A pensar nas audiências mais novas, a inesperada proposta da parceria entre a gigante Lego e a Guerrilla Games, passou das ideias e da criatividade, para um videojogo. No desenvolvimento, além da Guerrilla, estiveram também os britânicos Studio Gobo, para esta que é uma recriação bem mais relaxada e sobretudo infantil, de Horizon Zero Dawn, surpreendentemente lançada em simultâneo também para PC e Nintendo Switch.

No formato cómico que os jogos LEGO habituaram-nos, somos apresentados de forma aprazível ao universo de Zero Dawn. A narrativa, apesar de ter as semelhanças-chave do jogo original, conta com algumas diferenças totalmente compreensíveis, sem o peso emocional e tocante que Horizon Zero Dawn nos consegue entregar em muitos momentos da jornada de Aloy. Em Lego Horizon, é Roast que entrega uma “coisa muito fixe” que encontrou, e que acaba por ser o foco usado por Aloy. Será também Roast o narrador do jogo, quebrando muitas vezes a quarta parede com piadas que claramente têm como público-alvo as gerações mais novas. São cerca de 7 horas de missões principais, resumindo a extensa história de Horizon aos factores-chave e marcantes do primeiro título. Seria interessante que a Guerrilla tivesse criado um novo arco, ou que o conseguisse misturar com a narrativa principal, mas o foco aqui é directo desde muito cedo, e o objectivo passou sempre por resumir a história do primeiro jogo, com alterações divertidas, mas sem grandes surpresas.

O jogo funciona com uma área central personalizável de forma gradativa de acordo com o teu progresso. Será aí, no coração da mãe todo feito em Lego, que poderás ver algum do potencial visual deste título. Lego Horizon Adventures incentiva-te a explorar e a completar os níveis de maneira a recolheres mais peças douradas e peças Lego para evoluíres este local à tua medida, com participações especiais de construções de outros títulos da saga, como Lego Ninjago, por exemplo. Poderás construir diversos edifícios em Lego, e colorires da forma como te apetecer. A personalização dos personagens também é imensa. No coração da mãe existe até um alfaiate para editares Aloy e companhia como bem te apetecer. Confesso que é um pouco estranho vestir a Aloy de cone de gelado e a Teersa de polícia e ir assim para as missões, mas tudo acaba em risota quando nos aparecem nas cinemáticas dessa forma.

Será habitualmente nas extremidades do HUB que partes para as missões, que começam de forma empolgante, mas logo vão perdendo o ritmo, tal é a repetitividade. O progresso é essencialmente o mesmo em todas as aventuras: começas a missão, progrides por uma sessão de escalada e um segmento de plataformas bem simplista, vais parar a um cenário de um mercador com baús de armas especiais, e seguirás por último para o cenário de combate, um típico local amplo com ervas altas, e máquinas (algumas bem poderosas) prontas para acabar com a festa. A única variedade aqui, sucede-se nos combates contra as máquinas mais poderosas, designadas a serem os bosses finais de cada jornada.

Os cenários são variados e belos, numa visão isométrica com paisagens 100% Lego belíssimas, que se complementam de forma perfeita no quesito visual, nas suaves técnicas de iluminação e animação das personagens e cenários. Infelizmente, tal como a estrutura de gameplay, volta a sofrer do mesmo; repetição. Os famosos caldeirões presentes na saga Horizon, são existentes nesta versão Lego, e apesar de belos, alguns são reciclados com os mesmos cenários, contribuindo assim para loop desgastante.

Para o combate, existem 4 protagonistas ao nosso dispor, que podemos ir alternando para cada missão, cada um deles com diferentes tipos de armas. A Aloy, o Varl e a Teersa, baseiam-se no combate de médio e longo alcance. Aloy usa o arco, Varl a sua lança, e a Teersa, bem; a matriarca usa galinhas. Já Erend, o único protagonista capaz de causar dano corpo a corpo, usa o seu poderoso martelo para desferir fortes golpes contra as máquinas.

Além dos personagens terem um nível singular que desbloqueiam habilidades passivas, ainda podes adquirir upgrades com as peças colectadas durante a exploração dos níveis, upgrades esses permanentes que te ajudam no combate, dando alguns exemplos como mais dano de fogo, ou mais experiência recebida por abate, entre outros. Durante a minha jornada pelo universo de Lego de Horizon, comecei por alternar os personagens, mas a mais de meio de jogo decidi optar pela Aloy, não só porque a jogabilidade de arco sabe muito melhor, mas também de modo a conseguir evoluir o seu nível máximo.

E falando no combate, é realmente o ponto alto do jogo. As máquinas estão muito bem estruturadas esteticamente falando, com inimigos conhecidos na saga, como os vigias, os galopantes, rapinantes, os dentes de serra, trincadores e até os corruptores. Todos eles têm o seu set de ataques, e alguns são extremamente desafiantes, principalmente quando se misturam em combate com outros inimigos humanos como os cultistas. Os pontos fracos das máquinas são bem activos no que toca ao design da sua construção, e ficam bem destacados quando miras a arma sobre eles, isto claro, se tiveres no ângulo certo. Tal como na saga Horizon, poderás desactivar e destruir partes das máquinas acertando nesses locais, causando dano crítico a cada golpe.

Além das armas mencionadas três parágrafos acima, também tens outra espécie de arma secundária auxiliar, ideal para momentos mais tensos de combates. Podes usar armas como o drone, que se foca na máquina ou cultista e se rebenta numa explosão mortífera, ou umas botas a jacto para sobrevoar os inimigos e os deixar a fumegar durante uns segundos. Bem no hábito cómico de Lego, também podes optar por coisas mais tresloucadas, como construir uma roulote de cachorros quentes em que a pessoa que os prepara, com certeza utilizará um ketchup especial, que explode uns segundos após entrar em contacto com o solo.

Os ataques elementais também estão presentes no jogo, e com efeitos visuais muito bem conseguidos. Além de conseguires dar upgrade (temporário) à tua arma inicial e adicionares dano extra quando te deparas com os baús, também podes usar o factor lego-natureza a teu favor, e através dos cubos ardentes que crepitam pelos cenários, mesclares com a tua arma, de forma a criares fogo que tal como em Zero Dawn, vão causando dano extra contínuo ao inimigo. Além da natureza, podes também apanhar alguns barris explosivos que após o impacto, libertam dano como gelo ou eletricidade. Isto pode ainda ter um dano adicional caso te escondes nas ervas altas com uma camuflagem muito peculiar que te ajuda a entrar no modo stealth. Uma vez mais, são todas mecânicas já conhecidas dos jogos originais, mas muito bem implementadas aqui.

A jogabilidade é muito suave e os personagens têm comandos muito responsivos. Os personagens andam, saltam, escalam, e atiram. Nota-se imenso que o público-alvo são os mais novos, já que os poucos puzzles presentes nos caldeirões são muito básicos, e alguns até quase inúteis. Um dos exemplos mais marcantes e que me deixou boquiaberto de tanta pobreza no que é o desafio, foi precisamente nas portas presentes nesses espaços subterrâneos que se encontram sem energia, e precisas de um núcleo explosivo para abrir. A simplicidade é tanta, que colocaram os barris literalmente à frente da porta selada. Senti falta do desafio, por mais pequeno que fosse. Isto, claro, não vale para todos os momentos, já que alguns puzzles se destacam um pouco mais, mas no geral; é tudo de uma simplicidade extrema que nem os mais novos vão sentir dificuldade.

E já que o combate é o bolo saboroso do jogo (de longe), a batalha contra as massivas máquinas são a cereja no topo. São combates muito bem desenvolvidos, com pitadas de inspirações estruturais até de twin-stick shooters. São vários golpes para decorar das diversificadas máquinas de Lego, e podem ser um desafio, principalmente jogando em dificuldades mais elevadas. Após completares cada mapa, podes fazer jornadas extra para peças especiais Lego, e estas missões são uma espécie de arena com estes temíveis bosses, e com algumas novidades que não irei spoilar. Aconselho-te a fazer estas missões, assim que possível. Além da experiência, desbloquearás novos itens.

Conforme habitual nos títulos Lego, poderás jogar em co-op local, ou partilhar a diversão com outro jogador através do modo co-op local ou online, isto claro, com Playstation Plus activo. Esquece o ecrã dividido, o primeiro jogador controla tudo, e se o segundo comando sair da zona de jogo, é automaticamente arrastado para o local onde se encontra o primeiro. O jogo é melhor a dois, não tenho dúvidas nenhumas disso, mas apenas testei este modo por uns minutos e pouco posso opinar nesta vertente.

Lego Horizon foi construído com blocos reais, e ao contrário de outros jogos Lego que são uma mistura entre Lego e 3D, aqui é tudo original. As máquinas, os cenários; tudo isto poderá ser construído em casa com as peças correctas, e depois do lançamento deste jogo, espero ver novas coleções Lego relacionadas ao universo de Aloy e companhia. Existem dois modos, fidelidade e desempenho. O ray tracing proporciona efeitos incríveis a este jogo, como reflexos e sombras mais detalhadas, e é claramente o melhor jogo Lego no quesito visual. Confesso que foi surpreendente ver um título Lego com dois modos, e achei estranho a PS5 não aguentar o modo fidelidade a 60 quadros, mas após ver os efeitos gráficos, mudei rapidamente de ideias. Não é o meu jogo Lego favorito como um todo, mas é sem dúvida uma experiência visual deliciosa, e a melhor que já experienciei num título Lego para as consolas caseiras.

Agradecemos à Playstation Portugal por nos ter cedido esta chave para análise, para a plataforma Playstation 5.

CONCLUSÃO
Legotido!
7
Igor Gonçalves
Curioso, explorador, e fã de videojogos desde que me lembro, e em especial pela saga Metal Gear. Não jogo plataformas, jogo jogos.
lego-horizon-adventures-analiseLEGO Horizon Adventures é uma adaptação divertida e colorida de Horizon Zero Dawn que, apesar de alguns pontos fortes, não consegue escapar da repetitividade e da simplicidade excessiva. O jogo captura a essência da saga, com máquinas icónicas, cenários vibrantes e uma narrativa simplificada para um público mais jovem. A estrutura das missões e a falta de desafios mais complexos limitam um pouco a experiência, mas ainda assim, é um bom título para passar algumas horas com umas boas risadas à mistura.