Para um estúdio na Indonésia composto três pessoas, Kitaria Fables é o híbrido que preenche o vazio deixado pela ausência de Fantasy Life (Level-5). Só essa afirmação deverá chegar como elogio. No entanto, ainda assim, o videojogo desenvolvido pela Twin Hearts tem um ou dois aspetos que mereciam um pouco mais de trabalho. Não obstante, devido a toda a sua fofura e foco nos dois géneros Action RPG e Life Simulation, Kitaria Fables consegue fazer desta mistela algo que merece a tua atenção, tentando agradar a gregos e troianos tal e qual como um Rune Factory faz com grande sucesso.

Começo pelo primeiro aspeto que me deixou dividido: a história. Em Kitaria Fables assumimos o papel de Nyan, soldado felino com muito jeito para a agricultura, mobilizado para a Paw Village juntamente com o companheiro Macaron. A missão? Proteger a aldeia e entender porque razão monstros e aldeões deixaram de conseguir coexistir pacíficamente. Como crítico justo que sou compreendo que um videojogo deste gabarito não necessita de uma narrativa dramática ou complexa, é um jogo muito fofinho e simples. No entanto, sendo igualmente justo, a história exposta é superficial e genérica. Nada mais, nada menos. Sinto que se cortassem muita da exposição desnecessária, ajudaria em muito o avançar da narrativa.

Kitaria Fables Image 01

O que definitivamente impressionou foi o estilo artístico empregue. Kitaria Fables introduz vários elementos durante o decorrer da aventura: personagens, áreas, inimigos, etc. Tudo tremendamente bem desenhado e mimoso, capaz de derreter até o coração mais frio. Só posso concluir que na arte de criar algo genuinamente querido e fofo a Twin Hearts é exímia no ofício. Algo muito bem vindo num mercado que está progressivamente cada vez mais lotado. Aproveito o parágrafo também para referir que o desempenho na Xbox Series S, já agora, é excelente, mas isso também seria o esperado de um jogo com um aspeto tão pouco exigente como este.

A premissa da jogabilidade é simples, se não demasiado repetitiva: Combater monstros para salvar o mundo, recolher matérias para expandir o processo de crafting, plantar umas couves e batatas para ganhar uns trocos e ajudar os aldeões com demandas secundárias. Em teoria é suposto resultar, mas Kitaria Fables afirma-se como um Action RPG primeiro e um Life Simulation depois. Isto seria perfeitamente justificável não fosse a ordem da jogabilidade estar trocada. É daqui que retiro a maior fraqueza presente no videojogo e a razão principal pela nota ser a que é.

Kitaria Fables presta muito foco a um elemento inerente aos dois géneros mistelados: grinding. Esta palavra está conotada ao processo de, repetitivamente, efetuar ações durante largos períodos de tempo para obter algo desejável, seja ele um nível ou um item. O seguinte não tem absolutamente nada a ver com o que foi dito até então, mas não deixo de achar engraçado grinding (como substantivo) ser ‘moagem’ ou até ‘trituração’. Considerem isto o parágrafo educativo da análise.

A questão que quero levantar é que Kitaria Fables exige grinding em tudo o que está relacionado com progressão através de crafting. Este processo lento, prejudicado por outras questões (já lá vamos) serve como teste à paciência do jogador e extensão artificial do tempo de vida útil do videojogo. Mais frustrante é quando o título em análise ignora tantos avanços úteis e modernizados das suas mecânicas em títulos congéneres. Kitaria Fables, por exemplo, não fornece qualquer informação sobre o seu mundo nem um bestiário; é bom que tenhas papel e caneta à mão para escrever onde fica o baú especial, o boss específico ou o monstro X e Y pela noitinha ou dia.

Elaborando sobre o que referi anteriormente Kitaria Fables detém, na minha ótica, duas questões que tornam a experiência mais sofrível do que o necessário: as escassas opções de fast travel entre as várias áreas e a velocidade a que Nyan caminha. Não só existem poucas opções para avançar rapidamente de área em área, como Nyan tem um caminhar demasiado lento. Parece que não, mas quando temos de recolher vários items dispostos por outros tantos sítios diferentes a tarefa deixa de ser divertida. Ainda assim o pior nem são essas duas questões: é o tempo útil de cada dia no mundo. Se alguma vez achavam que o tempo num Harvest Moon ou Story of Seasons era curto então esperem até tocarem em Kitaria Fables.

Porém nem tudo é mau. O combate é simples, mas rapidamente começa a exigir destreza e agilidade face ao variado leque de inimigos (com especial destaque para os bosses). Como Action RPG era importante que Kitaria Fables conseguisse ser divertido no combate, sendo bem sucedido nessa demanda. Mais divertido é a liberdade entre utilizar uma espada ou arco e flecha, algo que não era possível num Fantasy Life, por exemplo. No entanto, novamente, prepara-te para muito grind caso queiras utilizar todos as armas de forma eficaz.

Kitaria Fables já está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X, Nintendo Switch e na Steam para PC.

CONCLUSÃO
Fofinho
7
Ulisses Domingues
Desde muito cedo um confesso apaixonado pelos mundos da PlayStation e consolas Nintendo. No entanto a vida dá muitas voltas e agora o seu amor foca-se nas novas Xbox Series. Nada como paixão à primeira vista, não é verdade?
kitaria-fables-analiseMesmo com as suas falhas Kitaria Fables é um videojogo decente e definitivamente muito mimoso. Salienta-se o seu mundo, o estilo artístico e o combate, mas os vários queixumes acima indicados, em conjunto com uma clara extensão artificial de tempo de jogo, impedem o título em análise de subir mais uns pontos e ser uma ameaça séria a outros congéneres.