Começo esta análise por referir que nunca fui grande fã dos filmes de Adam Sandler, pelo menos não tanto quanto muita gente que conheço. Também não é que desgoste dos filmes do actor, embora pareca que no que toca a Adam Sandler a comunidade divide-se entre amá-lo ou odiá-lo.
Vi muitos filmes do actor sim, mas nomeadamente naqueles sessões de domingos à tarde na SIC, quando ainda não existiam serviços de stream ou quando nem podias pesquisar na programação da semana outra coisa para ver. Conclusão: vi muitas vezes os mesmos filmes, ri um bocadinho nas primeiras vezes, provavelmente se apanhasse um desses filmes hoje em dia ainda ia deixá-lo a passar na TV, mas não é aquela coisa de “tem o Adam Sandler!” que muita gente grita à mínima oportunidade de o referir.
Com isto, o pretexto que ouvi quando fui ver Hubie Halloween na sua estreia na Netflix, foi precisamente esse: “tem o Adam Sandler!”. Mas vá, pensei eu, como o tema é Halloween pode até ser divertido. E em parte foi! Não digo de todo que desgostei, pois tivemos intriga, suspense, cenas bastante interessantes que demonstraram potencial para catapultar o filme, e facetas cómicas que fizeram render o seu tempo de antena ao espectador. Mas, em contra partida, tivemos um cheesiness molengo em tudo o que tocava Hubie, a personagem de Adam Sandler.
Esta é uma personagem que propositadamente tem este efeito de kill mood, devido à sua total ingenuidade e inocência, e que por vezes anula a atmosfera em construção. Temos então aqui uma certa dicotomia, sendo que se em parte a personagem foi um pãozinho sem sal, o argumento escrito por Adam Sandler polvilhou esta produção com pequenas coisas que nos adoçaram o gosto e nos tiraram o ar dos pulmões de rir. Pequenas coisas que levamos deste filme para relembrar e rir mais um pouco.
A que sobressai mais à atenção é sem dúvida aquele termo (vulgo recipiente) estupidamente útil que Hubie transporta e que detém quase tudo o que é engenhocas possíveis de imaginar lá dentro. Go-go gadget umbrella! Não? Franquia errada desculpa. Mas a sério, se um dia fizerem um kit de sobrevivência edição Hubie Halloween, eu quero aquele termo!
Não querendo entrar em outros detalhes sobre as cenas cómicas que te esperam, digo apenas que também vale a pena prestar muuuuita atenção ao vestuário de certas personagens, como o da mãe de Hubie. Também prevejo muita gente a ficar fã e a querer arranjar esse merchandise, só não o levem para o trabalho!
Mas, sendo que já falámos da dicotomia da prestação de Adam Sandler no filme, e da sua comicidade, então qual é a parte do Halloween que se enquadra nisto? Qual é o propósito de Hubie no meio disto tudo? Bem meu caro, Hubie só tem uma missão na vida: garantir que toda a gente da sua comunidade está a salvo. Desta forma, o personagem é altamente bondoso mas também crítico em relação a qualquer infração que ameaces sequer cometer. Do género: Pisaste na relva? Vou já falar com o cherife e vais ser devidamente punido! O típico “bufo” que nem a polícia atura porque levanta suspeitas por tudo e por nada. Com isto, toda a comunidade está bem ciente desta fixação de Hubie, e por isso muitos gostam de picá-lo, e de o humilhar, porque apesar de tudo, o personagem é algo frágil, assustadiço, já detendo no entanto crescido a cooperar com esse tipo de situações, e tudo graças àquele fantástico termo!
Já em termos de Halloween, (e não falando em termos de termos, mas em termos de temática) este filme é passado nessa respectiva época, mais concretamente na afamada cidade de Salem, muito conhecida pelo seu passado Histórico com a perseguição às bruxas, das quais Hubie é descendente. Dito isto, temos sempre um pano de fundo que explora esse tema em particular, mas temos também lobisomens, uma espécie de pseudo-slasher que vai causando algumas vítimas ao longo do filme, e claro, um noite de festa com casas assombradas e miúdos a fazer doçura ou travessura.
No que toca à parte do slasher e do lobisomem, estes têm em toda a sua volta construídos momentos que reflectem uma boa produção, nomeadamente em construção de alguma tensão aliada aos cenários em que se encontram. Geram uma intensidade interessante que por vezes te faz esquecer que estás a ver uma comédia. De facto, parecem revelar discretamente algumas referências a grandes ícones do género do terror, dando falsas esperanças de que Hubie Halloween cresça para se tornar numa obra além de algo que pode ser considerado para maiores de 7 anos.
Para impulsionar essas cenas, temos a presença de várias caras conhecidas, como Steve Buscemi como Walter Lambert, um novo vizinho recém-chegado muito estranho e peculiar que pede a Hubie para não intervir caso esse ouça alguém a gritar dentro da sua nova casa. Julie Bowen que parece destinada ao papel de mãe, quer aqui quer em Uma Família Moderna. Devo dizer que não gostei muito da sua interpretação como Violet, qual foi tudo menos natural, demasiado forçada por vezes.
De mencionar ainda é que Ben Stiller e Rob Schneider também fazem umas aparições curiosas, mas com pouco tempo de antena, entre outras caras conhecidas que te irão surpreender.
Noah Schnapp, o nosso Will de Stranger Things, desempenha aqui o papel de Tommy, um dos filhos adoptivos de Violet. Um rapaz que está muito crescido mas continua adorável no ecrã. Este no entanto era um papel a ser desempenhado por Cameron Boyce, se o actor não tivesse falecido devido a um grave episódio de epilepsia, dois dias antes de começarem as gravações deste filme.
Hubie Halloween já está disponível na Netflix.