Sempre defendi, e continuo a defender que sem uma boa atmosfera, não temos bons jogos de terror. Escrevo isto pois o jogo que venho analisar vem de uma equipa que prima pelas atmosferas que nos traz. Seja em Blair Witch, ou em The Medium, a Bloober Team não falha no que toca à imersão, trazendo-nos momentos incríveis nos seus videojogos, sendo que hoje tenho a oportunidade de comentar alguns destes pois vamos falar de Layers of Fear (2023).
Para quem não conhece, Layers of Fear (2023) é um remake dos dois Layers of Fear anteriormente lançados. A Bloober, em conjunto com a Anshar Studios, decidiu pegar em todo o trabalho dos dois jogos e melhorá-lo no Unreal Engine 5. Com a ajuda de tecnologias como Lumen ou Nanite, temos agora uma versão destes títulos de culto em 4K com ray tracing e HDR.
Layers of Fear foca-se nas “dores” do artista. Assumindo o papel de um escritor que procura ideias, vamos em viagem pela mente de um pintor e uma viagem pela depressão, tendo posteriormente recebido um DLC que nos ofereceu uma perspetiva da esposa e da sua filha. O segundo jogo foca-se na representação e já procura uma história mais coesa, com o escritor a interligar-se com a história do ator.
Confesso que não tinha jogado nenhum dos Layers of Fear anteriores, nem sequer sabia antes de jogar que este seria a mistura de dois jogos, tendo a história parecendo uma única.
Embora a história pareça apenas uma, não creio que faça o melhor trabalho a manter-nos a par do que se passa. O foco de Layers é claramente a atmosfera, em concreto a forma como a Bloober nos transporta entre locais de forma fluida, quase que num formato de montanha russa. Parece-me que tentaram aliar a complexidade da jogabilidade à história, procurando temas e ramificações que podiam ter sido deixados de parte e ainda assim ser contada uma história com início, meio e fim.
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O que resulta disto são vários passeios idênticos por diferentes divisões em modo vista de museu e vozes dramáticas que mais puxam citações da cartola do que nos levem numa viagem narrativa.
Não obstante, quando conseguimos perceber e acompanhar a história, esta tem qualidade. A perspetiva do pintor é sem dúvida a mais forte, tanto em termos de qualidade como em profundidade emocional, trazendo consigo um passeio por uma mansão vitoriana, tendo também maior coesão e facilidade de interpretação do que a do ator.
Nos termos mais simples, a jogabilidade de Layers of Fear consiste num walking simulator. Claro que a complexidade do que se passa enquanto andamos não se compara sequer aos mais famosos como Vanishing of Ethan Carter ou What Remains of Edith Finch. Os cenários estão em constante mutação (por vezes até demais), fazendo-nos questionar se o que antes estava num sítio era mesmo “aquilo”, ou se mudou.
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Vamos interagindo com o mundo de forma a completarmos os puzzles, tendo estes uma boa variação tanto em diversidade como em complexidade. A interação é relativamente simples, apenas temos de interagir com os objetos, no entanto, em objetos que requeiram rotação, como manivelas, por vezes ficamos “presos” na rotação pois o jogo não consegue ler bem a movimentação que o nosso analógico faz. De qualquer forma, estes percalços não são frequentes, portanto não serão grande incómodo nas vossas viagens.
Como jogo de terror, Layers of Fear tem um grande peso na atmosfera, e como já referi, a Bloober em parceria com a Anshar, trataram de tornar este jogo incrivelmente bonito e arrepiante ao mesmo tempo. Sejam corredores da mansão ou salões em navios, existe sempre uma atenção incrível ao detalhe, proporcionando-me momentos em que fiquei simplesmente parado a olhar para o ecrã, fosse pela simples beleza artística, ou pela conjugação de perspetivas que nos confundiam nos inúmeros labirintos que encontramos.
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Este lançamento eleva a qualidade visual e sonora dos antecessores, trazendo a experiência definitiva para quem gosta de um bom jogo de terror. Com visuais em 4K com ray tracing e HDR, e áudio binaural, esta viagem tem de ser jogada num ambiente pouco iluminado (mas um brilho do ecrã saudável) e com headphones, para que possam não só absorver todos os sons que os ambientes produzam, mas também a excelente banda sonora de Arek Reikowski.
Trazendo tanto características boas como menos boas dos jogos anteriores, as equipas transformaram esta viagem no mais fluida possível. Mesmo com vertentes que podem ser melhoradas, Layers of Fear traz consigo uma experiência a não perder. Este port para o Unreal Engine 5 serve para nos deixar com água na boca pelos futuros projetos de ambas as equipas.