Desenvolvido pela Fluxscopic Ltd como sendo o seu primeiro grande título longo e ambicioso, Mayhem in Single Valley é uma aposta pixelizada e muito particular e disponível em exclusivo para PC, via Steam, distribuído pela tinyBUILD.
Caso sejas fã de jogos de plataformas e puzzles, posso-te já garantir em síntese que este jogo valerá o teu dinheiro. O seu valor é muito reduzido ao padrão do qual estamos habituados actualmente, e existe aqui muito esforço colocado no projecto, e acima de tudo uma entrega consistente e divertida.
O personagem principal que dá vida ao tempo e espaço passado neste jogo é Jack Johnson, um rapaz criado por uma família problemática e desleixada. A aventura começa com Jack a arrumar os seus bens e tralhas, prestes a despedir-se da família rumo ao seu maior sonho: a faculdade de artes. Infelizmente, surge antes da sua partida um acontecimento que muda por completo a sua vida, após o despejo de um produto químico pela cidade. Jack acaba por levar as culpas de tudo o que se irá suceder pela cidade, quando apenas tentava recuperar a sua mochila roubada por um esquilo, que após o consumo desse resultado tóxico virou um autêntico morto-vivo.
É então aí que começa a jornada de Jack controlada por nós, numa narrativa muito cómica e tresloucada, que por vezes também exagera, mas que nos transmite boas mensagens como a jornada que tantos anseiam e procuram, a viagem da autodescoberta, e a precipitação de julgamentos, muitas vezes imaturos e precoces. Mayhem in Single Valley consegue lidar bem com esses extremos, da seriedade obscura, e do humor ao extremo; e encaixar tudo (mesmo que com alguns exageros), de uma forma densa. Ah, E já vos disse que por vezes algumas piadas parecem directamente saídas de um episódio de South Park?
A arte gráfica do jogo está muito bem conseguida, com animações de transições suaves e muito engraçadas, bem a combinar com toda a temática do jogo. A Fluxscopic —ainda que — com um currículo curto, esmerou-se bastante. Além da deslumbrante pixel art, a iluminação e sombras são de alta qualidade, remetendo-nos muitas vezes a uma pintura utópica e moderna em movimento.
Já a jogabilidade está uns pontos abaixo do restante criado pelo estúdio Canadense. Encontrei alguns bugs no caminho, logo a começar pelo tutorial que por alguma razão me fez bloquear literalmente numa fase em que tive que colectar fezes do cachorro. Não haveria uma maneira mais digna de isto acontecer? Também alguns segmentos da jogabilidade não foram tão bem trabalhados como deveriam, principalmente a mecânica de lançamento, que nos faz mirar e atirar objectos e em que muitas vezes parece randomico; tal é a forma como o resultado nada tem a ver com a resposta do teu comando. Várias vezes sinto que acertei nos inimigos e o hitbox não quis ser accionado.
Existem confrontos, ou lutas (como queiras chamar), geralmente contra animais infectados, que merecem algum do teu tempo para cálculo e estratégia, já que é muito fácil ficar sem a munição que colectas do chão, a somar a dificuldade nesse comando que mencionei. Acredita que irás morrer muitas vezes se não calculares bem o passo a seguir antes de agir. Mais tarde, eventualmente acabas por te habituar ao ritmo do jogo, e desbloquearás novas armas que te ajudarão imenso, como a famosa fisga (não seria um jogo fixe sem um puto com a sua fisga, correcto?), que te dá um controlo mais preciso, ainda que nada perfeito.
Os quebra-cabeças no geral são fáceis de resolver, e o nível de dificuldade do jogo é balanceado. Apenas estes pequenos bugs podem arruinar um pouco da tua experiência, algo que com certeza será corrigido nos futuros updates. Ah, e já vos disse que o Kenny, err… Jack — o vosso personagem — vai morrer imensas vezes e a tinyBUILD até fez um vídeo que celebra 55 maneiras de falecer no jogo? Vale de facto tudo, desde ser apanhado por um relâmpago, fezes tóxicas de macaco, peixes-voadores ou até garras de leões. O céu é o limite!
Também tens acesso a um inventário, simples e intuitivo, no qual podes personalizar algumas roupas do teu personagem que te darão alguns bónus extra. Poderás gerir os teus coleccionáveis que irás apanhar durante a jornada (e acredita que são bastantes), como bonecos e figuras ligadas ao universo do jogo, ou até algumas faixas de música que poderás usar no teu walkman.
A banda sonora é composta e trabalhada por Brian Cullen e Mark Shannelly. As faixas são alegres e diversas, ainda que por vezes cansam-nos os ouvidos durante a navegação ou resolução de um puzzle mais demorado.
Mayhem in Single Valley já está disponível para PC, Mac e Linux na Steam.