Tendo nascido na década dos anos 90, era difícil não me deixar envolver pela magia do mundo criado por J.K. Rowling. Harry Potter e a Pedra Filosofal chegou em 1997 e as suas 223 páginas foram mais do que suficientes para tempestear o mundo, gerando uma receita e burburinho sem precedentes.
Embora o primeiro volume tenha sido lançado em 1997, foi apenas em 2001 que vimos o jovem Potter chegar ao grande ecrã, e já existia uma legião imensa de fãs que ansiava em filas quase intermináveis pelo próximo livro, Chris Columbus acrescentou camadas e camadas de pedra à torre que tão alto se tinha erguido sobre os universos de fantasia, tornando Harry Potter numa das (senão a) maiores propriedades intelectuais a alguma vez existir.
Desta imensa popularidade surgiram dezenas de adaptações em formato videojogo, mesmo até para um único volume, ou seja, as versões do Game Boy Color, Game Boy Advance, Playstation 1, Playstation 2, Gamecube, Xbox e PC tinham todas diferenças (e a do PC continua sem rival na minha opinião), pois todas as equipas/plataformas queriam a sua tentativa ao alcance da popularidade da saga.
Dezenas e dezenas de versões passaram e por muito divertidos e semelhantes que fossem aos filmes/livros, nunca senti que recriassem por completo a magia que sentimos seja ao ler as páginas ou ao ver os filmes, embora as versões LEGO da TT Games chegaram bastante perto com a sua carta de amor à saga.
Chegando ao fim desta longa (mas a meu ver essencial) jornada escrita, a Avalanche decide colocar aos seus ombros o peso de reconstruir Hogwarts. Gerou-se muita especulação devido aos adiamentos mas para surpresa de ninguém, quando damos tempo às equipas estas conseguem colocar o melhor de si nos produtos que estão a criar.
História
Hogwarts Legacy é a nova aventura no mundo dos feiticeiros, tendo lugar temporal em ~1800, bem antes de Potter ter chegado, algo bastante inteligente pois retirou imensa pressão ao quão bem iriam reconstruir a história e/ou as personagens a que todos nos acostumámos a ver. Depois de criarmos a nossa personagem passamos por uma breve introdução com o Professor Eleazar Fig onde descobrimos que vamos ser um dos poucos alunos a entrar no colégio directamente para o 5º ano, o que significa que temos muita informação para absorver.
Gabo a paciência à Avalanche por ter sabido levar o seu tempo na introdução. Não entramos logo em Hogwarts, ao invés disso, passamos por vários locais de forma a preparar a narrativa. Entre estes mesmos locais encontra-se Gringott’s, tornando-se novamente o ponto de partida para um mistério a ser desvendado pelo protagonista.
Depois de um extenso e bastante detalhado criador de personagens, encarnamos o famoso “escolhido” para cumprir uma profecia que uma mão cheia de pessoas no mundo conseguia cumprir, seguindo uma linha narrativa genérica com algumas reviravoltas pelo meio que não deslumbram, mas são boas o suficiente para valer a pena seguir a história até ao fim.
Mundo
Por onde começar…
As Highlands encontram-se repletas de locais recheados e variados. Os nossos principais pontos de ação serão Hogwarts e Hogsmeade (simplesmente mágico), pelo que passarão lá boa parte do tempo. Isto não significa que os outros locais não mereçam exploração, antes pelo contrário, existe uma surpresa debaixo de cada pedra, e algumas valem imenso a pena o tempo “perdido”.
Terão a oportunidade de experimentar um pouco de tudo, sejam puzzles deixados pelo próprio Merlin, apanhar monstros, remodelar a Room of Requirements, ou simplesmente participar em competições amigáveis com os restantes alunos, sejam elas a voar ou a jogar Summoner’s Court.
Felizmente, e como devem ter visto pelos vídeos, não estamos presos ao passeio terrestre, podendo utilizar meios voadores para explorar o mapa, e ambos os disponíveis são igualmente merecedores do nosso tempo.
Hogwarts Legacy é um jogo para ser jogado por qualquer tipo de jogador. Com isto quero dizer que a ordem das tarefas fica completamente ao vosso critério, não perdendo nada que não possa ser recuperado. Tal significa que, por exemplo eu, passei cerca de 4 horas só a “abrir” o mapa para ter pontos de fast travel em todos os cantos, cumprindo algumas missões secundárias pelo caminho.
Jogabilidade
O combate é intuitivo, mas nada fácil. Temos apenas quatro slots de **feitiços ao alcance imediato, tendo nós de desbloquear as habilidades que permitem utilizar os quatro grupos de slots, deixando-nos assim com dezasseis possíveis combinações de feitiços para utilizarmos sem recorrer ao menu.
A partir daqui temos de definir a abordagem que preferimos a combater, seja a fazer combos, aproveitar o parry, ou simplesmente bombardear todos os inimigos com o máximo de feitiços possíveis. Isto claro, se não quiserem optar pela via furtiva, que está muitas vezes presente, permitindo a utilização do Petrificus Totalus para uma limpeza silenciosa da área.
Mesmo jogando na dificuldade base existem algumas áreas/inimigos que colocam as nossas capacidades à prova, logo, aconselho que se encham de poções antes de partirem para a exploração, pois nunca se sabe quem iremos encontrar ao virar da esquina. Isto quase num sentido literal, pois os tipos de inimigos são variados. Desde feiticeiros das trevas a trolls blindados, ou duendes malvados e aranhas gigantes, seremos testados em vários ambientes e por vários inimigos, algo que ajuda a manter o combate apelativo.
Ficam em falta alguns pormenores que facilitavam bastante a nossa vida, como por exemplo podermos recomeçar os desafios de voo a qualquer altura, mas na forma em que se encontram, ou vamos para o mais longe possível, ou temos de acabar o desafio para o poder recomeçar, sendo que alguns são bastante extensos.
Audiovisual
Para além de todas as surpresas agradáveis que mencionei até agora na análise, parece incrível mas ainda tenho elogios a fazer à Avalanche.
Começamos logo com imensas opções de acessibilidade, desde menu render a modo para daltónicos, não faltam melhorias à qualidade de vida para cada jogador poder apreciar este produto em pleno. Hogwarts Legacy chegou-me às mãos incrivelmente polido, com visuais lindíssimos e uma banda sonora que eleva ainda mais a imersão.
Apostando num estilo realista vibrante, encontramos um belíssimo contraste entre cenários fotorealistas mas recheados de efeitos que os tornam mágicos. A atenção ao detalhe e devoção à obra encontram-se mais que visíveis, seja na arquitectura de Gringott’s ou nas esquinas de Hogsmeade. Ao passear pelo castelo encontramos plantas que mudam de forma, alunos a brincar com Levi-OH-sa, Hogwarts está repleta de vida e demonstra-o através destes pequenos, mas bastante apreciados pormenores.
A música adapta-se a cada local, utilizando tons nostálgicos misturados com ar fresco para se integrar na saga mas ao mesmo tempo pertencer apenas a si mesmo. Seja na música ou nos efeitos sonoros, a atenção permanece igual, até mesmo quando passamos por narcisos a buzinar.
Breviário
Demorou mas chegou. A derradeira experiência para quem se apaixonou pelo mundo de feitiçaria e magia é-nos trazida pela inesperada Avalanche Software, merecendo a equipa todo o mérito e sucesso que estão a ter. Se tinham algum dos pés atrás relativamente à compra de Hogwarts Legacy, podem saltar à vontade que não faltam feitiços de levitação.