Conheci Metal Slug nas máquinas de arcadas de cafés no início dos anos 2000, e desde cedo me apaixonei por aqueles sprites incríveis que até hoje, se destacam de tudo o que é jogo retro. É uma saga intemporal, e que terá sempre um carinho especial no meu coração.
Nas mãos da Leikir Studio e publicado pela Dotemu, a saga teve aqui uma espécie de metamorfose de género, e foi de um Shoot ’em up para um RPG táctico roguelite, uma abordagem de um giro de 180º no estilo. Metal Slug Tactics, anunciado na E3 de 2021, foi agora lançado, 3 anos depois.
Se são familiarizados com sagas como os Fire Emblem da 3DS, ou o mais “recente” Into the Breach, saibam que irão ter um estilo idêntico visual e em jogabilidade aqui, ainda que com uma proposta ligeiramente diferente: Metal Slug Tactics é um roguelite, e ligeiramente mais directo na sua abordagem. Caso não estejas familiarizado com o conceito de roguelike ou roguelite, pena nisto da seguinte forma: tens uma run para completar que escolherás como abordar no início. Caso o objetivo principal dessa run não seja alcançado, ou o esquadrão seja derrotado, será um game over, e começarás uma nova run, mas com habilidades passivas desbloqueadas através das missões ou compradas na run anterior, se for o caso.
O início do jogo, tal como as primeiras horas, são assustadoras de tão punitivas que são, tanto na abordagem dos tutoriais como na execução dos mesmos aprendidos. Passei por essa dificuldade porque os mapas amplos são complexos e gerados de forma automática, e a falta de ataques nas diagonais é rapidamente sentida, e só mais tarde a desbloquearás através de perks exclusivos de certas personagens.
Só com algumas runs completas e umas mortes pelo caminho, é que começarás a entender as manhas do jogo, e como as mecânicas especiais são levadas a sério, principalmente a sincronização, uma mecânica fundamental que faz ser possível acumular vários ataques no mesmo inimigo, tudo no mesmo turno, sem skippar outras personagens. Essencialmente, para isso acontecer, terás que ter os teus personagens alinhados com o inimigo (ainda que possam estar em outros ângulos) de forma a desencadear um ataque em cadeia. Mencionei logo esta mecânica, pois, a meu ver é a mais importante do jogo, e o sucesso em muitas situações.
O sistema de cover funciona como um todo, isto é; não existem ângulos mortos. Assim que movimentes o teu personagem para qualquer lote ou destroço com o símbolo de escudo, automaticamente estarás com novos pontos de defesa, de qualquer ângulo. No entanto, em Metal Slug Tactics, os desenvolvedores quiseram que não ficasses estático tal como um Fire Emblem em que por vezes é a melhor solução. Aqui, a movimentação, é a chave do sucesso. Ao movimentares-te (e quanto mais longe melhor), ganharás pontos de esquiva que te ajudarão a desviar do armamento dos inimigos. Permite-me o anglicismo desta forma, mas pensa neste jogo como um Run and Gun Roguelite. Caso entendas este conceito, terás sucesso rapidamente neste jogo.
A nostalgia aperta quando temos todos os personagens desta icónica franquia presente em Tactics. Marco, Fio Germi, Tarma Roving, e até personagens de Metal Slug 6 como o Ralf ou o Clark. Cada um destes heróis tem poderes e habilidades únicas: o Marco é uma personagem poderosa e com passivas de controlar os inimigos ao longe. Já a Fio, é perfeita para ataque à distância e passivas com bónus de ataque dos aliados. O Tarma, é o personagem mais ágil do jogo, com um range curto mas muito efectivo, e por aí vai.
No início, apenas estão presentes no esquadrão o Marco, a Fio e a Eri, mas mais tarde, desbloquearás os restantes. A variedade é imensa, não só nos heróis, como também nos inimigos e nas localizações. Os personagens suporte como os barbudos Ichimonji também estão presentes, dando bónus quando os soltas das mãos dos inimigos, e a Rumi, que é usada para completar algumas missões, que são a meu ver; as mais complicadas e chatas do jogo. Os inimigos também estão bem representados aqui, com os básicos dos básicos soldados, passando pelas múmias de Metal Slug X, e até os cães mumificados estão presentes. Quem procura uma boa dose de nostalgia, não se fica só pela dose, e tem aqui um menu cheio.
Depois de cada mapa completado, existe o boss final, com níveis desafiantes de alguns dos bosses mais icónicos da série. São fases únicas e que requerem ainda mais atenção do que o habitual. Uma vez que este título é um roguelike, o progresso passa de nível para nível, e cada personagem conta com uma arma principal que essencialmente passa pela caracterização do tipo de combate, como uma pistola, ou granada. No outro slot, tem uma arma especial, composta por munição que se vai gastando, mas que irás poder obter ao completar algumas missões. Essas armas são extremamente poderosas de forma geral, e será com elas que irás causar mais dano, aconselhando assim a guardar para as ocasiões mais difíceis do jogo. Além destas armas, algumas fases permitem que entres com algum dos heróis no tanque SV tão bem conhecido. Este tanque de combate possui características próprias e causa bastante dano, além de conseguir atacar de todos os lados.
As habilidades podem ser adquiridas nas lojas após determinadas fases, assim como as armas podem levar com upgrades. Isto é ganho com moedas que são o pagamento por cada missão, bem naquele estilo de quem conhece roguelikes. Algumas habilidades são confusas e desnecessárias, sendo completamente desequilibradas comparando com outros personagens, mas no geral, é um jogo bem balanceado, com uma progressão certa e recompensadora para quem procura completar todas as missões disponíveis, até as menos exigentes.
Nunca pensei que fossem abordar o background narrativo dos personagens, mas a Leikir quis dar-nos um pouquinho de história, muito bem-vinda, principalmente para quem como eu, acompanhou durante tantos anos estes personagens, sabendo apenas que seriam carrascos de guerra. Aqui, o jogo começa com a fuga da prisão do terrível vilão Donald Morden. De volta ao caos, é declarada pelo mesmo a lei marcial em Sirocco, colocando a cidade num caos profundo de guerra. Mas nem foi na narrativa que me impressionei, mas sim nos diálogos que os personagens podem ter entre si, dando a conhecer um pouco mais sobre as suas origens, traumas, e sonhos, destacando-os daquilo que realmente costumam ser; umas máquinas de matança.
O visual é aquele pixel art perfeito, com uma representação directa em termos de design de personagens e localizações dos jogos clássicos. As movimentações são suaves, e os comandos respondem bem, no entanto, sinto que este tipo de jogo funciona melhor em rato e teclado. O dualsense conseguiu-me confundir algumas vezes o estado de alguns personagens. Quanto à incrível banda sonora, ficou nas mãos do Português Tiago Lopes (Tee Lopes), que como todos bem sabemos, fez um trabalho inacreditável em Sonic Mania. Com temas remixados e mais vivos que nunca, temos a experiência completa do pacote nostalgia de Metal Slug aqui.
Agradecemos à Cosmocover por nos ter cedido esta chave para análise, para a plataforma PS5.