É bom saber que existem, na indústria dos videojogos, alternativas às grandes produções e experiências online. Não precisamos de ir atrás do Red Dead Redemption II ou do Fortnite, se procurarmos algo diferente. Afinal, existem diversos jogos independentes, como Celeste e Equilinox, que se distinguem pelo seu carácter experimental e fora da moda…
Contudo, pode ser necessário promover e incentivar estas iniciativas, para ganharem visibilidade. E é aqui que entra o evento Fantastic Arcade, assim como os seus pacotes de jogos experimentais. Mas comecemos com as devidas apresentações!
O que é o Fantastic Arcade?
Fantastic Arcade promove-se como sendo “uma celebração do indie e dos videojogos de culto”. Este evento anual é uma oportunidade para criadores de videojogos independentes promoverem as suas criações, com a oportunidade de serem divulgados e premiados. Desde a sua primeira edição (2010), já por aqui passaram clássicos como Nidhogg, Fez, Donut County e Untitled Goose Game.
Pacote anual de jogos – Fantastic Arcade 20XX
Em conjunto com o festival, a Juegos Rancheros (curadora do evento) publica anualmente um pacote de 5 a 6 jogos desenvolvidos propositadamente para o evento, por personalidades ilustres nos indie, como Moppin (Downwell) e Saltsman (Cannabalt).
Se estiverem (possivelmente depois de ler o artigo) interessados em adquirir alguma das 3 compilações já lançadas, podem consultar os links em baixo:
- Fantastic Arcade 2016 – 5 jogos, 15$
- Fantastic Arcade 2017 – 6 jogos, idem
- Fantastic Arcade 2018 – 6 jogos, idem
Os jogos dos Fantastic Arcade
Neste artigo, não pretendo apenas falar do Fantastic Arcade e do seu contributo para os videojogos experimentais. Pretendo também partilhar a minha experiência com as obras disponíveis nas compilações e que, na minha opinião, promovem conceitos deveras interessantes.
Para este artigo, vou falar apenas de 3 jogos: Alphabet, Pipsqueak e The stakes are too high.
Alphabet
- Pacote: Fantastic Arcade 2017 (jogo desenvolvido em 2013)
- Autores: Keita Takahashi e Adam Saltsman
AVISO: este jogo só faz mesmo sentido com teclado
Alphabet foi criado por Adam Saltsman (Cannabalt) e… Keita Takahashi?! O louco responsável por Katamari Damacy, um dos melhores “MAS-QUE-RAIO-JAPÃO” que já joguei? Agora mal posso esperar para ver o que vai sair daqui…
O objectivo de Alphabet é mover letras da esquerda para a direita, e controlamos cada letra através… da tecla correspondente? Ok, faz sentido pressionar a tecla para a letra associada correr, e largar tal tecla para a letra saltar… mas é frequente termos várias letras para controlar!
Existem 10 desafios com obstáculos e itens especiais que transformam todas as letras numa só, até uma delas defecar… tudo perfeitamente normal, para um jogo do Takahashi!
Como cada tecla corresponde a uma letra diferente, pode-se assumir que Alphabet se adequa a vários jogadores em simultâneo… até podem tentar um jogador por letra, mas duvido que uma experiência com 26 pessoas no mesmo teclado seja agradável…
É clara a influência dos autores em Alphabet, tanto na jogabilidade à base de um botão (Saltsman) como no aspecto animado e nos extras bizarros (Takahashi). Mas o mais bizarro é tudo isto ter resultado numa obra com potencial educativo!
Pipsqueak
- Pacote: Fantastic Arcade 2017
- Autor:
Ben FoddyJenny Jiao Hsia
Pipsqueak tem um conceito simples: chegar à saída de cada tabuleiro, existindo extras para apanhar e inimigos para evitar.
Mas o que torna este jogo especial é a mecânica de movimento: só podemos mexer individualmente as pernas do personagem. A seta esquerda e direita mexem a perna correspondente para a frente, sem a possibilidade de recuar (excepto quando se colide com uma parede). Este conceito gera (propositadamente) alguma confusão, mas possibilita movimentações como rotação (mexer a mesma perna duas vezes de seguida) e faz de Pipsqueak um desafio de coordenação digno do Ben Foddy.
Apesar dos visuais animados, Pipsqueak pode dar a impressão de ser algo incompleto, com a falta de música e efeitos sonoros reduzidos. Contudo, tal não deve ser motivo para ignorarem esta experiência louca e autêntica.
The stakes are too high
- Pacote: Fantastic Arcade 2017
- Autor: Fernando Ramallo
Nem sei como descrever este “jogo”, composto por “cenas” onde pouco mais podes fazer que “contemplar” e empurrar objectos. As etapas não têm objectivos, parecem incompletas, e podem ser terminadas com o pressionar de uma tecla. Mas estas características encaixam na história que o jogo relata.
O jogo relata as experiências fracassadas de um artista que está desesperado para fazer um videojogo. E isso explica como transitamos de um cenário de puzzle para um de corrida, e não só!
The stakes are too high é uma peça de teatro que nunca teve guião! E é uma aventura sobre o AMERICAN HEALTHCARE SYSTEM — nem me perguntem como –! E é uma experiência sobre experiências! Mas é único, e isso ninguém pode negar!
Em suma, se está tudo normal na vossa vida e gostariam de… “corrigir” isso, dediquem alguns minutos a este “meta-jogo”.