Vou começar este artigo com uma pergunta que, ironicamente, não é nada fácil: “O que define dificuldade num jogo?”
Ao reflectir sobre a questão, deverão constatar que existem diversas respostas possíveis:
- um desafio ao nosso raciocínio, reflexos ou domínio das mecânicas do jogo
- uma prova de esforço e dedicação
- uma jornada dolorosa que nos faz evoluir progressivamente
Desafio, dedicação, e evolução. Para mim, estas são as três características principais de um jogo difícil, de uma obra que pretende não só entreter, mas também ensinar uma lição ao jogador, e recompensá-lo intrinsecamente pelo seu desempenho exemplar — tal como a escola, mas mais divertido!

Imagem via vgr.com
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Contudo, existem jogos que procuram simplesmente humilhar-te, seja antecipando o jogador ou colocando-o em situações que exigem memorização ou, pura e simplesmente, são aleatórias. São jogos que troçam de ti, pelo que decidi chamá-los de “jogos troll“!
Um jogo… troll?
Para começar, gostaria de esclarecer que não conheço nenhum género de jogo chamado “troll”. O que se segue é uma opinião pessoal!
Quando me refiro a um “jogo troll“, falo de um jogo difícil… mas não pelos motivos “certos”! Seja por batotas, acontecimentos aleatórios, ou esquemas que exigem memorização, o “jogo troll” tenta sempre anular as acção do jogador do modo mais irritante possível. O “jogo troll” não procura desenvolver o jogador, mas sim troçar dele.

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No entanto, há “jogos troll” que, ironicamente, nos fascinam pela sua criatividade maligna e humor negro! E eu pretendo,com o artigo de hoje, apresentar três videojogos indie que te vão fazer sofrer de Síndrome de Estocolmo!
Nota: os dois primeiros jogos são gratuitos
I Wanna be the Guy
O que temos aqui é… (mais) uma homenagem a clássicos como Super Mario Bros., Mega Man e Street Fighter 2… perdão, deixem-me reformular! O que temos aqui é… um jogo de plataformas mais difícil que clássicos como Super Mario Bros., Mega Man e Street Fighter 2… combinados!

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Em I Wanna be the Guy, os comandos simples contrastam com as inúmeras armadilhas espalhadas pelos níveis, que antecipam qualquer jogada “esperada”.
E a sequela (Gaiden) não fica atrás! Aliás, confesso que pretendia falar dela, mas nem consegui entrar no primeiro nível…
Links e downloads
- I wanna be the Guy (Windows)
- I wanna be the Guy Gaiden (Windows)
Syobon Action (Cat Mario)
Mas que original, mais uma réplica do Super Mario. Está bem, vamos lá então despachar… isto?

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Em termos de conceito e armadilhas, Syobon Action é semelhante a I Wanna Be The Guy. Contudo, o jogo do gato recorre à familiaridade dos jogadores com Super Mario Bros. para… “brincar” com eles!
Aliás, chegar ao final dos níveis não devia ser o objectivo deste jogo. Portanto, seguem-se algumas sugestões minhas para não ficares frustrado:
- tentar passar o jogo, mas registando todas as maneiras de morrer que descobrirem!
- metam alguém a jogar por vocês, enquanto descrevem o jogo como “um Super Mario tal e qual, mas com um gato”!
- se passarem o primeiro nível, registem o número de vidas com que ficaram. Eu penso que tinha -100 quando o consegui — sim, “MENOS cem” vidas!
Links e downloads
- Syobon Action (browser, via gatobros)
- (Open) Syobon Action (browser, versão alternativa)
Lisa – um jogo que dói

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Na minha opinião, não há melhor exemplo de “jogo troll” que Lisa (the Painful). Disfarçado de RPG com plataformas, e com estilo visual antigo e inocente, este jogo leva-nos a desafios e decisões difíceis que nunca compensam (nem a longo prazo). Além disso, podem ainda ocorrer eventos aleatórios que prejudicam o jogador, mesmo em sítios “seguros”. Em alguns casos, até me questionei se fui alvo de uma partida ou de um bug! E cheguei a referir que, no maior grau de dificuldade, só podemos gravar uma vez em cada sítio?
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Recomendar este jogo não é fácil: além de todas as surpresas, Lisa é puro terror psicológico temperado com humor negro, com uma história perturbadora protagonizada por abusadores, drogados e psicopatas! Todavia, é tudo isto que faz de Lisa uma experiência original, marcante e inesquecível. E é por isso que estou muito grato por tê-lo concluído – mas duvido que conseguisse repetir tal feito!
Em suma, Lisa é incrível, mas pode MUITO FACILMENTE ferir a sensibilidade de alguns jogadores!
Links e downloads
- Lisa The Painful no Steam
Conclusão (?) – A arte do “troll”
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À semelhança de uma partida que se prega a um amigo, os três jogos de hoje destacam-se pela surpresa e humor que proporcionam. E com a sua ousadia e criatividade, não serão os “jogos troll” autênticas paródias aos videojogos em geral?
Nunca parem de surpreender, meus caros indie!