A Quem me conhece sabe que sou um faux-adorateur de Visual Novels. Estrangeirismo este que acabei de inventar e utilizo com um único propósito: autocrítica. É um género de videojogo que adoro, mas qual ainda tenho muito pouca experiência. Nunca joguei, por exemplo, Doki Doki Literature Club ou até Steins Gate, nem vou falar de Danganronpa mas, por ironia do destino, adorei e papei Zero Escape. Ainda assim consigo afirmar com certeza que Necrobarista, inicialmente lançado para o PC e PlayStation 4 e agora para a Nintendo Switch sob subtítulo Final Pour (uma versão Director’s Cut do original) é, sem sombra de dúvida, muito diferente de tudo o que jogaste até ao momento.

Como o próprio nome indica, Necrobarista é uma Visual Novel sobre café e morte. Localizada na Austrália, especificamente em Melbourne, está The Terminal, um sítio agradável gerido por um elenco divertido e emotivo. É aqui que, muito provavelmente, a tua alma irá parar num estado pós-morte, servindo como uma espécie de limbo antes de seguir em frente. A presilha do videojogo está, porém, no seguinte: a alma só pode permanecer no The Terminal até 24 horas depois da morte. Mais do que isso e ela sofre, assim como o próprio estabelecimento noutros moldes. Este “senão” é o grande motivador para atravessar linhas de texto atrás de linhas de texto, completamente imersos na narrativa.

Nesse aspecto Necrobarista não desilude. Apesar de, no final de contas, ser uma Visual Novel do mais básico que há (zero escolhas de diálogo ou finais diferentes) o enredo saltita entre vários temas e as questões filosóficas que as rodeiam: dor, luto e aceitação, como abordar a morte e a sua discussão para connosco e à nossa volta. Dito isso a jogabilidade, veículo destes aspetos, é simples e objectiva. O que não é comum é o enredo expor-se fora da tradicional caixa de texto com imagens estáticas das personagens. Para esse efeito Necrobarista utiliza o motor gráfico Unity para proporcionar uma experiência cinematográfica em cada linha de texto. Aqui é claro como água a inspiração anime que os criadores utilizaram para dar vida às personagens e suas idiossincrasias, porém um reparo que considero lamentável é a ausência de vozes. É certo que o silêncio pavimenta o caminho para a excelente banda-sonora, mas teria sido muito mais imersivo caso fosse possível associar uma voz a cada cara.

No entanto, resumidamente, a narrativa equilibra-se entre Maddie, barista sarcástica do The Terminal, Chay, pseudo-patrão demasiado tranquilo assim como preguiçoso e Ashley, criança adolescente cujo único objectivo é trazer leveza à dinâmica da mortalidade do diálogo. É uma lufada de ar fresco na história visto que Necrobarista perde pouco tempo em arrastar temas mais pesados na ribalta. Outras personagens vão surgindo para enriquecer a história, mas não são tão proeminentes como as três principais descritas acima. Ainda assim, sem querer estragar eventuais surpresas destaco Kishan, uma personagem que serve como ponte de compreensão entre o espetador e a acção. É exímio na sua caracterização pois todas as suas reações ou questões são realistas quando confrontadas com toda a loucura adjacente.

Em certos momentos o enredo interrompe para interlúdios darem descanso do guião pesado e filosófico. Aqui o jogador assume uma visão em primeira pessoa para explorar o café e desbloquear conteúdo (opcional) que acrescenta mais detalhes à história e às personagens que dela fazem parte. Para além disso estão incluídas também, nesta versão para a Switch, um modo de desenho (para personalizar uns bonecos específicos) que infelizmente não utiliza as capacidades do ecrã da consola e um modo estúdio. Este último é o mais interessante e robusto, permitindo criar a tua própria Visual Novel utilizando os recursos disponíveis: todas as personagens com várias poses, animações, opções de câmara, entre outros! Infelizmente, assim como o modo de desenho, a ferramenta não é de todo intuitiva, carecendo de um tutorial ou melhor interface gráfica para ser mais fácil de utilizar.

NecrobaristaFinal Pour já se encontra disponível na plataforma Nintendo Switch.

CONCLUSÃO
Cafeína!
8
Ulisses Domingues
Desde muito cedo um confesso apaixonado pelos mundos da PlayStation e consolas Nintendo. No entanto a vida dá muitas voltas e agora o seu amor foca-se nas novas Xbox Series. Nada como paixão à primeira vista, não é verdade?
necrobarista-final-pour-analiseNão é tarefa fácil ser crítico de uma Visual Novel. Tendo em consideração que o género gira à volta do enredo torna-se complicado criticar sem estragar a experiência. Dito isso Necrobarista – Final Pour é dotado de uma história excelente, atingindo notas muito altas na sua discussão filosófica sobre a morte, atenuadas pela leveza da excelente escrita humorística que acompanha o prato principal. Ainda assim, apesar de não ter destacado na análise principal, Necrobarista tem alguns problemas (não críticos) de desempenho em modo consola. É também de lamentar a ausência de vozes, assim como escolhas no diálogo ou finais diferentes, qualidades características do género. A juntar-se a isso estão os extras interessantes mas pouco cruciais na decisão de uma compra. Porém não faças confusão: se gostas de uma boa história, Visual Novels e um estilo que transpira animação japonesa então Necrobarista – Final Pour é compra obrigatória.