Viagens interestelares vão deixando aos poucos um nicho na cultura pop, destacando-se cada vez mais como um género muito forte quando bem executado, onde as melhores experiências vão nos acompanhando sempre num cantinho especial, com um pouco do seu legado, tanto nos videojogos, como no cinema. Se nos videojogos temos títulos marcantes como a saga Mass Effect, Elite Dangerous, Outer Wilds ou até o polémico No Man’s Sky, no cinema alguns dos melhores clássicos da história da sétima arte são do género espacial, como é o caso de 2001: A Space Odyssey, Lunar, a saga Alien ou até o mais recente Interstellar, uma das fortes inspirações neste pequeno título da Superbrothers.

Inspiração espacial, e ambientação resplandecente

A ambientação e toda a construção do seu peculiar universo, junto de uma experiência audiovisual muito poderosa bem ao estilo do brilhante filme de Christopher Nolan, emergem-nos por completo desde o início da jornada, desde a saída do nosso pequeno lar, até ao imenso e desconhecido planeta oceânico ao qual a nossa protagonista com os seus companheiros e tripulantes, vê como destino e salvação de toda a humanidade.

Controlamos Mei, uma astronauta muito misteriosa pronta a dar os primeiros passos na procura de um lar pela salvação da sua espécie, após a sua equipa receber um misterioso sinal alienígena denominado por hymnwave, algo que se torna uma obsessão, já que pensam ser uma resposta natural, ou até um convite nesta procura por salvação da humanidade. Sem qualquer informação sobre o seu destino, os astronautas partem a centenas de anos-luz, com a melhor das esperanças de verificar um planeta habitável, e com uma fauna idêntica ao seu lar.

O desenvolvimento da história é lento mas muito intrigante, cheios de momentos de narrativa cinemática em primeira pessoa. Algumas das maiores dúvidas que vão surgindo são apenas resolvidas perto do fim e outras vão ficar por resolver a depender do vosso ponto de vista, pelo menos foi o que senti durante a jornada espacial com cerca de 11 horas.

A bordo de um conceito de jogabilidade minimalista alimentado pelo Dualsense

Centrando todos os elementos de jogabilidade nessas 11 horas (aproximadamente) de jogo, perguntar-me-ão como funcionará a jogabilidade. Essencialmente, Jett: The Far Shore é jogado a maior parte do tempo em terceira pessoa, a bordo da nave, e muito pouco em primeira pessoa, já que esta transição acontece apenas em momentos de narrativa entre personagens, e exploração muito vaga de algum elemento no cenário, mas sem qualquer interação excessiva. Este conceito de transformações de jogabilidade brinca muito bem com a perspetiva, trazendo sempre à tona aquela sensação que todos nós por algum momento já sentimos naqueles momentos mais agreste das nossas vidas: a pequenez e incapacidade do humano face à grandeza da fauna planetária.

A jogabilidade não é de todo inovadora, com controlos pouco responsivos. É a bordo da nave que dá nome ao jogo (Jett), que todos os sentidos de progressão, descoberta e conquista acontecem, começando pelo Dualsense da Playstation 5 (versão jogada nesta análise) que se estreia num jogo de temática espacial com algumas das suas features, com grande categoria. Os movimentos de arranque, aceleração e travagem da nave são sentidos com diferentes sensações na ponta dos vossos dedos, trazendo assim outro tipo de imersão, combinando de forma brilhante no género, levando-me a pensar como será um próximo Ace Combat ou Wipeout com as funções deste comando, que nunca para de impressionar.

O display enquanto a bordo, é muito vago, com um HUD muito minimalista para que não vos falte campo de visão com alguma obstrução desnecessária. Além dos comandos de movimento que vos mencionei acima, também contarão com algumas ferramentas necessárias para poder explorar de forma mais completa este planeta oceânico, muitas vezes habitado por uma hostil flora. Além de uma lanterna que servirá logicamente para iluminar caminhos e interagir com alguns dos seres vivos, também existe uma ferramenta de reconhecimento, que permite analisar todos os comportamentos dos seres encontrados, assim como a forma de interacção com os mesmos. Após reconhecimento, ficarão a conhecer as fraquezas e qualidades de alguns dos elementos do planeta, podendo até usar uma ferramenta de grappling para transportar, combinar ou recolher informação necessária. Mesmo que tenha causado alguma impressão pelo estilo isométrico, este não é um shooter — muito pelo contrário —, a maior parte das vezes quererão evitar a todo o custo o contato com ameaças do planeta, dado que são extremamente fatais.

Algumas criaturas do planeta são enormes, fazendo do jogador um completo ser débil. Uma vez mais, esta sensação aborda-nos da melhor maneira e em algumas das melhores partes do jogo, momentos pensados ao pormenor pela Superbrothers. Esses segmentos de jogabilidade não acontecem sempre, e a bordo da nave, poderia existir alguma diversidade na exploração, com incentivo a seguir padrões diferentes. Infelizmente, não consegui sentir essa sensação, já que praticamente tudo o que se encontra, hora após hora, soa a mais do mesmo. Além da exploração, existem também uns quebra-cabeças interessantes e desafiantes.

Jogabilidade arruinada por graves problemas de performance

Este é o primeiro título que me trouxe graves problemas de desempenho na Playstation 5, desde que a adquiri. Com um conceito gráfico tão minimalista, poucos efeitos de partículas e iluminação, ainda assim este jogo usa e abusa de má performance com quedas de taxas de quadros absurdas, especialmente nos menus de navegação, ou em segmentos de fuga com alguns elementos extra na tela, em que tudo o que precisamos é precisão para a curva perfeita, e tal não acontece. Também acontecem quedas acentuadas no modo de primeira pessoa, no entanto, é bem mais perdoável, já que como anteriormente expliquei, estes momentos servem no geral apenas para introduzir alguma narrativa e pouco mais.

Ficaremos a aguardar uma actualização day one que traga mais de estabilidade e optimização, já que é algo completamente crucial para o estilo de jogo a que Jett: The Far Shore se propõe a entregar.

Jett: The Far Shore terá a sua estreia mundial a 5 de Outubro, para Playstation 5, Playstation 4 e PC (Epic Games)

Agradecemos imenso esta cópia de review, que foi gentilmente cedida pela Superbrothers.

CONCLUSÃO
OK
6
Igor Gonçalves
Curioso, explorador, e fã de videojogos desde que me lembro, e em especial pela saga Metal Gear. Não jogo plataformas, jogo jogos.
jett-the-far-shore-analiseJett: The Far Shore é um jogo extremamente intrigante, ideal para quem adora temáticas sobre exploração de faunas alienígenas. Trata-se de um título com um ambiente audiovisual ao nível das suas grandes inspirações da sétima arte, mas que peca imenso por graves problemas de desempenho que afectam o que seria uma jogabilidade cheia de simplicidade e imersão na sua proposta, num grande problema capaz de causar frustração, e umas boas dores de cabeça.