Indiana Jones and the Great Circle é apontado como o grande regresso de um personagem icónico do cinema no mundo dos videojogos. O novo título da saga tem todos os ingredientes para apimentar uma aventura com contornos surpreendentes que, certamente, irá agradar os fãs de longa data. Será que é o suficiente para garantir um lugar “num museu”? Ou ficará guardado num lugar recôndito para não ser mais experienciado? Eis o veredito da Squared Potato…

15 anos depois, Indiana Jones está de volta a ser controlado através das mãos dos jogadores. Parece mentira, mas o anterior título – Indiana Jones and the Staff of Kings – saiu em 2009 na Wii, Playstation 2, PSP e Nintendo DS. Chegou a ser planeada uma versão para a Playstation 3 e Xbox 360, mas não chegou a bom porto. A indústria dos videojogos, entretanto, evoluiu e o personagem esteve algo caído no esquecimento, tendo em conta o seu legado intemporal na cultura pop.

No entanto, em 2021, houve um anúncio: foi divulgado que a Bethesda e a desenvolvedora MachineGames iam colaborar no próximo capítulo de Indiana Jones nos videojogos. Três anos depois – e com um silêncio ensurdecedor por parte de ambas – Indiana Jones and the Great Circle chega-nos, primeiro, à plataforma Xbox e PC sob a forma de um jogo de ação-aventura na primeira pessoa.

Decisão polémica nos olhos de alguns fãs. É a primeira vez que Indy é , maioritariamente, controlado num registo de um “first person adventure”. Convém recordar que os estúdios MachineGames são conhecidos pelos seus “first person shooters” como Wolfenstein: The New Order e as suas sucessivas sequelas. Tendo em conta o historial dos desenvolvedores suecos, seria surpreendente se optassem por outra rota que não esta.

No entanto, a câmera recua em certos momentos como um uso do chicote para superar um obstáculo físico, ou então, quando o personagem sobe escadas.

“Simulador Indy”

Como divulgado em alguns trailers, a primeira sequência de Indiana Jones and the Great Circle é uma recriação da abertura de Raiders of The Lost Ark. Apesar do óbvio “fan service” por parte dos desenvolvedores, creio que tenha sido uma ótima decisão no que diz respeito a um “guia rápido” de como controlamos Indy neste jogo. É-nos apresentado algumas das mecânicas que iremos usar durante a nossa aventura e diz-nos também que os quebra-cabeças também terão um papel fundamental.

É, de facto, impressionante contemplar os cenários da América do Sul no Motor – uma versão personalizada do motor de jogo Id Tech 7 – assim como os personagens que participam nessa abertura do primeiro filme de Indiana Jones. Aliás, já existe pela internet fora, vídeos de comparação e é, realmente, um trabalho minuncioso de fotograma a fotograma.

Já que estamos a fazer comparações: Troy Baker dá voz ao icónico arqueólogo. Apesar da elevada exigência que é substituir Harrison Ford, o dobrador executa de forma perfeita. Em todo o jogo, nunca senti que estivesse a ouvir o Troy Baker. Só escutava o “verdadeiro” Indy em todos os momentos. Aliado com a própria escrita do argumento repleto de reviravoltas, Indiana Jones and the Great Circle é, mesmo, uma grande aventura do Indy. E o melhor: podemos vivê-la com os olhos do protagonista. O restante elenco faz também um trabalho exímio, digno de uma grande produção vinda de Hollywood.

Exploração é a palavra de ordem

Viajamos um pouco por todo o mundo em busca de artefactos com um objetivo maior: descobrir o poder que o Grande Círculo detém. Neste videojogo, existem duas componentes fundamentais que sustentam a jogabilidade: o combate e a exploração.

Apesar da vertente quase hercúlea de Indy, o combate é o aspeto mais díficil de entranhar. Não me interpretem mal: o combate está bem conseguido, tendo em conta o contexto do qual estamos inseridos. Não somos B.J. Blazkowicz, somos Indiana Jones e, tal como os filmes, desenrasca-se como pode para derrotar os nazis, mas é um autêntico saco de pancada. Para além dos nossos punhos e do fiel chicote – utilizada para desarmar soldados nazis – usamos utensílios diversos num registo furtivo. Em momentos que defrontamos os “bosses” aí é que a tarefa complica um pouco. Notei que tinha que ser um pouco mais metódico relativamente ao combate e, por conseguinte, só consegui passar após múltiplas tentativas. Se bem que, mal os derrotámos, foi uma sensação de superação incrível. Pelo menos, foi o que senti mal venci o boss final.

A exploração é um dos trunfos de Indiana Jones and the Great Circle. As missões secundárias de cada zona que visitamos está repleta de segredos por descobrir. Apesar das habituais “fetch quests”, a maior parte dessas missões complementam a trama principal do jogo e estão aliadas com cutscenes, maiortariamente, bem dirigidas. Explorar também dá benefícios ao próprio Indy. Conseguimos aumentar a nossa barra de resistência, assim como a própria barra de vida.

Isto para não falar que cada um dos locais que Indiana Jones visita é deslumbrante em termos gráficos. Dá imenso gosto em vasculhar cada recanto. Os quebra-cabeças são quase todos bem desenhados e, mal conseguimos decifrá-los, representa uma libertação de dopamina no nosso corpo (acompanhada sempre ao som da banda sonora a condizer).

Já que estamos no tópico da música: o compositor Gordy Haab consegue, mais uma vez, triunfar. O norte-americano tem sido responsável por quase todas as bandas sonoras dos videojogos do universo da Lucasfilm – por exemplo, os dois jogos Star Wars Jedi Fallen Order e Jedi Survivor – e Indiana Jones and the Great Circle não foi excepção, mesmo com a difícil tarefa que é compor, sob a herança musical de John Williams.

Apesar do trabalho facial dos personagens e dos próprios cenários estarem bem feitos, há um elemento que me deixou a desejar neste jogo e é muito específico: o momento em que podemos apanhar um corpo de um inimigo com intuito de escondê-lo de outros, é desajeitado. Inúmeras situações em que surgem pequenos bugs gráficos, aquando da animação do Indy em pegar um nazi do chão para pô-lo nas suas costas. Foram os únicos momentos em que retiraram-me da ótima experiência que estava a ter. Para vos ser franco: parecia algo retirado de um jogo dos anos 2000.

Indiana Jones and the Great Circle já está disponível para a Xbox Series X|S, e na STEAM para PC. 

CONCLUSÃO
Simulador Indy no seu melhor
9
indiana-jones-and-the-great-circle-analiseIndiana Jones and the Great Circle é mesmo o melhor jogo deste IP já alguma vez feito. A estória e as personagens são cativantes e denota. A jogabilidade focada em resolver quebra-cabeças em túmulos ou em grutas e esmurrar nazis a belo prazer permite-nos viver a experiência definitiva em "sermos" Indiana Jones. Mesmo que não sejam fãs, o jogo é obrigatório para quem adore experiências single player e, a meu ver, a porta de entrada ideal para o mundo do arqueólogo mais conhecido da cultura pop.