Sinto um misto de felicidade e tristeza ao escrever esta análise, pois embora esteja a escrever sobre Mortal Kombat, uma saga icónica que me acompanha desde os meus anos iniciantes no mundo dos videojogos, podia estar antes a escrever sobre Injustice 3, a minha saga preferida de videojogos de combate. Claro que a tristeza não se sobrepõe à felicidade, pois o lançamento de um Mortal Kombat é sempre um marco na indústria, ainda para mais quando traz consigo a avalanche de mudanças que Mortal Kombat 1 acarreta.

História

Terminamos Mortal Kombat 11 com Liu Kang a recomeçar o universo. Passam-se vários eons em que a paz perdura, até que alguém começa a interferir com o espaço temporal, trazendo de volta poderes que não pertencem à era de Liu Kang. Claro que temos Shang Tsung como cataclisma desta confusão toda, porque quem mais seria?

A narrativa é extremamente bem desenvolvida (talvez a melhor da série), aproveitando uma nova era para oferecer um olhar aprofundado às origens de várias personagens, reinventando-as, mas ao mesmo tempo mantendo a essência como sempre as conhecemos.

Gostei bastante da atenção ao pormenor, como por exemplo os Tarkatans passarem a fazer parte do Outworld, ao contrário dos títulos anteriores, onde pertenciam a outro reino. Este destaque adicional permite-nos explorar melhor as motivações de cada personagem, como Scorpion e Sub-Zero serem irmãos, algo que pressupõe um maior impacto emocional, mas não acho que tenha sido devidamente explorado.

O modo história é relativamente curto, durando cerca de 6 horas, incluindo cutscenes. Claro que não esperava uma longa-metragem digna de Óscares por parte da Netherrealm mas fiquei desiludido quando tiveram o cuidado de preparar uma história tão bem articulada e com imenso fan service, para a terminarem de uma forma completamente abrupta, deixando muitas perguntas respondidas com o simples e habitual “foi magia”.

Jogabilidade

O combate foca-se, essencialmente, no que foi estabelecido em Mortal Kombat X, trazendo uma versão mais rápida e impiedosa do que o antecessor (MK 11). Temos agora um novo sistema de Kameos, sendo estes parceiros que escolhemos antes do início das lutas para nos acompanharem nos duelos mortais.

Salvo algumas excepções, as personagens que escolhemos como Kameo não estão disponíveis como lutadores, o que nos obriga a puxar da criatividade para utilizarmos um lutador que, ao mesmo tempo complemente o estilo de luta do nosso, e também tenha poderes “opostos” para conseguir fazer face a qualquer ameaça. Por exemplo, ao jogar com Liu Kang, que é um lutador mais grounded, decidi alternar entre a Sonya ou Sektor, que utilizam ataques mais direcionados ao combate aéreo.

Estas dinâmicas oferecem uma nova camada de exposição às fraquezas dos lutadores, precisando nós agora de nos precavermos contra duas ameaças. Embora os Kameo sejam utilizações reduzidas e espaçadas, têm também direito a fatalities, diversificando assim o fim das lutas.

Após (ou antes, consoante as preferências) terminarmos o modo História, podemos colocar as nossas habilidades à prova em vários modos.

Chega-nos o novo modo Invasion, com foco em assumir o lugar “principal” de conteúdo singleplayer, destronando assim as famosas torres, que mesmo assim se mantêm em Mortal Kombat 1. A Netherrealm conta diversificar as Invasions em Seasons, ou seja, cada Invasion terá direito a uma história personalizada, apresentando o vilão que a protagoniza, cabendo a nós derrotarmos todos os inimigos até chegarmos ao boss final*.* Esta história e boss irão variar consoante a Season.

Este funciona como um jogo de tabuleiro, tendo lugar em vários reinos, onde passeamos por nódulos, podendo estes ser lutas, lojas, ou simplesmente um brinde. Claro que maior parte das vezes são lutas (com apenas uma ronda), tendo por norma um modificador.

Para além disto, como já referi, temos as tradicionais torres onde podemos colocar as nossas habilidades à prova, seja nas limitadas ou numa torre de pura endurance.

Cada lutador tem várias opções de personalização, sendo estas desbloqueadas de várias formas. Entre objetivos no modo história, lutas específicas nas Invasions, ou ao simplesmente subirmos o lutador de nível desbloqueamos vestuário, fatalities, ou até mesmo a possibilidade de alguns se tornarem casters.

Audiovisual

Para quem viu os trailers não há muito a dizer neste caso.

De longe o melhor jogo de combate em termos visuais. Até à data, sempre achei que os Mortal Kombat eram jogos cuja história saía prejudicada pelos cenários nefastos, quando na verdade tem lore para deslumbrar com bastante facilidade. Parece-me que leram os meus pensamentos pois a Netherrealm aproveita o cenário mais vibrante para dar vida a cada personagem, mesmo contrastando a violência brutal, acabamos por ser cativados pelos visuais de uma forma que não acontecia nos antecessores.

Os efeitos sonoros, quer seja em ações mundanas ou no espectro mais extremo das fatalities, estão refinados ao ponto de causar arrepios em certas ocasiões. Aliadas a estes estão prestações extremamente convincentes dos voice actors que acrescentam carisma, não só ao modo história, mas também às lutas, seja pelas frases de abertura ou pelos taunts.

Breviário

Mortal Kombat 1 reinventa-se de forma cativante, deixando ao mesmo tempo portas abertas para reaproveitar sumo dos cálices que elevaram a saga a um estatuto lendário. Com imensa margem para desenvolvimento narrativo, antecipamos eventos caóticos com muito sangue à mistura.

Agradecemos à Upload Distribution por nos cederem uma chave para análise.

CONCLUSÃO
Fatal
8.4
mortal-kombat-1-analiseUm passo numa nova direção que traz consigo as forças dos antecessores, criando uma base para um futuro com possibilidades quase infinitas. Que sejam todas tão boas quanto esta.