Há algo de especial num filme do Studio Ghibli e, especialmente, nos guiões de Hayao Miyazaki. No momento em que começa, parece que estamos a entrar num mundo mais suave e mais quente, onde o vento sopra através da erva alta, gotas de chuva dançam nos telhados e lanternas piscam como pirilampos no crepúsculo.
Estas histórias não são apenas sobre magia ou aventura; são sussurros suaves de sabedoria, lembrando-nos das coisas que, muitas vezes, esquecemos na correria do dia-a-dia.
Talvez seja por isso que os filmes do Studio Ghibli (e de Miyazaki) permanecem connosco muito depois dos créditos. Não são apenas filmes ou cenas de animação criadas para nos entreter — são lições de vida embrulhadas em céus iluminados pela lua e cozinhas permeadas pelo vapor de chá acabado de fazer, à espera de serem desembrulhadas pelo coração que mais precisa delas.
E é isso que te trago hoje: pequenos pedaços de sabedoria dos filmes com que cresceste ou que, talvez, ainda hoje te sentas para ver num dia em que precisas de algo puro e reconfortante.
Muitas delas talvez tenhas esquecido, outras provavelmente ter-te-ão acompanhado desde o momento em que os viste, e ainda outras que não conheces. Pois vem comigo recordar ou descobrir novas lições de vida do Studio Ghibli, e não te esqueças de deixar a tua favorita nos comentários!
1. “Não precisas de fazer grandes coisas para seres importante.”
O Meu Vizinho Totoro (My Neighbor Totoro)

As histórias mais simples de Ghibli contêm, muitas vezes, as verdades mais profundas. Satsuki e Mei não partem em grandes aventuras para salvar o mundo — apenas vivem, amam e crescem.
Totoro, o grande e gentil espírito da floresta, não diz uma palavra, mas traz um conforto incomensurável.
A vida não é ser o maior ou o melhor; por vezes, a alegria encontra-se a correr à chuva, à espera de um autocarro, ou a dormitar nas raízes de uma árvore antiga.
2. “A bondade é um tipo silencioso de força.”
A Viagem de Chihiro (Spirited Away)

A princípio, Chihiro parece indefesa no mundo espiritual, pequena e assustada. Mas através de simples atos de bondade — ajudar um espírito de fuligem, mostrar compaixão a um espírito do rio, e confiar em Haku — ela encontra a sua coragem.
A força não é sobre dominar os outros; trata-se de permanecer doce num mundo que, muitas vezes, pode ser amargo.
3. “Não precisas de ser perfeito para seres amado.”
O Castelo Andante (Howl’s Moving Castle)

Sophie acredita que ela é simples e comum. Howl teme ser vaidoso e cobarde.
Mas, à medida que crescem juntos, percebem que o amor não tem a ver com perfeição. A bondade de Sophie fá-la brilhar mais do que a sua beleza alguma vez poderia, e o coração de Howl é forte, mesmo quando está assustado.
Não precisamos de ser perfeitos para sermos dignos de amor — só precisamos de ser verdadeiros.
4. “Há magia na vida quotidiana.”
Kiki, A Aprendiz de Feiticeira (Kiki’s Delivery Service)

Kiki consegue voar, mas a sua verdadeira magia não está na sua vassoura, e sim no seu espírito. A forma como ela coze o pão, faz amigos e encontra alegria nas pequenas coisas é onde reside o seu verdadeiro poder.
Mesmo quando perde a capacidade de voar, ela aprende que o deslumbramento e a magia ainda existem no simples ato de seguir em frente e encontrar significado naquilo que já tem em sua posse.
5. “A natureza e a humanidade foram feitas para viver em harmonia.”
Princesa Mononoke (Mononoke Hime)

Os deuses da floresta enfurecem-se, e os humanos avançam, cada um lutando para sobreviver. Mas a resposta não está na guerra, e sim no equilíbrio.
Ashitaka e San mostram-nos que a natureza não é algo a ser conquistado, mas sim algo a ser compreendido e respeitado.
Se ouvirmos, as árvores sussurram sabedoria e os rios cantam a sua paz, e vale bem a pena aceitá-los e aprender com eles.
6. “Casa não é um lugar; casa são as pessoas que te amam.”
Ponyo à Beira-Mar (Ponyo)

Ponyo abandona o mar, ansiando por uma vida em terra. Mas a sua verdadeira casa não é o oceano ou a praia, e sim as pessoas que a amam.
Seja numa casinha acolhedora à beira-mar ou sob as ondas, o lar encontra-se no amor, e não importa onde vamos ou onde acabamos; é bom saber que teremos sempre os nossos entes queridos à espera e, se possível, levá-los connosco em todas as nossas aventuras.
7. “O trabalho árduo e a perseverança resultam em coisas belas.”
As Asas do Vento (The Wind Rises)

Jiro passa a vida a perseguir o céu, colocando o coração na sua arte. O seu trabalho não é fácil e o mundo é complicado, mas a sua paixão traz beleza à vida.
Quer construa aviões, escreva histórias ou plante um jardim, criar algo com amor e esforço torna o mundo um pouco mais brilhante e nunca devemos substimar o nosso poder interior.
8. “Coragem não significa nunca ter medo.”
O Mundo Secreto de Arrietty (The Secret World of Arrietty)

Arrietty é pequena num mundo vasto e incerto. Mas ela dá um passo em frente na mesma, aventura-se, faz amigos e protege a sua família. O medo não é uma fraqueza, faz parte de estar vivo. Coragem é sentir o medo e dar o passo na mesma.
Todos temos algo a aprender com a pequena Arrietty.
9. “Até o mais pequeno ato de bondade pode mudar o mundo.”
O Castelo no Céu (Laputa: Castle in the Sky)

Sheeta e Pazu não têm grandes exércitos nem magia poderosa. Mas, com gentileza, determinação e um forte sentido do que é certo, mudam o destino de um reino flutuante inteiro e de todos os seus habitantes.
A bondade, por mais pequena que seja, importa sempre.
10. “Não há problema em fazer uma pausa.”
O Sussurro do Coração (Whisper of the Heart)

Shizuku está determinada a provar o seu valor, mas, no processo, esgota-se. Ao longo da sua jornada, ela aprende que o crescimento não se trata de pressa, mas sim de viver, aprender e dar tempo a si mesma.
Não precisamos de ter tudo planeado agora e está tudo bem. O importante é irmos tendo paciência e carinho connosco próprios, e não deixarmos a pressão exterior ou as nossas ansiedades tomarem conta de nós.
A beleza das histórias do Studio Ghibli é que as suas lições não são gritadas — encontram-se nos espaços entre as palavras, no farfalhar das árvores, na forma como uma personagem faz uma pausa antes de sorrir. Lembram-nos que há maravilha no comum, coragem na bondade e magia em, simplesmente, estar vivo.
E talvez seja por isso que continuamos a voltar. Não apenas para ver Totoro à espera à chuva, ou Kiki a sobrevoar os telhados, mas para nos lembrar que as nossas próprias vidas — confusas, imperfeitas e cheias de pequenos momentos tranquilos — são tão mágicas como qualquer conto de Ghibli.