Numa época tão ligada à religião como o Natal, nada seria mais adequado do que pensarmos que existe um jogo ligado a… Freiras. 

Óbvio que quando pensamos em freiras, garantidamente, não associamos as mesmas a um jogo, muito menos a um videojogo. Contudo, Indika utiliza como personagem principal isso mesmo: uma figura do clero por quem somos responsáveis, figura essa que, desde o início, vemos que não será a idealização perfeita do que será uma freira.

Indika é-nos trazido por Odd Meter, o que talvez não nos diga muito, e publicado pela 11 bit studios, a qual nos traz títulos como o bem conhecido Frostpunk. Já nos dá uma ideia do ambiente que vamos encontrar.

Se a apresentação inicial nos faz pensar “Que raio estamos nós a jogar?” também é isso que nos acaba por fazer avançar mais e mais na história.

Como mote geral de toda a história, somos Indika, uma freira que se encontra num mosteiro e onde não é benvinda por nenhuma das suas companheiras, por razões que, ao inicio, nos são desconhecidas. Já agora, podemos dizer, também, que Indika tem a particularidade de falar com o Demónio – talvez seja por isso que seja vista com maus olhos…? 

Numa das muitas enfadonhas tarefas que Inika tem de realizar como parte do seu dia a dia, é-lhe designada a tarefa de levar uma carta a um mosteiro próximo.

Estando o país em guerra, numa versão um pouco alternativa de uma Rússia do século XIX, Indika encontra um soldado ferido que se torna o seu companheiro. Aqui conhecemos Ilya, personagem que será usada em alguns quebra-cabeças, mas que Indika irá seguir para levar a bom porto a entrega da famigerada carta.

A maior parte das interações com Ilya fazem com que todo o enredo avance e, até ao final da história, serão personagens, digamos, inseparáveis.

Durante esta jornada, toda a vida de Indika é levada como uma gamificação, onde todas as tarefas realizadas nos dão pontos: com pontos suficientes podemos subir de nível para ganhar novas habilidades, e onde vamos sempre escolher entre um lado mais humilde e um lado mais ganancioso.

Ganhar pontos acaba por ser fácil: falamos em rezar junto de figuras religiosas, acender velas junto de pequenos altares, aprender através da leitura de livros sobre santos. Esta gamificação é, também, levada a cabo em flashbacks que são representados num ambiente 2D, onde vemos cenários passados e interactivos da vida de Indika, cenários estes que nos dão pistas sobre o nosso presente.

Os quebra-cabeças que nos são apresentados não são nada que não se consiga ultrapassar após quatro ou cinco tentativas; alguns são bem conseguidos, outros acabamos por os fazer de forma tão automática que nem damos pelo final dos mesmos. Se estão à procura de algo realmente desafiante, Indika não é o que procuram.

Contudo, temos muito estilos de desafios que passam, por exemplo, por plataformas 2D e 3D, puzzles, labirintos sobre pressão de sermos apanhados por um animal enraivecido… Mas, acima de tudo, muitos quebra-cabeças ambientais, onde alguns são bastante realistas e outros… Acontecem na mente distorcida de Indika. 

Até agora tudo parece fazer crer que Indika não será uma boa aposta; contudo, se gostam de novelas gráficas que vos deixem a pensar e se gostam de histórias com direito a interpretação do jogador, vão realmente gostar de Indika

A forma como o jogo nos consegue colocar desconfortáveis em algumas situações, como alguns quebra-cabeças que, apesar de não serem complexos, nos incutem stress, como as cenas em 2D que se tornam estranhas mas, ao mesmo tempo, necessárias, como as partes de oração quase que nos obrigam realmente a orar, tornam a experiência, deveras, única!

Acreditem que o final do jogo, talvez os últimos 20 minutos, nos deixam a pensar em todo o percurso e, talvez, a tal freira maluca com quem passámos os últimos tempos tinha um propósito na sua vida que ajudámos a alcançar.

Em termos gráficos, tivemos experiências diferenciadas. Desenvolvido em Unreal Engine, alguns dos aspectos gráficos foram bastante bem conseguidos: as marcas deixadas no solo coberto de neve, a luz em zonas mais sombrias ou as alturas de oração, tornam o aspecto e apresentação gráfica bastante bem conseguida. Também o uso de câmaras menos usuais e as cenas em motor de jogo fazem a apresentação ter o seu quê de único.

Contudo, existem alturas em que parecemos estar a jogar um jogo digno de uma PS2 ou PS3, com modelos bastante rígidos, muito “quadradões” e que, por vezes, parecem, até, desajustados do resto do ambiente.

Estamos a falar de um jogo que tem opções tecnológicas como DLSS e que, no outro lado, tem texturas abaixo da média, o que acaba por ser um contrassenso.

A parte boa é que a performance e otimização acabam por ser bastante boas, quer seja jogando num PC ou na Steam Deck – não tivemos qualquer tipo de problemas de performance. Existe incorporado no jogo, também, um modo fotografia com bastantes opções e em muitos locais do jogo existem bancos onde nos podemos sentar a contemplar o mundo em nosso redor.

Também tivemos a chance de testar o título na sua versão nativa de PS5, e desde a última actualização que se encontra completamente estabilizado para um desempenho com poucas quebras de quadros. O jogo corre a 60 frames por segundo, numa versão sólida que nada fica atrás das versões de computador com opções de gráficos acima do padrão de consolas.

Para contrastar com os gráficos, temos todos os diálogos, com a representação a ser feita de forma muito forte – o narrador, com diálogos bem conseguidos, a personagem principal que consegue transmitir perfeitamente as sensações necessárias para que a novela se desenrole e sintamos aquilo que é suposto, as personagens secundárias também com um bom fluxo. Todo o áudio foi muito bem conseguido.

Os controlos são bastante básicos: passamos a maior parte do tempo a ir do ponto A para o ponto B. Temos de fazer algumas acções e, para isso, usamos alguns comandos adicionais mas nada de especial, já que sempre que existem acções para fazer, existem ajudas visuais para nos indicar os botões/teclas necessárias.

Indika não será um jogo que agradará a todos. O tema religião é mais que óbvio que irá dividir muitos e afastar outros tantos. 

Contudo, Indika é, sem dúvida, um jogo único onde a forma como a história é apresentada, o facto de deixar em aberto a mesma, de dar ao jogador a interpretação que quiser sobre o final e, acima de tudo, deixar o jogador a pensar, é o ponto fulcral de Indika. 

Durante certas partes do jogo senti que estava a jogar algo relacionado com o Swiss Army Man – nada fazia sentido mas, ao mesmo tempo, fazia, e sempre me senti motivado por esse sentimento.

No final, posso dizer que fiquei confuso, senti-me reconfortado, iluminado quando percebi a mensagem final e, acima de tudo, curioso por saber que significado os outros jogadores deram a toda esta experiência.

Cópia oferecida gentilmente pela Keymailer, a qual agradecemos profundamente: https://www.keymailer.co

CONCLUSÃO
Uma experiência imersiva
7.2
indika-analiseMais uma vez, vemos que um jogo não tem de ser uma maravilha gráfica, quando os recursos são colocados nos sítios que vão influenciar a experiência e, em suma, é isso mesmo que Indika é: uma experiência jogável e, apesar da sua duração ser por volta de três horas, é uma experiência a recomendar.