Quando vi Horizon Zero Dawn ser apresentado na E3 2015, duvidei do que estava a ser apresentado, tal era a complexidade gráfica do motor Decima. Dois anos depois, consegui vivenciar na Playstation 4 tudo o que foi mostrado no grande ecrã, naquele que foi o projecto mais ambicioso da Guerrilla Games até a data, espantado como nunca.
A construção deste mundo onde habita Aloy e as restantes tribos, coexistindo com máquinas assassinas que outrora eram utilizadas para bem do ser humano, impactou os jogadores de uma tal forma, que imediatamente passou a ser uma das obras mais vendidas e desejadas da Playstation Studios.
O mundo pós-apocalíptico de Horizon é visualmente deslumbrante, com paisagens variadas e detalhadas, que vão de florestas exuberantes com um passado de grandes urbanizações, a cumes altos carregados de neve e mistérios a serem desvendados, como caldeirões que vão contando aos poucos as origens das máquinas, assim como a história da nossa protagonista e do passado daquele universo. A análise do jogo e da sua narrativa foi feita na Squared Potato, e caso pretendas saber mais do universo de Aloy, aconselho-te a ler o artigo da Andreia. O foco da análise passará pelas questões técnicas, e na minha experiência ao experienciar as diferenças de Horizon Zero Dawn sete anos depois, numa nova versão nativa para Playstation 5 e PC. A versão analisada foi a de consola.

A ideia de um remaster de Horizon Zero Dawn parecia completamente tresloucada quando começaram a circular os rumores quase certos pela internet, no entanto; confirmou-se. Será que valeria a pena uma remasterização de um dos jogos mais bonitos já feitos? E mais: o jogo já havia sido lançado para PC, onde os detalhes gráficos são espremidos ao máximo, e também teve uma actualização que desbloqueasse os tão desejados 60 quadros na Playstation 5; tudo achas para a fogueira. A controvérsia passou, e o jogo chegou-nos às mãos num trabalho belíssimo da Guerrilla e principalmente da Nixxes, que fazem valer os teus 10€ de upgrade, sem grandes precipitações. Sou daquelas pessoas que adoro enganar-me. Ao criar uma imagem idealizada do que seria este upgrade, consegui evitar a frustração e desilusão, e fico ainda mais contente quando são enganos destes que me contrariam de forma implacável, e fazem valer a pena.
Horizon Zero Dawn Remastered dispõe de três modos de jogo: Desempenho, que inferioriza um pouco a fidelidade em prol dos quadros por segundo, correndo com 60 quadros limpinhos e uma resolução base próxima dos 1800p, sem qualquer tipo de quedas durante a minha gameplay. O famoso modo Resolução, que entrega os 4K/30fps. Por fim, o modo equilibrado, que tal como o nome indica, tenta harmonizar um equilíbrio entre desempenho e gráficos. Este modo, irá também depender do tipo compatibilidade de ecrã que tens disponível. A minha experiência foi 95% jogada no modo Desempenho, onde não notarás grandes diferenças dos restantes, e ainda tens a vantagem de uma fluidez tremenda no que toca a jogabilidade. Poucas foram as vezes que trocava para o modo Resolução, apenas para captar algumas fotos de paisagens e pormenores incríveis que este jogo nos entrega a todo o momento.
E as mudanças são radicais em muitos pontos gráficos do jogo. É como se pegassem no melhor de Forbidden West, e trouxessem para Zero Dawn. O material de nova geração está todo aqui. O terreno está muito mais vivo, renovado, com novos assets como plantas, jamais presentes no primeiro, entre outros detalhes imperdíveis da natureza. Simples detalhes que não estavam presentes na obra original, como moveres a Aloy pela vegetação e teres uma reação das plantas ao toque dos movimentos.

As áreas do jogo como Meridian – a cidade do Sol -, está aprimorada com novas texturas nas paredes e até na própria calçada, com altos e baixos, detalhes que dão um realismo extra de nova geração. Também podemos denotar o mesmo refinamento nas áreas geladas como os cumes, e ao contrário do jogo original, agora as roupas da protagonista ficam cobertas de neve, que podem intensificar o volume à medida da força da mesma.
Se um dos pontos fracos de Horizon Zero Dawn no quesito visual era a água (algo colmatado em Forbidden West com um dos melhores sistemas de água já vistos até à data), a diferença é extrema. De uma baixa resolução, passamos a detalhes em que podemos experienciar o seu fundo, com reflexos que mostram ao detalhe o ambiente aquático nos pequenos lagos ou grandes riachos. Não está ao nível do seu sucessor, mas isso seria difícil. No entanto, impressiona, e é notório se compararmos lado a lado o original e este remaster.
Um dos factores-chave que tem garantido resultados impressionantes nesta geração de consolas, é a magia da iluminação. Foram usadas técnicas novas aqui, reflectidas principalmente no mundo metálico, e nas grutas com pequenos feixes que demonstram o seu poder. As sombras são mais subtis e precisas, e o que já era gracioso aos olhos quando as máquinas portentosas exibiam as suas cores vivas metálicas nos pequenos realces do sol no jogo original, tornam-se agora um completo primor de nova geração.
Os personagens também foram melhorados. Algumas das linhas continuam esquisitas quando representadas pelos movimentos de algumas personagens dos actores e atrizes do jogo, mas outras tantas foram drasticamente melhoradas; acabaram os movimentos rígidos e o olhar vazio dos NPCs quando conversavam connosco. Texturas novas, pele e roupas mais realistas e naturais: A Aloy, conta com aquela penugem de Forbidden West que tanta polémica criou (imagine-se), e com o cabelo espantoso quase ao nível do segundo jogo da franquia. Também foram capturadas novas horas de movimentos, precisamente para causar essa sensação mais natural criticada do jogo original, daí as animações faciais estarem muito próximas ao que é Forbidden West.

Um dos pontos extra a apontar que parece cada vez ser menos apreciado nos jogos da Playstation com o passar dos anos desta geração, é a implementação dos movimentos nos gatilhos hápticos, muito bem aplicado aqui. O comando comunica contigo quando fazes o teu scan, e consegues sentir a força de algumas das armas com o layout sensorial habitual dos jogos da Sony. O áudio também foi reformulado, muito mais vivo e sentido em pleno no seu sistema 3D. Nunca soube tão bem sentir a flora tão viva de Horizon Zero Dawn.
A grande questão se este remaster valia de facto a pena ser feito, gastando recursos que poderiam ser implementados em outros títulos, cabe aos senhores de fato e grava que gerenciam as propriedades intelectuais da Sony, e como qualquer outro negócio, são os números que interessam. A franquia Horizon é um dos maiores sucessos da Playstation Studios, e é notório tanto pelo apreço que os outros jogos lhe dão, como pelo serviço de excelência que a Guerrilla (e agora a Nixxes) têm apresentado. Se me perguntassem se este remaster valia a pena? Definitivamente diria que não, tal é a beleza do primeiro jogo. No entanto, após experienciado e devorado, e de constatar que com um upgrade de 10€ consegues ter uma experiência visual verdadeiramente de nova geração numa Playstation 5, diria para nem pensares duas vezes.
Agradecemos à Playstation Portugal por nos ter cedido esta chave para análise, para a plataforma PS5.