelizmente em outras, como a base dos triades de GTA III, parece até ter piorado.

Alguns efeitos foram melhorados, como é o caso das explosões e efeitos de fogo e partículas, e uma vez mais; outros tantos efeitos foram extremamente piorados, como é o caso da chuva. Chovendo em GTA San Andreas, o jogo fica completamente intragável, e um dos pormenores mais desastrosos é que continua a chover mesmo quando o teu personagem está abrigado entre uma ponte ou até edifícios.

A Groove Street Games optou por um estilo cartoonizado para adaptar esta trilogia, e acabou por comprometer em demasia certos modelos de NPCs e personagens das sagas, fazendo chover uma carrada de memes na internet pouco após o seu lançamento. Se nas texturas, ambientes e folhagem se sente algum capricho como mencionei anteriormente, nos modelos das personagens isso não aconteceu, piorando a essência de cada uma delas, e horripilando outras quantas.

Tudo se perdoa, menos o desempenho!

Jogar Grand Theft Auto nas consolas da Nintendo ainda que não seja inédito, é sempre surpreendente, especialmente na Nintendo Switch. O último título da saga a ser lançado numa consola Nintendo foi Grand Theft Auto: Chinatown Wars em 2009, e já lá vão 12 anos desde então.

Assim que começaram a surgir os rumores desta possível trilogia, os fãs da série começaram a imaginar ter este pedaço de história que mudou o rumo dos jogos openworld na consola hibrida da Nintendo, e realmente aqui estamos; a escrever sobre o mesmo, mas com outro entusiasmo. Se há umas semanas passava apenas por excitação e hype, agora sobra desapontamento, e muito!

Qualquer um destes 3 jogos tem uma instabilidade de literalmente meter as mãos à cabeça, na Nintendo Switch. São quebras de quadros absurdas, resolução de efeito miopia em modo TV, e raramente se mantém nos 30 quadros, que seria o normal. Se a Groove Street Games quis realmente reviver os tempos do Pentium III e trazer a derradeira experiência com gráficos desfocados e performance pavorosa; então acertou em cheio. Como sabemos que essas não foram as razões desta trilogia correr num estado tão deplorável, resta-me dizer que é lastimável, e algo que jamais pensei ver de um projeto supervisionado pela Rockstar Games.

Também bugs assombram o jogo, mas confesso que os poucos que me deparei enquanto jogava GTA Vice City (o jogo que coloquei mais horas nesta trilogia) nunca foram algo de me quebrar por completo a experiência, notando apenas quebras visuais nos modelos; provavelmente originados pela má optimização.

De forma sucinta e clara, a versão Nintendo Switch de Grand Theft Auto: The Trilogy – The Definitive Edition não vale o teu dinheiro, pelo menos para já! É uma experiência penosa, com graves problemas de desempenho que fazem esquecer por completo as poucas melhorias implementadas nesta clássica trilogia, que pelo seu legado, merecia muito mais respeito do que foi devido.

CONCLUSÃO
Penoso
3
Igor Gonçalves
Curioso, explorador, e fã de videojogos desde que me lembro, e em especial pela saga Metal Gear. Não jogo plataformas, jogo jogos.
grand-theft-auto-trilogy-definitive-edition-analiseDe forma sucinta e clara, a versão Nintendo Switch de Grand Theft Auto: The Trilogy - The Definitive Edition não vale o teu dinheiro, pelo menos para já! É uma experiência penosa, com graves problemas de desempenho que fazem esquecer por completo as poucas melhorias implementadas nesta clássica trilogia, que pelo seu legado, merecia muito mais respeito do que foi devido.