Depois de inúmeras entregas e recompilações, que dispersaram esta franquia por várias consolas e aparelhos portáteis, o próximo título numerado chegou finalmente até nós, pondo um fim à saga de Xehanort e da Organization XIII.
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Kingdom Hearts III coloca-nos imediatamente após os eventos de Dream Drop Distance, nos quais Sora e Rikku são postos à prova nos mesmos desafios que os anteriores Keyblade Masters foram submetidos. Enquanto isso, Kairi relega o seu estatuto de princesa e treina com Axel, para tornarem-se também dignos de empunharem uma chave gigante. Como Sora falhou a prova, perdeu grande parte da sua força, e por sugestão do mentor do Rei Mickey, Yen Sid, deve voltar a viajar para, não só reencontrar o seu potencial adormecido, como também despertar um companheiro que vive no seu coração.
Como Sora perdeu o rumo do que é essencialmente ser um herói, faz a sua primeira paragem no mundo do seu amigo Hércules, sempre acompanhado pelos seus eternos companheiros, Pato Donald e Pateta. Porém, no reverso das forças da luz também temos desenvolvimentos muito interessantes. Os seguidores do Mestre Xehanort nutriram a energia necessária para o fabrico de uma nova X-Blade, e o próximo passo para cobrir os mundos com a escuridão, consiste em encontrar os sete pedaços de luz que vivem dentro das novas princesas da luz, em cujos corações não habita a maldade. Numa corrida contra o tempo, Sora e companhia, devem a todo o custo impedir que tal aconteça, enquanto tentam reunir-se com os seus amigos desaparecidos.
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Esta narrativa é imediatamente um dos pontos mais negros de Kingdom Hearts III, porque na sua maioria, a mesma apenas começa a atingir desenvolvimentos interessantes perto do seu final. Isto porque o grupo de Sora, apenas viaja pelos mundos da Disney sem razão aparente e sem acontecimentos dignos de contributo para o enredo. Basicamente os nobodies de Xehanort, aparecem simplesmente para ameaçá-lo, enquanto que o Bafo da Onça e a Bruxa Má procuram por uma misteriosa caixa negra.
É certo que o grupo enquanto viaja nos mundos dos heróis da Disney, Hercules, Rapunzel, Toy Story, Monstros & Companhia, Frozen, Piratas das Caraíbas e Big Hero 6 (embora seja levemente inspirado pela Marvel), apenas no Keyblade Graveyard o “jogo” literalmente começa, sendo-me possível resumir os eventos anteriores num paragrafo, e estamos a falar em pelo menos 30 horas do mesmo. Isto deixou-me com um gosto bem amargo na boca, não só pelo potencial, como pelo facto de no seu clímax sermos bombardeados com eventos uns atrás dos outros, criando um misto de desilusão e apressamento.
Também por dar demasiado destaque à Disney (esquecendo completamente as suas raízes Final Fantasy), muitas vezes a narrativa perde-se completamente, atingindo níveis duvidosos e bastante artificiais. Evidentemente, o jogo é também direccionado para os fãs da Disney, mas Kingdom Hearts III assume que a sua massa associativa, conheça de fio a pavio todos os mundos e personagens que apresenta. Estes desenvolvimentos são notórios principalmente nos mundos da Rapunzel, Frozen e Monstros e companhia. Nos dois primeiros, temos acontecimentos que só são percebidos se vermos o filme, tais como o porquê de Flynn ser procurado, ou porque raptam a Elsa. Em Monstros e Companhia, temos a impressão de que estamos numa sequela do filme. Também por viajar, no que é essencialmente popular no mundo de Frozen, sem ponta de sentido, Elsa, canta o seu single: Let it Go, e Anna pergunta a Elsa se quer construir um boneco de neve enquanto canta e narra acontecimentos ao mesmo tempo. Por estas e muitas mais razões penso que o melhor destes mundos adaptados é o de Big Hero 6, por apresentar uma história original e criar mais coesão, não só na integração de Sora neste mundo, como no enredo no geral.
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Outro dos pontos que achei quase um regredir, foi a excessividade dos seus mini-jogos. Os mundos de Kingdom Hearts III, estão saturados de mini-jogos, assumindo diversas formas, desde simples distracções a implementações na sua jogabilidade. Praticamente em todos os mundos temos um mini-jogo exclusivo, sendo que no de Winnie the Pooh até se resume a estas temáticas. Enquanto podem ter a forma de antigos joguinhos de LCD a pilhas, ao estilo dos Game & Watch da Nintendo ou de simples invocações Disney, estes passam ainda por confecções culinárias (frustrantes, acreditem, não estou a exagerar) do Ratatui, Shieldboards, Treinos em Big Hero 6, um viajar para dentro de um videojogo no mundo de Toy Story, tirar fotos a Pudins humanoides, entre muitas outras. Acreditem que a produção não olhou a meios para colocar em cada mundo, um mini-jogo, e se querem ter acesso a outras armas, e à derradeira Keyblade, têm de dominar quase na perfeição cada um dos mesmos. Também como já foi citado acima, alguns destes mini-jogos, são integrados enquanto o jogador combate as forças de Xehanort, e a maioria só estorva.
Sora actua sempre conforme já o conhecemos: salta e ataca com a sua Keyblade, até aqui não existe grande novidade, pelo menos no modo Standard, visto que o modo de jogo Proud, apresenta uma jogabilidade mais rica, e exige maior destreza. O problema é que do nada, o rapaz deseja invocar uma Aeroga, mas nas suas slots, antes tem um contador com um Carrossel Mágico ou um escorrega aquático, que surgem literalmente do nada. O que fazer? Sinceramente não sei, existindo esta possibilidade, a meu ver acho as Attractions desnecessárias.
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Também por vezes, a agilidade de Sora acabou por se revelar uma entrave, porque no seu modo Focus (além de ser um novo modo de ataque), e embora este lhe permita alcançar com maior agilidade outros lugares, o problema é que muitas vezes somos enviados para sítios que não desejávamos, como no treino de Big Hero 6, que acabou por ser uma frustração, bem como o caso do botão triângulo servir para tudo o que são acções complementares, desde invocações mágicas, a deslizar simplesmente num caminho de ferro. Realmente a única grande novidade que acho digna de respeito, foram as viagens dos Gummi Ships pelo espaço. As quais, agora são quase um jogo dentro de outro, com desafios próprios e tudo. Muitos também acharam piada ao Gummi Phone e às suas fotos, mas eu realmente não achei grande piada a perder uns bons minutos à procura de símbolos das orelhas do Rato Mickey.
A mesma negatividade destes pontos não pode ser dita a respeito ao seu panorama técnico. Kingdom Hearts III, muito possivelmente até supera as obras que incluí, se bem que muitas vezes os vídeos que vemos são excertos das mesmas. Sora e companhia viajam por localizações vibrantes e cheias de detalhe, muito próximas de um filme animado interactivo, chegando mesmo a levar-me a perguntar se não estaria a jogar num. Até mesmo no mundo de Jack Sparrow, a equipa colocou Shaders e sombras, criando um sentimento mais real e menos desenho animado, um elemento que gostei de ver.
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No que toca a faixas e vozes, no geral, estão todas muito bem conseguidas e sempre ambientadas nos mundos apresentados, pois até que muitos interpretes dos filmes voltaram para representar os seus papeis. O meu único senão aqui, foram as pausas ocasionais, que em determinadas cenas, principalmente no mundo de Rapunzel, e nas vozes do Tio Patinhas e do Rato Mickey, são bem inferiores às mesmas interpretadas em obras tais como Ducktales, a qual ainda está a decorrer. Seria muito pedir a David Tennant, para interpretar a voz do pato escocês?
Kingdom Hearts III já está disponível para PlayStation 4 e Xbox One.