Quem nunca por mera curiosidade se aventurou por cavernas escuras, enfrentou monstros ferozes, desvendou caminhos complexos, e tudo isto através de um simples terminal de texto? Os primeiros RPGs de computador surgiram assim, com interações baseadas em texto, mas que nos transportavam para realidades alternativas, e criou o despertar da nossa imaginação para os resultados dos role-playing games que conhecemos hoje.

Metro Quester: Osaka bebe muito dessas origens. Trata-se de um RPG de exploração de masmorras com elementos de percentagem, dados, exploração de fraquezas e sorte, evocando a nostalgia dos clássicos jogos de computador dos anos 80, em que a matemática era mais importante que qualquer outro elemento jogável. Eu não vivi essa época, mas como qualquer curioso por este universo, já me aventurei por títulos como Rogue, Deep Dungeon, e até os primeiros Final Fantasy. Estas experiências habitualmente duram apenas umas dezenas de minutos, só para sentir aquele pequeno gosto imaginário de quem viveu nessa época.

Voltando a Metro Quester, trata-se de uma pequena saga que, apesar de apresentar elementos modernos, carrega consigo um forte DNA dos clássicos RPGs, e é facilmente perceptível pelas suas mecânicas e estética. É uma experiência muito mais simplificada, concisa e direcionada. O primeiro jogo saiu em maio de 2023, criado pelo artista de mangá Kazushi Hagiwara, produzido pela Thousand Games e distribuído pela KEMCO, e agora chega a sequela que pouco ou nada muda, Metro Quester: Osaka, o jogo analisado hoje.

A premissa é a seguinte: o mundo entrou em colapso, terramotos assolaram o país e a destruição foi imensa. Os mais fortes permanecem, mapeando tudo o que restou do mundo para tentar sobreviver. A região em que o jogo se passa é Osaka num futuro distópico. Uma terra outrora vibrante e cheia de vida, agora desolada e em ruínas. A narrativa não vai desenrolando muito com o progredir do jogo, mas cabe-te a ti, com uma party 5 personagens de 32 disponíveis, salvar a humanidade das terríveis criaturas que nasceram do subsolo.

O jogo funciona da seguinte maneira: mediante mapeamento do mapa, vamos explorando para abrir novos caminhos até chegar ao objectivo final, isto tudo num visual 8-bit que nos faz lembrar a terceira geração de consolas. O problema, é que cada movimento e acção dada, consome uma espécie de combustível do jogo, que inicialmente é de 100 unidades. Ao longo do mapeamento, descobrirás novos acampamentos, e podes-te mudar para lá a troco de comida, o outro recurso do Metro Quester. No final de cada 10 dias, é apenas de uma certa quantidade de comida que precisas, que vai aumentando à medida que recrutas novas personagens.

Progressão feita através da exploração, é hora de encontrarmos os famosos e punitivos monstros que tal como nós, perambulam por ali. É aqui que entra a complexidade e magia do jogo. Os encontros com estes monstros não são como um RPG do qual estamos habituados a lidar principalmente no século XXI. Basicamente, definimos através dos action points os ataques dos personagens. Cada um começa com 5 action points (alguns evoluem mais tarde) que podem e devem ser gastos para definir acções, e depois de definido, o combate desenrola-se automaticamente, com um pequeno relatório de texto que narra tudo.

As definições são resolvidas nas STATS de cada personagem, matemática pura. Existe a Vitalidade (VIT), Agilidade (AGI), Destreza (DEX), Inteligência (INT), Força de ataque (MEL) Poder de disparo (SHO), Habilidade de explosivos (OPE), e Defesa (GUA). Quem ataca primeiro é definido normalmente pela velocidade de cada personagem. Os buffs são muito importantes, já que existem inimigos extremamente desbalanceados, e o grinding é um mal necessário, mas que pode ser ajustado com o aumento da velocidade de combate.

Existe uma variedade imensa de armas e acessórios para equipar os personagens, e são 8 classes diferentes para explorar, cada uma delas com as suas habilidades, activas e passivas. É extremamente satisfatório combinar itens e skills e ver o desenrolar dessas combinações durante as batalhas. Um simples item pode fazer completamente a diferença, e a combinação é necessária, e aconselhada, uma vez que existe um gap (que também vai aumentando) de nível máximo.

O painel direito que nos acompanha a todo o momento, indica-nos tudo o que precisamos de saber para progredir, o nosso estado de comida, e recursos que servem para dar upgrades nas armas, e com isso ganhar mais poder de combate. É nesse painel que nos guiaremos também para abrir novas portas (com as chaves encontradas) para desbloquear novas rotas para mapear. O jogo não te brinda com a famosa facilidade ocidental, muito pelo contrário. Existem locais em que um turno chega para morreres. A única facilidade que o jogo te dá é que todos os combates podem ser interrompidos a meio, a troco do famoso combustível purificante.

Nunca saberás quais são os inimigos que irão calhar, já que são definidos puramente por RNG, mas pelo menos terás noção da dificuldade, através das cores apresentadas: azul, vermelho e roxo. Também essas cores definem os tipos de ataque: Azul para os ataques mágicos que consomem recursos como munições, explosivos, gadgets, medicina, etc. Ataques marcados a vermelho definem o clássico corpo-a-corpo, e por vim o verde, que são os heals, ou itens de cura.

O desafio é imenso, e custou-me cerca de 22 horas a completar o jogo, perdendo provavelmente 3 delas no boss final. Depois de finalizares o jogo, podes aventurar-te pelo New Game+. Não o fiz, mas acredito que seja uma experiência devastadora a nível de dificuldade.

O visual, por muito que possa aparentar este aspecto retro, por incrível que possa parecer foi o que mais me atraiu no jogo. Esta estética verde dos menus, a navegação visual pelo desconhecido e o design das personagens, fizeram-me emergir na experiência como já não o fazia num RPG há um bom tempo.

Agradecemos à KEMCO por nos ter cedido esta chave para análise, para a plataforma PS5.

CONCLUSÃO
Viciante!
8
Igor Gonçalves
Curioso, explorador, e fã de videojogos desde que me lembro, e em especial pela saga Metal Gear. Não jogo plataformas, jogo jogos.
metro-quester-osaka-analiseMetro Quester: Osaka é uma nostálgica viagem aos RPGs de texto dos anos 80, com uma jogabilidade baseada em mecânicas clássicas, em que a matemática é a chave. O jogo, ambientado num universo distópico de Osaka, desafia o jogador a explorar um mundo pós-apocalíptico cheio de criaturas horrendas, num desafio em que só quem pretende entregar a sua paciência pode finalizar.