Estou nervoso, ligeiramente transtornado, e muito feliz ao mesmo tempo. É uma tiborna emocional que não esperava encontrar depois de treze horas com Metroid Prime Remastered, o segundo shadow drop de 2023 mais impactante da indústria, revelado logo após o Nintendo Direct do dia oito de Fevereiro. Nervoso por causa da nota atribuída, transtornado por ter esperado (inconscientemente) vinte anos para o jogar e muito feliz por finalmente tê-lo feito.
Permite-me despachar a leitura habitué do verso das caixas de cereais: Metroid Prime Remastered, descrito como um First Person Adventure, é uma remasterização do título com o mesmo nome na Nintendo GameCube em 2002, servindo como uma fiel e modernizada representação do original, com melhorias no departamento audiovisual e, talvez o mais importante, um sistema de controlo renovado que irá agradar fãs miúdos e graúdos. Por outras palavras, sendo grandemente modesto, é um título que merece estar na tua biblioteca.
Quando refiro isto não o faço levianamente. Metroid Prime Remastered desafia o teste do tempo com ousadia e inteligência; fá-lo de tal forma que causou o misto de emoções suprarreferido. O que terminei de jogar há coisa de dias poderia, muito bem e sem pestanejar, ser um produto dos dias de hoje na consola híbrida da Nintendo. Todos os elementos que o compõem interligam-se brilhantemente, e a transição da fórmula Metroid para o espaço 3D é uma proeza tamanha sem soluços.

Mas vá, compreendo, chega de bafejar positivamente um videojogo já altamente cotado no Metacritic. Passemos à análise propriamente dita.
Metroid Prime Remastered segue mais uma aventura da caçadora de recompensas, Samus Aran, situada cronologicamente após Metroid: Zero Mission, mas antes de Metroid Prime Hunters. Larga parte da ação passar-se-á em Tallon IV, um planeta detalhado em biomas ricos e interessantes com várias criaturas hostis, bosses poderosos e múltiplos quebra-cabeças. Infelizmente, Samus Aran não veio para passear, e após uma sequência de eventos tumultuosa, depara-se com uma conspiração erguida pelos Space Pirates em dominar uma substância denominada como Phazon.
Enredo, francamente, simples e expectável, mas é aqui que Metroid Prime Remastered surpreende com um dos seus maiores trunfos: storytelling e narrativa. Durante toda a exploração de Tallon IV tu, como jogador, utilizarás uma habilidade chamada Scan para aprender mais sobre o que te rodeia. Esta permite que todas as descrições da civilização Chozo que desvendas, em conjunto com os logs recolhidos de computadores dos Space Pirates, formem peças individuais de um puzzle que, quando junto, desmascara o enredo.
É importante destacar isto pois, com a passagem eterna e constante do tempo, excetuando títulos como a franquia Souls (entre outros) muitos videojogos, com mais orçamento, realizaram sequências cinemáticas cada vez mais expositivas e explosivas; vários títulos, inclusive, amamentam os jogadores à colherada todos os aspetos de uma estória. Não que isso esteja errado, mas é tão refrescante quando um videojogo decide fazer o contrário, colocando a descoberta sob responsabilidade da agência do jogador.

Posto isso, torna-se impossível não referir a atmosfera imersiva de Metroid Prime Remastered. Desde a jogabilidade até à banda sonora, todos os elementos funcionam em sonância para que a aventura por Tallon IV seja o mais memorável possível. Um feito invulgarmente atingido por outros títulos. Porém, como referi anteriormente, nunca pensei que a fórmula refinada em Super Metroid fosse tão bem traduzida para um espaço 3D, muito menos desta forma sombria e cativante.
Com algum atrevimento afirmo até que Metroid Prime Remastered apresenta um deuteragonista: Tallon IV. Sim, estou a esticar o grappling hook, mas dizer que o planeta está vivo é uma forte mitigação da realidade. Sombrio e sorumbático, Tallon IV apresenta-se com visuais impressionantes graças à remasterização e recriação de todos os assets originais, repleto de música assombrosa (oiçam “Chozo Ruins – Depths”) e efeitos sonoros inquietantes. Para elaborar mais um pouco, tanto Samus Aran como Tallon IV partilham uma relação simbiótica, onde o desenvolvimento de um não acontece sem o outro.
Seria crasso de mim não referir a atenção ao detalhe como outro ponto a destacar, sendo o desígnio dos níveis fenomenal, estes interligados por várias passagens e múltiplos biomas que apresentam à caçadora de recompensas cavernas e passagens claustrofóbicas e lúgubres e até espaços abertos, detalhados com uma mistura atraente entre ficção científica e fantasia dado as ruínas e artefactos ancestrais presentes, criando uma estética única e memorável.

Contudo, novamente, Metroid Prime Remastered identifica-se como um first-person adventure e isso reflete-se na jogabilidade, uma mistura equilibrada e interligada entre exploração, combate e resolução de quebra-cabeças. Tallon IV aqui assume o papel de um parque de diversões, onde cada scan no meio-ambiente revela pistas não só para o enredo, mas também para a caça às melhorias como energy tanks ou missile expansions, upgrades clássicos na saga Metroid.
A exploração, no entanto, revelou a minha nabice com mais possança. Ao bom estilo Metroidvania, Metroid Prime Remastered obriga-te a percorrer Tallon IV de trás para a frente, sempre com atenção a qualquer elemento que possa ter escapado à atenção para progredir no enredo. Porém, no mapa presente no menu principal, não obstante a boa tipografia, sente-se a ausência de QOL (quality of life) como, por exemplo, destacar salas já totalmente exploradas. Perdi imenso tempo no início por não apontar o nome delas, vagueando pelo planeta há busca de respostas. São niquices minhas, pronto.
Um dos pontos mais interessantes em metroidvanias é o acasalamento de todas as partes que os compõem. Refiro-me neste caso, pois claro, às melhorias que Samus recolhe durante o decorrer de Metroid Prime Remastered. Não só estão estas atualizações do seu arsenal (bombas, mísseis, etc.) perfeitamente adaptadas para providenciar vantagens em combate, como servem para aceder a novas localizações no mundo, progredindo a aventura com uma sensação de cadência espetacular.

Honesto à fórmula metroidvania como Metroid Prime Remastered indiscutivelmente se identifica, reflete nesta seguinte consideração: apesar do equilíbrio existente, a estrela do espetáculo é a exploração e não o combate, algo que poderá não ser do teu agrado. Tem elementos de shooter, sim, como os inimigos ocasionais que mantêm-te alerta durante a travessia por Tallon IV, mas aqui reina um solene sentimento de imersão em conjunto com a atmosfera e banda sonora, completamente diferente das aventuras mais espalhafatosas em primeira pessoa.
Posto isso o combate é, acima de tudo, um destaque nesta versão em específico, graças aos controlos modernizados. Estes comportam-se como um título mais contemporâneo, aperfeiçoando os encontros contra bosses, tornando-os mais divertidos. Claro está, em bom estilo Metroid, estes inimigos mais avantajados não são simples alvos a abater ou esponjas inflacionadas, cada um exige uma estratégia específica.
Apesar de existir um novo esquema de controlo, é possível reverter para o modo clássico (GameCube) ou motion (Wii) híbrido (mistura dos dois) assim como ativar Gyro Aiming. Admito que testei pouco estas opções, mas apesar de não gostar de gyro aiming confirmo, felizmente, que está bem implementado para quem adorar essa opção na sua Nintendo Switch.

No que toca à acessibilidade Metroid Prime Remastered apresenta algumas opções: inverter os eixos, alterar alguns inputs, mudar a opacidade do HUD, retirar o capacete da Samus, etc. Mais do que isso, porém, será uma opção que permite aos jogadores daltónicos personalizarem a sua experiência de jogo. Isto é importante dado a dependência de cor em várias situações.
Antes de concluir a análise disponibilizo uma última adenda. Quem acompanhou as minhas publicações online, nas redes sociais, certamente verificou quão vocal fui face ao preço pedido de 39,99€. Afinal de contas a versão da trilogia na Wii, por exemplo, vendeu por 59.99€. No entanto, não obstante um ou outro argumento, o preço pedido é mais do que justo pela experiência que é e pelo trabalho feito no remaster (consulta o vídeo da Digital Foundry).