Neste passado fim-de-semana fomos apresentados, na Comic Con de San Diego, ao futuro da Saga do Multiverso na MCU, composta pelas fases 4, 5 e 6. Aí, foram mostrados os primeiros bocadinhos de conteúdo cinematográfico que a Marvel tem a oferecer nas próximas fases, alguns já esperados, e outros surpreendendo completamente os fãs presentes em San Diego. Entre esses, encontram-se, por exemplo, os dois próximos filmes dos Avengers, um filme do Quarteto Fantástico e até uma nova série do Daredevil, onde vamos voltar a ter Charlie Cox a interpretar o papel deste super-herói, depois do seu cameo em Spider-Man No Way Home. Além disso, foi também mostrado o maravilhoso teaser do já antecipado Black Panther: Wakanda Forever, que arrecadou milhões de visualizações em poucas horas.
Como já era de esperar, o entusiasmo dos fãs invadiu a internet, que acabou por ser inundada de conteúdo Marvel durante as horas subsequentes a estes anúncios. Apesar da sobrecarga de filmes e séries que têm produzido nos últimos tempos, a Saga do Multiverso parece estar bem encaminhada para um sucesso ao nível das fases anteriores, marcadas pela vilania do titã Thanos e pelo poder das pedras do infinito. Porém, na minha opinião, isso só acontecerá se o MCU der uma volta e começar a mudar e inovar a sua até então próspera e bem-sucedida fórmula.
Creio que a fase 4, em que nos encontramos de momento, não tenha começado da melhor forma, com apenas séries a serem lançadas na recém-criada Disney+, um serviço premium de streaming que engloba todo o conteúdo Marvel. Já aí, vejo duas limitações ao acesso destas séries, já que estas estão escondidas por trás de uma subscrição, e também devido à pandemia do Covid-19, que atrasou os lançamentos dos filmes previstos a saírem nessa altura. Black Widow e Shang-Chi foram lançados, e desapontaram alguns fãs, já descontentes com o rumo que a fase 4 estava a levar. Pessoalmente, nenhum destes filmes me desapontou, principalmente Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings, que me surpreendeu incrivelmente pela positiva, ao mostrar uma flexibilidade raramente antes vista na fórmula cinematográfica do MCU, com algumas das mais incríveis cenas de luta já antes vistas.

Mas são estas mesmas mudanças na famosa fórmula da Marvel que normalmente são rejeitadas pelos fãs mais entusiastas, que torcem o nariz à criatividade posta pelos realizadores nos seus filmes. Para mim, os principais exemplos disso são não só Shang-Chi, mas também Eternals e Doctor Strange in the Multiverse of Madness. Ambos estes filmes tiveram diferentes produtores para além do já habitual Kevin Feige, que costuma trazer a maior parte do conteúdo da Marvel: Shang-Chi teve como realizador o excelente Destin Daniel Cretton, que já é indicado como o realizador do futuro filme The Avengers: Kang Dynasty. Eternals teve como realizadora Chloé Zhao, que trouxe um novo olhar sobre o anterior vilão da saga, fazendo-nos questionar quem são os vilões e quem são os super-heróis, e finalmente, Sam Raimi como realizador de Doctor Strange, que trouxe as suas influências de terror slasher para este filme de uma forma aterradora, mas magnífica.
Para espanto meu, estes foram alguns dos filmes menos bem classificados pelos fãs do MCU, principalmente Eternals, que foi um favorito da minha parte, devido às importantes questões que levantava, mas que acabou até por ser apelidado por muitos como o “pior filme da Marvel”. Leva-me a querer que os próprios fãs das franquias não pretendem inovação na fórmula, mas sim o “mais do mesmo” presente nos filmes anteriores.
Sim, é verdade que foi essa mesma fórmula que trouxe o sucesso à Marvel Studios, mas que infelizmente se torna incrivelmente repetitiva e aborrecida com o passar do tempo. O mais recente Spider-Man, por exemplo, soube incorporar de uma forma magnífica esses elementos, com todos os cameos das personagens dos filmes antigos, de forma a apelar à nostalgia dos fãs, mas, por outro lado, Thor: Love and Thunder mostrou o quão exaustiva a fórmula é, ao recebermos um filme que trouxe pouca evolução às personagens, e que condicionou o génio criativo de Taika Watiti, seu realizador.

Sem dúvida que outro problema do MCU neste momento é também a sobrecarga de filmes e séries. Tem-se tornado incrivelmente difícil de acompanhar todos os lançamentos Marvel nestes últimos tempos, devido à proximidade entre os mesmos. Ter duas séries a serem lançadas muito próximas uma da outra, e ainda um filme pelo meio é talvez demasiado conteúdo não só para os fãs, mas também para os trabalhadores da Marvel, visto que recentemente foram notadas várias queixas dentro dos estúdios de efeitos visuais devido a um ambiente de trabalho abusivo e demasiadas horas de trabalho nos efeitos para os filmes e séries.
Assim, acredito que a Marvel Studios traria melhores filmes e séries nesta Saga do Multiverso, não só se reduzisse a quantidade de produção cinematográfica, mas também se desse mais liberdade criativa aos realizadores e produtores, o que infelizmente também exige uma mudança de mentalidade da parte dos fãs. Na minha opinião, é a única maneira de fazer com que esta nova saga prospere, e que traga um nível de conteúdo tão ambicioso quanto a anterior trouxe.