Hogwarts Legacy foi lançado em fevereiro de 2023, há pouco mais de um ano, e desde então conquistou os fãs da saga Harry Potter, tanto os que a conheceram pelas páginas como os que a conheceram pelos filmes. Um jogo que tem muito para oferecer e acerca do qual decidi escrever um pouco, depois de 100 horas de viagem por Hogwarts, Hogsmeade e não só.
O vira-tempo que pedimos
Para quem cresceu no universo de Harry Potter, Hogwarts Legacy é um sonho tornado realidade. Explorei os originais na PlayStation, na PlayStation 2, na PlayStation 3 e até no PC e no Game Boy Color, e lembro-me de ficar impressionado com os cenários, com a banda sonora e com todos os elementos inspirados nos filmes e nos livros. Depois de tantos anos, Hogwarts Legacy aterrou-nos – a mim e a tanta gente – nas mãos que nem uma carta selada para Hogwarts, ansiosamente esperada por milhares de fãs.
Ocasionalmente, o meu sentido nostálgico leva-me a viajar mentalmente pelos cenários dos jogos Harry Potter e a Pedra Filosofal e Harry Potter e a Câmara dos Segredos, que conheci e percorri do início ao fim há muitos anos. Sabem aquela sensação de conforto que sentimos com as memórias felizes? É isso mesmo. E Hogwarts Legacy trouxe essas memórias para fora da minha cabeça, numa viagem em que somos brindados com referências, sensações e elementos sonoros que nos transportam para essa nostálgica época.
E não acabou!
Como o Bruno Vieira tão bem analisou, Hogwarts Legacy permite uma trajetória que não se esgota na história principal, ocupando-nos muitas horas com exploração, pequenas tarefas e missões secundárias. É possível que me tenha perdido pelo caminho a apreciar os cenários ao nascer do dia, ao pôr do sol ou sob o luar e que por isso tenha demorado mais do que o esperado para completar a linha principal do jogo, mas é algo de que não me arrependo. E quando pensamos que descobrimos tudo: SURPRESA! Há sempre algo novo para descobrir, corredores de Hogwarts que não visitámos, pequenos acampamentos, caves subterrâneas ou refúgios de criaturas mágicas. Para não falar na popular Sala das Necessidades… Mas, como não quero spoilers nem estragar a experiência, nem vou entrar por aí! Garanto só que, apesar de parecer irrelevante e secundária, a Sala das Necessidades enriquece muito a experiência de jogo, sobretudo com o passar do tempo.
Um mapa gigante
Pois, foram 100 horas de Hogwarts Legacy e ainda me perco pelo castelo. Pode ser do meu sentido de orientação (é possível, sim), mas também pode ser pelo facto de haver tanto conteúdo, tantas opções e tanto para explorar que não há espaço para reter toda a informação. Imaginem quase tudo o que conhecem da saga Harry Potter e coloquem todos esses elementos num só jogo. O resultado é uma obra fascinante e difícil de superar.
Ao longo destas horas, terminei a história principal, explorei todo o mapa e completei os coleccionáveis a 100%, provando que Hogwarts Legacy não se esgota numa boa história, até porque, no meio de tudo o que oferece, a história acaba por se tornar quase irrelevante.
Poucos foram os jogos que me agarraram por tanto tempo, estando esse posto reservado para o sub-género (que acabei de criar) de jogos sem princípio, meio e fim, ou seja, jogos que não têm necessariamente uma história e que podemos jogar de forma quase interminável. À primeira vista, e sem contar com repetições, diria que Stardew Valley, Rocket League e Animal Crossing foram dos poucos que me deixaram horas e horas a fazer praticamente a mesma coisa sem me aborrecer. Hogwarts Legacy consegue um feito quase similar: ou incorporou uma história principal num jogo digno de nos ocupar muitas horas ou ofereceu um jogo de muitas horas a uma história principal. Seja qual for o caso, resultou e bem.
Best-seller em Hogsmeade
Li algures que Hogwarts Legacy vendeu, em 2023, mais de 22 milhões de cópias. E 22 milhões é de facto relevante. Um sucesso de vendas que se prende certamente com as fortes marcas Harry Potter e Hogwarts, embora o jogo se afaste dos eventos que têm lugar nos filmes e nos livros da saga. É um jogo criado para um público específico, visto que muitos dos elementos são quase auto-explicativos, mas Hogwarts Legacy tem também o poder de fazer Accio sobre novos jogadores, ainda pouco familiarizados com o contexto e as obras originais. Admito que o efeito nostálgico de uma geração que esperou muito tempo para visitar Hogwarts na primeira pessoa possa ter um efeito nestes resultados, mas a qualidade está lá, a expansividade está lá e todos os elementos que nos cativaram pela primeira vez também lá estão.
Estou na segunda viagem no jogo, desta vez com uma nova personagem e numa nova equipa. Inicialmente, completei o jogo com assumindo o símbolo dos Gryffindor, a minha equipa do Wizarding World (então Pottermore), mas agora decidi percorrer a história na pele de um aluno dos Ravenclaw, outra equipa com a qual me identifico bastante. Como se ainda não oferecesse conteúdo suficiente, Hogwarts Legacy tem a vantagem de reservar cenários e conquistas para determinadas circunstâncias, nomeadamente dependendo da equipa a que o jogador pertence, dando-lhe a oportunidade de explorar o jogo por quatro vezes, descobrindo sempre algo novo. Como não sou fã de repetir o jogo por várias vezes, muito menos seguidas, creio que Hogwarts Legacy tem material para durar muitos e bons anos. Em poucas palavras: Se por acaso alguma vez quiseram fugir, mesmo que por breves momentos, para o mundo mágico de Hogwarts, aqui está uma excelente oportunidade para o fazer! Acreditem, mesmo ao fim de tantas horas, continua sempre a valer a pena.
E é isto! Seja a correr pelos corredores de Hogwarts, a explorar a Torre dos Gryffindor, a fazer compras em Hogsmeade, a desbravar a Floresta Proibida ou a percorrer quilómetros de vassoura ou à boleia de um hipogrifo, Hogwarts Legacy oferece-nos praticamente tudo o que podíamos querer. Praticamente tudo, porque o Quidditch continua em falta. Lembro-me do quão divertido era o jogo de Quidditch de Harry Potter e não deixei de sentir falta desse elemento em Hogwarts Legacy. Quem sabe algo do género esteja pensado para breve… Assim espero! E, pelas barbas de Merlin, ia ser muito bem recebido!