Numa categoria onde, este ano, a oferta é vastamente superior à procura (ide online procurar pelos chavões RPGs e 2023) surgiu em Setembro as versões PlayStation 4 e 5 de Monochrome Mobius: Rights and Wrongs Forgotten, desenvolvido pela Aquaplus e Design Act e publicado pela NIS America. Apesar de estranho este entitulado Monochrome Mobius faz parte, na verdade, da franquia Utawarerumono, uma mão cheia de videojogos japoneses inseridos num género híbrido entre Visual Novel e Tactical para adultos.
Refiro tudo isto porque, ao receber um título para análise, faço sempre duas pesquisas: uma antes de iniciar a aventura e outra antes de escrever, não vá escapar-me qualquer pedaço interessante para enriquecer o texto e, por consequente, o teu conhecimento. Neste caso em concreto Monochrome Mobius apresenta-se como título comemorativo do vigésimo aniversário da franquia, e narrativamente é uma prequela a Utawarerumono: Mask of Deception.
Posto isso o enredo de Monochrome Mobius é uma aventura simples, porém intrigante com os clichés inerentes ao género, com um sapateado narrativo típico para o público japonês e ao que este está habituado: laços familiares recuperados, grupo formado por personagens caricatas, mistérios por descobrir e momentos desoladores assim como outros que esboçam um sorriso na cara, embora alguns estejam barrados por desenvolvimento lento; o típico fenómeno português de “encher chouriços”.
Contudo, Monochrome Mobius não perde tempo em atirar-te com o maior leque de nomes e elementos estapafúrdios para desconhecidos da franquia. Isto não impede de consultares o glossário dentro do jogo para mais informação mas, se fores como eu, simplesmente aceitas o status quo e bola para a frente. Não obstante ser possível desfrutar do contexto geral como título único, de certeza que existirá maior recompensa com conhecimento prévio da franquia Utawarerumono.
Infelizmente, parte da jogabilidade das 30 e poucas horas de história são batalhas por turnos repetitivas e rápidas, iniciadas por colidir contra inimigos durante a exploração. Estas não são inerentemente más; existe um charme na sua execução tradicional, mas Monochrome Mobius nunca surpreende neste departamento, em parte por culpa do Action Ring, uma mecânica que governa a ordem dos turnos e outros benefícios, explicado em algum detalhe pelos tutorials dentro do jogo.
Durante o desenrolar da aventura constatei que este Action Ring não foi de fácil leitura ou compreensão, alterando o meu estilo de jogo para um às cegas e à mercê do que Monochrome Mobius colocava no meu prato com os turnos das personagens. Apesar de dar as boas-vindas a mecânicas novas e interessantes, senti que esta não fora bem executada, tanto a nível estratégico como a leitura da interface gráfica.
Fora dos embates somos induzidos a explorar os vários biomas apresentados, com múltiplos baús espalhados por abrir. Este elemento encontra-se bem equilibrado, sempre com um número suficiente e aliciante para percorrer cada mapa. Isto, em conjunto com as batalhas e suas recompensas, vai ao encontro de um grind natural, embora entediante e constante, para atualizar as personagens e seu armamento.
Lamenta-se, no entanto, o aspeto áspero e rústico dos visuais, assim como as animações robóticas e rígidas das animações em Monochrome Mobius. Tudo exceto as personagens principais receberam um pouco menos de atenção por parte da equipa que, neste caso, simplesmente deixa um mau gosto na boca e uma dissonância visual ainda bastante ampla. É daqueles títulos que notamos que foi claramente construído com um orçamento apertado em mente.
Admito que no meio de tanta mediocridade surpreendeu-me a banda sonora. Monochrome Mobius apresenta várias faixas ao longo da aventura, onde cada uma detém um sentimento distinto que, apesar de não serem obras-primas ou ficarem tanto assim no ouvido, servem o seu propósito de tentar acentuar os momentos mais dramáticos, intensos ou relaxados. Falta um je ne sais quoi na composição, mas não deixam de ser bastante competentes.