Com uma narrativa mais envolvente, novidades como montarias e um modo de foco brilhante, e graves problemas de optimização, eis que nos chega o tão esperado Monster Hunter Wilds da Capcom, uma das galinhas dos ovos de ouro de 2025.

Comecemos exactamente pela vertente que mais me deixou desapontado, a optimização. O título foi jogado numa Xbox Series S e também testado numa Xbox Series X, e bem, a experiência (principalmente na Series S) deixa muito a desejar. É sabido que a consola da Microsoft tem as especificações mais fracas da nona geração de consolas, e que o seu hardware pode dificultar a vida dos desenvolvedores, mas este argumento é rapidamente invalidado quando Monster Hunter Wilds é também experienciado por mim numa Series X, numa experiência igualmente danosa ainda que em menor proporção.

Ignorando aqui a Playstation 5 PRO por ser muito recente e não ter tido a oportunidade de a experimentar, Monster Hunter Wilds conta com vários modos pelas três consolas caseiras da nona geração:

  • Modo Resolução (PS5 e Xbox Series X): Resolução dinâmica de 1800p que oscila rapidamente, de modo a focar na qualidade, atingindo os 30 quadros por segundo.
  • Modo Desempenho (PS5 e Xbox Series X): Resolução dinâmica que varia de 720p a 1080p de modo a focar em atingir 60 quadros por segundo
  • Modo Balanceado (PS5 e Xbox Series X): Resolução média que vai até aos 1224p, focado em atingir 40 quadros em ecrãs de 120 Hz, mas para isto, precisas de uma TV ou monitor compatível.
  • Modo único (Xbox Series S): Resolução que oscila entre os 1080p e os 720p, travado em 30 quadros por segundo.

Se ficássemos pela resolução com uma taxa de quadros sólida e mantendo os cenários limpos e polidos, eu não estaria a mencionar este ponto que considero super importante, mas não; Monster Hunter Wilds compromete em todas as consolas e até PC a nível de texturas, quedas frequentes da taxa de quadros que prejudicam a jogabilidade, iluminação inconsistente e texturas ausentes completamente de vivacidade e polimento. Estamos a falar de um título que entrega muito mal, mesmo sem ter a qualidade gráfica de grandes portentos gráficos como Red Dead Redemption 2, God of War Ragnarok, Horizon Forbbiden West, e até o próprio Monster Hunter World em algumas ocasiões.

A RE Engine, tem oferecido eficiência em jogos lineares, e a prova disso é o mais recente Resident Evil 4 Remake, Devil May Cry 5 e até o Street Fighter 6 que já mostrava alguma inconsistência no seu “open-world hub“. No entanto, parece que a utilização deste motor em jogos de mundo aberto, não tem sido tarefa fácil para a Capcom. Só nos resta aguardar por melhorias.

Mas vamos ao que interessa realmente, as qualidades e novidades que fazer Monster Hunter Wilds se destacar desta longa saga que já nos acompanha desde 2004. Quais são as novidades? O jogo continua tão bom como os anteriores? Vou tentar responder, como um jogador casual apreciador desta saga e que não jogou todos os Monster Hunter lançados até à data. Tenho mais de 100 horas em Monster Hunter World, e não joguei sequer o Rise, portanto, algumas comparações a fazer será com o título lançado para PS4, Xbox One e PC.

Comecemos pela narrativa, que é muito mais envolvente de tudo o que joguei desta saga. Voltarás a assumir o papel de um caçador(a), que podes personalizar ao teu gosto, e desta vez tem diálogos completos. Não é que seja um grande orador, mas pelo menos não nos ficamos apenas pelos grunhidos de combate e esforço, trazendo assim uma nova vida para a narrativa.

A narrativa é maior que MHW, e muito mais interessante. Senti um laço emocional tanto com as personagens, como alguns monstros que habitam naquela fauna incrível que a Capcom criou. Algumas destas majestosas criaturas deram-me literalmente pena de as ter que caçar. O jogo conta com personagens muito bem elaboradas e com mais lore, como a Alma, o nosso braço direito. Essencial para o recon, ela fornece informações essenciais e acompanha-nos nas caçadas. Destaco também a ferreira Gemma e o seu carisma, e o mistério de Nata, que nos introduz à lore de Monster Hunter Wilds, sendo o personagem receptáculo onde habita o maior mistério da narrativa.

Esta construção da história de forma lenta mas progressiva da Capcom ganha outro nível, quando somos apresentados aos Seikret, uma espécie de montaria que auxilia na locomoção e também pode ser usado em combate, ainda que não seja muito conveniente. Este bicharoco que se assemelha muito a um Chocobo da série Final Fantasy, pode facilitar muito a tua vida, já que podes afiar a arma e até curar-te enquanto estás montado, tornando tudo muito mais fácil. Além destas funcionalidades, o Seikret deixa-te armazenar uma arma secundária, ideal para várias caçadas em cadeia.

Este é um jogo muito mais convidativo para os novos jogadores, já que te atira tutoriais a torto e a direito, e acabou por simplificar algumas mecânicas iniciais. Lembro-me de iniciar Monster Hunter World pela primeira vez, e ter ficado boquiaberto com a minha falta de jeito com aquele título. Já não me aconteceu em Wilds. O sistema de combate foi aprimorado com a adição de um importantíssimo sistema de foco nos ferimentos, que te permite causar danos adicional ao atacar pontos fracos já feridos, específicos dos monstros. Essa é uma das mecânicas que simplificam, mas que, ao mesmo tempo nos dá um gozo tremendo, e incentiva a análise e leitura da exploração das vulnerabilidades dos enormes monstros.

A cereja no topo do bolo desta franquia é a meu ver, o design e comportamento destas enormes feras, e em Monster Hunter Wilds, a criatividade continua no auge. Cada monstro em Monster Hunter Wilds possui adaptações únicas que refletem a necessidade de sobrevivência no seu habitat específico. Não é que seja alguma novidade, mas é sempre uma maravilha vivenciar o confronto entre monstros quando se cruzam nos limites do seu habitat, e os seus comportamentos perante a fauna num ecossistema sempre vivo, coeso e realista. Sem querer spoilar muito, destaco uma variante de Gorila que ingere cogumelos e, digamos, que solta os seus gases na tua cara, impossibilitando-te de utilizar itens de cura durante um tempo. Tens também um monstro anfíbio com um aspecto de preguiçoso, que utiliza a sua língua para te atacar. O seu nome é Chatacabra, e aquele movimento de criatura ferida a rastejar até ao seu ninho vai-me assombrar para os restos dos meus dias, e quase me fez virar vegan; demasiado cruel.

São 14 armas disponíveis, com um sistema de upgrades idêntico a MHW. Poderás aprimorar a tua arma com ataques de trovão, fogo, e outros danos elementais, ideais para resolver algum problema de fraquezas de criaturas. As armaduras também são feitas com as partes removidas das criaturas, ou ossos espalhados pelo extenso mapa de Wilds. Confesso que sou mais um jogador de Espadas Longas e pesadas, e infelizmente não costumo sair muito da minha zona de conforto. Ainda assim, para efeitos de review (e nada só) arrisquei sem qualquer fundamento, aventurar-me pelas armas de longo alcance; eis que peguei numa Light Bowgun, e foi uma tragédia. A curva de aprendizagem é grande, mas depois de dominares uma arma, logo aprendes os timings correctos de ataque e as manhas para conseguir montar uma criatura e golpear. São imensas armas para explorar, cada uma com um moveset único.

A alimentação desempenha um papel fundamental na preparação dos caçadores para as expedições, e mesmo não sendo novidade, é bom salientar que oferece benefícios significativos que influenciam directamente o desempenho; e se já em Monster Hunter World as comidas tinham um aspecto muito bom, a apresentação visual em Wilds é de ficar completamente doido a salivar. Cada prato é meticulosamente elaborado e extremamente visual e detalhado: Um bife suculento na brasa a pingar de gordura, o pão fumegante com o queijo derretido por cima a fundir-se após cada corte, um ensopado de feijão e uma mistura vibrante de legumes cortados; tudo isto com as texturas de uma Xbox Series S, que tive de repetir no Youtube em 4K para me deixar levar pela culinária dos povos das terras proibidas.

A campanha ficou mais curta; pelo menos causou-me essa sensação. Em Monster Hunter Worlds rastreavamos os monstros, aqui, é tudo entregue de mão-beijada, e esse tempo de pesquisa, é substituído por uma autoviagem na montaria, a ouvir detalhes sobre a fauna daquele universo. Tinha algo de encantador em rastrear os bicharocos, e senti falta disso aqui. Poderás finalizar o jogo com cerca de 16 horas segundo o HowLongToBeat, mas tenho a certeza que demorei bastante mais.

O endgame será algo a ser experienciado ao longo do tempo com as actualizações da Capcom, mas é aqui que Monster Hunter sempre se destacou, e a prova da longevidade da saga. Há algo de especial em grindar (muitas vezes excessivamente) pelas melhores peças, e nada é mais gratificante que construires a build que tanto querias, apenas dependente de um drop que não surgia, e acabou por acontecer. Como casual, pensei que acabaria a história, experimentava um pouco do endgame e ficava-me por aqui, mas a vontade de voltar continua, e continuará pelos próximos tempos.

Se gostam do universo Monster Hunter, e querem uma leitura mais aprimorada e de qualidade, aconselho-vos a ler os artigos do nosso Ex-Batata e especialista das caçadas, Ulisses Domingues. Boas caçadas para todos!

Um agradecimento especial à Ecoplay pela cedência de uma cópia para análise nas plataformas Xbox Series.

CONCLUSÃO
Hora da Caçada!
8
Igor Gonçalves
Curioso, explorador, e fã de videojogos desde que me lembro, e em especial pela saga Metal Gear. Não jogo plataformas, jogo jogos.
monster-hunter-wilds-analiseEm suma, Monster Hunter Wilds chega com grandes novidades de mecânicas e uma narrativa envolvente, com todo potencial de um dos grandes jogos do ano, mas peca em aspectos técnicos que deixam um gosto amargo. Com melhorias técnicas, tem tudo para brilhar ainda mais.