Parece-me legítimo afirmar que a fase quatro do universo cinemático da Marvel está longe de ter sido um sucesso absoluto, ora vejamos: Eternals gerou críticas como ainda não tínhamos visto no MCU, Black Widow simplesmente não convenceu, Thor: Love and Thunder foi um desperdício e até mesmo Doctor Strange in the Multiverse of Madness e Black Panther: Wakanda Forever tiveram recepções mornas para o hype que geravam. No cinema só mesmo Spider-Man: No Way Home e a surpresa Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings conseguiram convencer categoricamente os fãs.

Já na televisão o balanço até parece ser mais positivo, com boas recepções a WandaVision e Loki e recepções mornas a The Falcon and the Winter Soldier, Hawkeye e Moon Knight. Mas os mais recentes Ms. Marvel e especialmente She-Hulk: Attorney at Law foram completamente arrasados pelas críticas.

E isto marca um novo desafio para Kevin Feige e para a Marvel Studios, já que se nas fases anteriores as críticas negativas ao Marvel Cinematic Universe vinham essencialmente de fora da sua base de fãs, com o decorrer desta fase quatro o desagrado começou a ser manifestado pelos efetivos consumidores destas produções, o que, naturalmente, tem outro impacto. Com tudo isto, a fase cinco do MCU ganha uma importância e uma atenção especial já que é preciso dar a volta a um momento menos positivo e captar novamente as boas graças dos fãs, sendo que o pontapé de saída desta nova fase dá-se já hoje com a estreia de Ant-Man and the Wasp: Quantumania.

E comecemos a análise propriamente dita por abordar já o elefante na sala: Quantumania não vai calar as críticas nem será o sucesso inequívoco e conciliador que a Marvel Studios precisa neste momento, mas, pelo menos para este vosso escriba, é uma boa primeira entrada na fase cinco do MCU que cumpre o objetivo a que se propõe: entretém, diverte e lança definitivamente a primeira pedra para o grande arco da saga do multiverso.

Não significando isto que o filme não tenha os seus problemas, que os tem. Por exemplo, o argumento é demasiado simplista, leva-nos do ponto A ao ponto B sem grandes surpresas, não está muito preocupado em dar grandes explicações e não tem qualquer prurido em pedir ao espectador um punhado de ‘saltos de fé’ sendo que até os diálogos são, aqui e ali, demasiado fast food. Mas se isto pode ser um entrave para que o filme colha frutos fora dos fãs da Marvel, a verdade é que para quem está familiarizado com estes universos e com estes personagens, esta simplicidade do argumento não fere assim tanto o filme até porque é compensada noutras vertentes.

Por exemplo, a nível visual o filme é um portento. Com a enormíssima maioria dos seus 125 minutos a decorrerem no Quantum Realm, este Quantumania é visualmente muito diferente das entradas anteriores do Ant-Man, que eram marcadamente citadinos. Aqui estamos mais em linha com o registo visual dos Guardians of the Galaxy, dos Thors do Waititi ou das galáxias distantes de Star Wars. E funciona na perfeição, especialmente na monumentalidade de um IMAX 3D.

Onde o filme também compensa o argumento mais simplista é na qualidade das interpretações. Até podemos dizer que Paul Rudd está no seu registo habitual e que tendo este Quantumania consideravelmente menos carga humorística que os filmes anteriores, acaba por se destacar menos. De igual forma Evangeline Lilly e Michael Douglas são menos ativos neste filme até porque agora têm que dividir o espaço dos secundários com Kathryn Newton e Michelle Pfeiffer. E ainda bem, já que Michelle Pfeiffer faz um papelaço com a sua Janet Van Dyne, que é naturalmente vital para a narrativa que nos querem contar, e só não arrecada o título de melhor interpretação do filme porque há um conquistador que se eleva a um nível extraordinário.

O season finale de Loki já tinha servido um aperitivo com a fantástica interpretação da variante de Kang por lá conhecida como ‘aquele que permanece’, mas aqui Jonathan Majors aproveita o maior tempo de ecrã para nos convencer a todos que é a escolha perfeita para interpretar Kang e as suas variantes.

Com tanto de altivo e carismático como de impiedoso e cruel este Kang de Quantumania tem entrada direta no top de vilões e a performance de Jonathan Majors é indiscutivelmente das melhores que já tivemos o prazer de assistir em todo o MCU. Rouba completamente o protagonismo do filme, mas mais importante do que ser o melhor que Quantumania nos oferece, a atuação Majors é o melhor prenúncio que podemos ter para o futuro da saga do multiverso e do MCU em geral.

Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania estreia hoje nas salas de cinema portuguesas.

CONCLUSÃO
Quantumania
7
Redação
Veterano nestas andanças, acompanhou de perto a guerra entre a SEGA e Nintendo, e sonha um dia com o regresso da estrela cadente Ristar.
homem-formiga-e-a-vespa-quantumania-analiseEm suma, “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania” cumpre com aquilo a que se propõe e, apesar de alguns defeitos, é um pontapé de saída interessante para a quinta fase do universo cinemático da Marvel.