“Com grande poder vem grande responsabilidade” terá sido o mote da equipa Nixxes Software desde sua aquisição a 1 de Julho de 2021 pela Sony Interactive Entertainment. Este é um grupo de holandeses que já tem no seu cardápio a nova trilogia da saga Tomb Raider, Deus Ex: Mankind Divided e mais recentemente Marvel’s Avengers. Apesar deste último não ser exatamente material de holofote, este plantel tem dado cartadas com a sua experiência em ports, algo que posso comprovar com o mais recente Marvel’s Spider-Man Remastered na loja digital da Steam.
Em semelhança à façanha feita com God of War na Squared-Potato (releiam a minha análise à versão PC aqui e à versão PlayStation 4 aqui (pela caneta do grande Bruno Vieira)) irei primeiro focar os meus esforços no que realmente interessa: o port. Posteriormente rascunharei dois dedos de crítica ao videojogo em si que, pois tal como o outro, já foi criticado demasiadas vezes para merecer uma verdadeira análise a fundo como já é “habitué pelo je“. Por um lado sinto que não trarei nada de novo à mesa, no entanto também desejo fazer um excelente trabalho dentro da comunidade (até servi de exemplo graças à análise de God of War segundo a nossa querida amiga Soficious no Twitter (obrigado pelas palavras!)) tudo o que seja estrangeirismo técnico terá uma hiperligação do vosso interesse para aprofundar esse conhecimento. Informo também que no fim deste segmento constará uma nota importante com todas as informações relevantes para vossas métricas de comparação.
Ao contrário da experiência encontrada no título supracitado, Marvel’s Spider-Man foi uma viagem mais trapaceira para atingir os cobiçados sessenta fotogramas por segundo. Não é surpreendente dado que é uma aventura mais exigente pelo mundo aberto que albergoa, e as opções de Ambient Occlusion, Screen Space Reflections e Ray-traced Reflections são as mais taxativas em qualquer sistema. Dito isso, na vossa odisseia própria pelo caminho da otimização, necessitarão de pesar estes três elementos, os mais vistosos graficamente. Curioso, no entanto, foi a opção de alterar as configurações previamente a iniciar o título (num launcher próprio), mesmo quando todas as opções estão disponíveis dentro do jogo. Na versão pré-lançamento que joguei, contudo, optei sempre por preferir alterar as opções neste launcher, dado que encontrei uns percalços dentro do jogo ao executar a mesma tarefa (freezes constantes a mudar de preset, opções que ligadas ou desligadas nada faziam, outras que após ajuste pareciam diminuir o desempenho, etc.)
Posto isso, independentemente da maçada que era, preferi sempre sair do jogo e fazer qualquer alteração antes de recomeçar. Graças às maravilhas modernas de um SSD, os tempos de carregamento que existem são muito curtos. Menos maravilhoso foi constatar que só no preset Very Low era possível correr Ray-traced Reflections (RT) em medium e a sessenta fotogramas por segundo sem soluços. Não contente com essa solução, e desistindo da tecnologia RT (por agora), de caminho desativei também Film Grain Strenght e Motion Blur Strenght, tecnologias com impacto mínimo no desempenho, mas que são feias (subjetivamente) de qualquer forma.
O método de testagem em Marvel’s Spider-Man foi simples: Uma simples cruzada de um minuto por Nova Iorque à mais alta velocidade possível, um autêntico Usain Bolt das teias! Enquanto percorria pelas ruas e arranha-céus, mexia a câmera bruscamente e mergulhava com frequência, de tudo fazendo para o videojogo soluçar o mais possível. Escolhi esta metodologia, pois a parte mais divertida de ser o Homem-Aranha é baloiçar entre teias, e perder desempenho neste ponto fulcral da aventura, só aconteceu em exceções e nunca abaixo dos cinquenta fotogramas.
Sem RT e no preset Very High, o nível de fotogramas mais baixo atingido foi de cinquenta e dois. A experiência decorria minimamente bem, mas frequentemente soluçava abaixo dos sessenta. No preset High senti mais estabilidade, mas ainda assim a bater cinquenta e dois fotogramas em algumas ocasiões. Já o preset Medium estabilizava o desempenho da aventura até certo ponto, baixando até uma máxima de cinquenta e cinco. Em Low ocorria um ou outro soluço com pouca frequência, sendo a última opção, Very Low, onde não ocorriam de todo quedas abaixo dos sessenta. Claramente não satisfeito com estas alternativas, perdi um pouco a paciência e personalizei os resultados, chegando a esta configuração onde muito raramente ocorriam quedas de desempenho abaixo dos sessenta, deixando assim um Ulisses muito satisfeito.
Marvel’s Spider-Man foi, no entanto, uma experiência anterior que vivi na PlayStation 4 Slim com acesso ao comando tradicional da Sony. Não só adquiri a cobiçada platina, prova da minha mestria, mas também enfrentei a história colado ao esquema de controlo imposto. Relato com alguma felicidade, que a versão Remastered vive-se muito bem de rato e teclado, com opção de personalizar a sensibilidade dos eixos do rato ou as teclas do teclado. Como esta experiência difere muito pelo seu mundo aberto gigantesco, era importante sentir o domínio na câmera enquanto baloiçava pelas ruas de Nova Iorque, sendo esta a minha exigência para o título em questão. Lamento informar, no entanto, que não testei a opção do DualSense da PlayStation 5 neste título.
Deixo, no entanto, um parágrafo só para a batolada de opções existentes em Marvel’s Spider-Man Remastered (algumas desde a versão PS4). Diz olá a categorias como: Text Language, Game, Subtitles, Audio, Acessibility, Gamepad, Mouse, Key Mapping e Display & Graphics. A primeira opção fala por si mesma, Game atinge alguns aspetos da jogabilidade, como ser possível ultrapassar puzzles ou controlar elementos do mini-mapa. Subtitles idem aspas aspas, Áudio controla, surpreendendo absolutamente ninguém, as opções de som. Gamepad mexe com as configurações de um comando (inclusive relativamente ao DualSense), Mouse Settings e Key Mapping já foram referidas antes, Display & Graphics controla as opções de grafismo como o tipo de display, a calibração da luminosidade ou HDR, o upscaling DLSS (e outras opções) e a secção Graphics a controlar uma maior personalização da aventura para atingir a mais alta taxa de fotogramas possível. O mais impressionante, e aqui entram os parabéns à Insomniac, são as opções de acessibilidade. São várias as alternativas e ajudas para acomodar todo o tipo de jogadores.
Restam-me poucos ou nenhuns comentários a respeito do trabalho feito pela Nixxes Software. Se for esta a equipa que controlará os ports de futuros títulos PlayStation Studios dormiremos descansados à noite. Marvel’s Spider-Man Remastered apresenta amplas alternativas para personalizar o grafismo da aventura e, apesar de algo exigente para um título de 2018, as novas tecnologias empregues e a melhor fidelidade visual possível, requerem uma boa máquina para apreciar a cem por cento. Não sendo possível, também não é motivo para entristecer, pois esta aventura do aracnídeo mais amigável da vizinhança é igualmente vistosa em opções gráficas inferiores. Posto isso em baixo deixarei uma nota da minha configuração com os parágrafos seguintes a relatarem o videojogo em si.
Máquina:
AMD Ryzen 7 5800H ; NVIDIA GeForce RTX 3060 6GB GDDR6 ; 16GB DDR4-3200 ; 512GB SSD M.2 2280 PCIe 3.0×4 NVMe.
Nvidia:
Testadas as drivers 516.59 e 516.94.
Título:
Testadas ambas as builds 9194500 e 9266263 (Steam).
Sistema Operativo:
Windows 10 Home 64bit 21H2 19044.1826.
Outro:
Utilizado sempre o monitor AOC 24G2U, ouvido pelo headset Barracuda X com Windows Sonic para Auscultadores ativado, sempre a correr o jogo em Exclusive Fullscreen apenas com a Steam e processos típicos do Windows a correr na máquina. Todas as imagens foram também redimensionadas para 720p, abaixo dos 200 KB por questões de largura de banda. Em baixo encontram-se as opções supramencionadas que utilizei para obter um desempenho aceitável a sessenta fotogramas no launcher antes de iniciar o jogo.
Antes de começar relembro que o título Marvel’s Spider-Man já se encontra analisado na Squared Potato pelo Bruno Vieira. Admito que começo a notar um padrão em títulos PlayStation com o meu estimado colega de caneta, quiçá não seja esta um início de uma bela amizade de ofício? Desculpa-me. Estou a divagar. Marvel’s Spider-Man foi a excelente oferenda ao mundo que cimentou o lugar da Insomniac Games como estúdio para produzir títulos super-heróicos, mesmo ao lado da Rocksteady e o seu icónico Batman: Arkham Asylum. Coloco este último na grelha por um sentimento de mesmice que vai desde o combate a outras mecânicas relacionadas, relembrando também outros títulos de mundo aberto, por exemplo clássicos Ubisoft, com tanto mais do mesmo. Atenção que não estou a ser mau, afinal de contas o ciclo que liga estes videojogos é viciante, com desafios no mundo aberto, torres para desbloquear secções do mapa, missões secundárias de pouco interesse, vários colecionáveis, tudo isto já foi praticado inúmeras vezes. Se carecia de novidades em 2018 quando Marvel’s Spider-Man saiu na PlayStation 4, muito de certeza não há em 2022.
Porém, apesar da minha crítica inicial, a Insomniac Games produziu o que é, sem discussão, a aventura derradeira que todos nós desejávamos ter tido em criança quando o mundo era tão mais mágico e inocente, quando uma viagem longa no carro fazia a imaginação disparar por todos os bairros ultrapassados. Marvel’s Spider-Man faz todos os esforços e mais alguns para que tu sintas o que é vestir o fato do Homem-Aranha. Desde a jogabilidade acrobática, flexível e fluída até ao enredo dramático, memorável e emocionante, todos os elementos (fora atividades do quotidiano) procuram pescar pelas tuas emoções na dificuldade que é viver a vida dupla de Peter Parker e seu alter-ego.
O sustentáculo que apoia as quinze a vinte horas de enredo (talvez entre trinta a quarenta para todos os troféus), assim como as dez horas de conteúdo adicional através de DLC, é o webswinging aperfeiçoado pela equipa da Insomniac Games, tão característico deste super-herói. Nunca baloiçar pela cidade de Nova Iorque fora tão divertido como até à data de saída deste título. Oscilar num ritmo eletrizante como só era visto no grande (ou pequeno) ecrã e até na banda-desenhada, provoca uma excelente, e quase relaxante, sensação de liberdade. Este elemento, em conjunto com tudo o resto, transforma a aventura numa viagem emocionante não só pelos elementos de combate, onde Homem-Aranha é um artista de rua acrobático, mas também pelas sequências cinemáticas e tremendas prestações de voz que enchem as personagens com uma outra vida.
Ao contrário do que várias iterações da personagem fazem, este Homem-Aranha é um individuo mais velho e experiente, descartando a necessidade de testemunhar (mais uma vez) a morte do pobre tio Ben, e o titular herói a ultrapassar fases de angústia adolescente. Sem fornecer grandes detalhes para não estragar as várias surpresas, são várias as ligações interpessoais, muito bem escritas, formadas tanto pelo Homem-Aranha como pelo Peter Parker que carregam a narrativa e enredo em punho, prestando peso emocional quando necessário. Facto curioso: Os profissionais que prestam a voz a Homem-Aranha e Yuri Watanabe são casados na vida real. Dito isto Marvel’s Spider-Man Remastered apresenta-te uma história repleta tanto de momentos levianos e lúdicos como negros e dramáticos, merecendo ser vividos por todo o fã do cabeça de teia.
Fora do reino do enredo a jogabilidade e o mundo aberto em Marvel’s Spider-Man Remastered abrem progressivamente, adaptando-te aos seus desafios secundários, com o avançar da história de uma forma simpática. Nunca és inundado, por exemplo, com a obrigatoriedade de várias tarefas banais por fazer a não ser que as procures por iniciativa própria. Existem, no entanto, uns elementos como minijogos no laboratório onde Peter Parker trabalha, ou as secções furtivas da Mary Jane cuja funcionalidade é de manter a experiência fresca, porém nunca chegam a ser impactantes o suficiente para realmente destacar; mas felizmente também nunca duram muito tempo. O mais recompensador é, na verdade, a experiência e várias moedas de troca acumuladas que permitem desbloquear novos fatos, habilidades ou engenhocas. Estes componentes mesclam muito bem com o combate de uma forma orgânica que desbloqueia complexidade com o passar do tempo, transformando o justiceiro ilegal de amador a máquina imparável.