Quando finalizei GRIS, completamente arrebatado, perguntei-me quase de forma imediata após rolar os créditos, quando é que seria que o Nomada Studio faria o seu próximo jogo; e se conseguiria ter espaço para replicar e quem sabe até superar uma obra tão significativa como o seu jogo de estreia. A resposta chegou com Neva, mais um jogo emocional e completamente atemporal, e a prova que este estúdio é muito especial.

Neva segue a linha quase que abstrata e de muitas interpretações de GRIS, com uma narrativa de poucas palavras. Desta vez, somos apresentados a um mundo em que as trevas dominam e se apoderam de tudo, onde a Natureza e a sua flora correm um extremo perigo crítico de colapsar. A protagonista, Alba, cria um laço muito forte com uma filhote de loba muito peculiar. Juntas, embarcam numa jornada perigosa em busca de um porto seguro, e de forma inconsequente, uma chance para mudar o que de mal vem acontecendo no planeta.

O vínculo emocional que criei com estas personagens foi imediato. Poder sentir a evolução e o desenvolvimento da relação entre ambas pelos quatro capítulos presentes no jogo e vivenciar o crescimento da cria foi extremamente apaixonante. Neva que começa por se mostrar uma cria tímida e receosa, vais aos poucos ganhando confiança, mostrando-se capaz de ajudar e até proteger a sua melhor amiga. Já Alba, é uma guerreira que apesar de pouco ou nada falar além de chamar pela sua companheira, mostra carisma nas acções e um grande sentido de altruísmo por tudo o que a rodeia. São dois seres de luz que se completam, e continuam a mostrar esperança à indústria de videojogos. O jogo apresenta-se em quatro capítulos diferentes: Verão, Outono, Inverno e Primavera, e em cada um deles acompanhamos a evolução desta ligação emocional, e é brilhante como de um momento para o outro se dá a transição de uma loba indefesa com medos e constantes pedidos de ajuda, para uma protectora e guerreira, tal como a sua companheira humana. Já diziam os especialistas: “O teu pet é o teu espelho”.

Ao contrário de GRIS que se focava maioritariamente em puzzles, o estúdio de Barcelona quis mostrar-nos a sua capacidade de criar um jogo com ênfase no combate, e não vos falo de um combate básico, mas uma experiência profunda e imersiva, desafiante e compensadora. Alba, além de correr, saltar e usar um impulso para se alavancar para outras áreas ou desviar de projécteis e ataques inimigos, conta também com uma katana, para desferir ataques de um só botão. São estes ataques que além de derrotar inimigos, abrem também novos caminhos dominados pelas trevas. O combate de Neva é como uma dança refinada. É tudo uma questão de ritmo e timing. O objectivo é desviares-te dos inimigos com o impulso da protagonista, e desferir danos até que eventualmente as forças do mal se transformem em segmentos físicos da natureza.

Os inimigos contam com diversas formas físicas. Alguns deambulam até que de alguma forma vão até ti, com uma aparência física que fazem lembrar os no No-Face da Viagem de Chihiro. Estes são os inimigos mais básicos e logo apresentados ao jogador. Também existem inimigos voadores, outros que lançam projécteis, e chefes muito bem estruturados. Ao contrário de GRIS em que o teu personagem não morria, vais sentir alguns desafios aqui, principalmente contra os chefes.

Os puzzles são ligeiramente mais básicos que o primeiro jogo do estúdio, ainda que sejam muito bem pensados. São mais baseados em plataformas e sincronização de botões do que propriamente puxar pela cabeça em situações de lógica e outras mais elaboradas. Mesmo com a sua simplicidade, não deixam de ser brilhantes. Todos os segmentos funcionam de forma exemplar, e mais tarde usarás também Neva para te ajudar em alguns deles. A base de timings é muito bem executada, tudo isto porque os movimentos de Alba são muito fluidos, com uma resposta sem atrasos, nem um milissegundo.

A direcção de arte é exemplar. Neva é daqueles jogos que dá a sensação que estamos a jogar dentro de wallpapers. Visualmente, trata-se de um título deslumbrante, muito graças a Conrad Roset, que ainda se mantém presente. Os gráficos remetem-nos novamente ao estilo de aguarelas, com cenários de pinceladas subtis, e outras carregadas e desbotadas, dependendo da situação enquadrada. O jogo conta com uma interface sempre minimalista, com pouco texto, e cenários grandiosos capaz de causar aquela sensação de pequenez enquanto os vamos passando.

A banda sonora continua a ser trabalho da banda catalã Berlinist, e não podia ser de outra maneira. Os toques subtis para momentos de calma complementam bem as suas paisagens absolutamente lindas, e quando é preciso intensidade e urgência, a entrega é feita. GRIS tem uma componente sonora brilhante, mas Neva tem uma ainda mais dinâmica, muito devido à intensidade que obriga a esse push, graças ao combate presente no jogo. Com uma experiência única sensorial e auditiva, vale a pena aproveitares cada minuto das suas faixas sonoras. Sem pressas, o jogo é curto, mas vale cada minuto imerso nele.

Agradecemos à Cosmocover e à Devolver Digital por nos ter cedido esta chave para análise, para a plataforma PS5.

CONCLUSÃO
Emocionante!
9
Igor Gonçalves
Curioso, explorador, e fã de videojogos desde que me lembro, e em especial pela saga Metal Gear. Não jogo plataformas, jogo jogos.
neva-analiseNeva é a prova de que o Nomada Studio continua a criar experiências únicas e memoráveis nos videojogos. Sucedendo ao aclamado GRIS, este novo título transporta-nos para um mundo sombrio e belo, onde a jornada de Alba e Neva, nos emociona a cada passo, num jogo que combina um visual incrível, jogabilidade envolvente e desafiadora e uma história emocionante, Neva é uma experiência imperdível.