Penso que o mais importante no que toca ao primeiro jogo de uma equipa indie é o elemento de surpresa que podes dar tanto em trailers e anúncios, como quando as pessoas finalmente o jogam e experienciam depois do seu lançamento.
Hoje trago-vos o primeiro jogo de uma equipa pequena, maioritariamente conhecida por fazer animações de curta-metragens e anúncios.
Falo de Kena: Bridge of Spirits, um jogo que veio a gerar bastante interesse devido ao suporte de marketing da Playstation, que não só veio aumentar as espectativas das pessoas, como também aumentou a pressão para a equipa nos trazer um produto de qualidade.
Um mundo espiritual
Kena: Bridge of Spirits tem uma premissa bastante simples. Tu controlas Kena, uma spirit guide, que se encontra a caminho de uma pequena aldeia, que infelizmente foi consumida por uma corrupção. O teu objectivo é chegar à Mountain Shrine e libertar a aldeia e os seus espíritos da corrupção. A história está bem executada, mesmo não sendo o aspecto principal do jogo.
Tirando inspiração no histórico da equipa, temos aqui uma apresentação bastante próxima de um filme de animação, com cores vibrantes, cenários e paisagens com um detalhe exímio e uma arte coerente e super bem concebida. Penso que acertaram em cheio na apresentação geral, pois parece estar tudo desenhado de forma a fazer sentido e a ser natural para os olhos, sem quaisquer artefactos ou texturas menos boas que afetam a imagem geral.
Outro aspecto em que a equipa acerta são nas animações, especialmente no que toca a Kena. Desde a sua animação de saltar, até algo mais simples como sentar-se e interagir com os rot, tudo está animado com um extremo amor e detalhe. O único aspecto onde a animação falha são nas transições, onde temos muitas vezes um pequeno “encrave” e passa quase instantâneamente para a nova animação, sem muita fluidez.

Variedade na simplicidade
Penso que a melhor descrição para o jogo é que tem uma jogabilidade próxima de um jogo clássico da Playstation 2, e não no mau sentido.
O jogo tem uma base bastante simples, onde Kena é capaz de executar um duplo salto, fazer um dodge, bloquear com um escudo espiritual, um ataque básico, que pode ser repetido para um pequeno combo, e um ataque forte. Irás, mais tarde, desbloquear mais ferramentas, como um arco, que te dão mais opções, e o combate vai-se adaptando às habilidades e ferramentas que ganhas.
A variedade de inimigos é suficiente, sendo todos baseados em formas humanas e animais de àrvores. Alguns inimigos focam-se mais em ataques à distância, como uns insectos que te mandam umas bolinhas, outros focam-se em atacar-te de perto, como uns inimigos grandes com uma espada longa, que conseguem saltar e correr até ti a uma velocidade impressionante.
O combate sempre foi fluído, havendo uma inspiração óbvia nos souls, especialmente nos bosses. Os bosses variam entre humanoides e monstros gigantes, e penso que aqui o jogo testa verdadeiramente o quão bom tu és com o seu sistema de combate, com padrões de ataques que irás ter de aprender e reagir da melhor forma para poderes superar os variados bosses que irás encontrar.

Temos um mundo semi-aberto, no estilo de um metroidvania, onde irás encontrar vários puzzles e colecionáveis espalhados que te irão distrair da história de vez em quando. Os puzzles podem usar as tuas ferramentas, como usar o arco para te puxares para uma flor como o spider-man. Também tens algum platforming básico, mas nada de muito difícil ou frustrante, mas divertido o suficiente para variar o level design.
No que toca aos colecionáveis, tens por exemplo baús com chapéus para os teus rot, ou uma zona de meditação que te aumenta a vida.
Os rot são pequenas criaturas que te irão ajudar na aventura com habilidades especiais, geralmente focadas em melhorar e aumentar uma das habilidades que Kena consegue fazer, como distrair os inimigos por um tempo, ou executar um ataque bastante forte, onde eles envolvem o bastão de Kena, e ela bate com ele no chão, fazendo dano numa área à sua frente.

Para avançares em várias zonas, irás ter de limpar a corrupção que se encontra em cada uma delas, desbloqueando novas zonas e habilidades para Kena. Para limpares a corrupção, terás de encontrar uma planta vermelha, e, muitas vezes, após derrotares uma onda de inimigos, usar o rot para poderem consumir toda a corrupção da planta, libertando a zona.
Uma composição épica
Se me perguntassem onde possivelmente este indie poderia sacrificar um pouco o seu budget, eu teria dito na música, pois possivelmente iriam utilizar instrumentos virtuais e composições simples, para facilitar na mistura e nos custos de gravação.
Sendo amante de música e som, imaginem a minha surpresa ao ouvir uma orquestra, juntamente com bastantes instrumentos da música tradicional balinesa, numa banda sonora que muitas vezes entra num som cheio e épico.

Fiquei bastante impressionado com as composições para o jogo. A banda sonora é basicamente comparável com um AAA, e a mistura está muito bem concebida, havendo bastante espaço e dinâmica entre instrumentos, e também uma facilidade de os ouvir todos, mesmo na “confusão” onde temos dezenas de instrumentos em simultâneo.
Kena: Bridge of Spirits já ultrapassou a ponte e encontra-se disponível para a Playstation 4, Playstation 5 e PC na Epic Games Store.