Se tal como eu te apaixonas pelas belas histórias dos JRPGs mas infelizmente não tens disponível todo o tempo que estes despendem das nossas vidas para jogá-los, então a análise de hoje é para ti.
Nier Automata não é de todo um nome estranho, mesmo para geeks que andam fora dos círculos do mundo dos videojogos, seja pelos fãs, seja pela banda sonora brilhante de Monaca ou pela comunidade cosplayer em eventos, a criação de Yoko Taro tomou percussões gigantescas até chegar ao comum mortal. E agora, nós, cinéfilos e otakus, finalmente podemos também apreciar a sua obra numa media mais convidativa e menos interativa: em anime. Mas será esta uma adaptação assim tão decente de merecer um lugar na tua watchlist? Vou dar o corpo às balas para descobrir, e conto-te já de seguida.
Para começo, quando falamos de Nier Automata adaptação para anime, é importante contextualizarmos a sua produção, ou não estivesse essa a cargo da A-1 Pictures. Meus amigos, A-1 Pictures trouxe-nos Erased, Blue Exorcist, Sword Art Online, Fairy Tail, Seven Deadly Sins, Black Butler, e está a produzir atualmente Solo Leveling e Mashle!! Tenho de parar para respirar, porque podíamos terminar a análise já aqui. Uma obra com a dimensão referida anteriormente, não podia estar em melhores mãos, e realmente, sente-se desde o primeiro episódio o peso do talento e da experiência que o estúdio já leva a trazer-nos estas monumentalidades.
Se estamos a falar em experiência, convêm também falarmos de Ryōji Masuyama, que realiza e escreve esta adaptação com a ajuda do próprio Yoko Taro. Masuyama também despeja experiência na animação tendo na bagagem filmes como os mais recentes Evangelion e Ghost in the Shell, sendo também key animator e storyboard artist nesta adaptação de Nier Automata. Uma prestação que pega de fio a pavio em toda a produção do anime e espelha o seu profundo apreço pela obra.
Chega no entanto de falarmos de nomes, já sabemos que o talento por trás desta adaptação é brilhante, não poderia ser licenciável por menos, por isso vou-me pôr agora no lugar de um completo espectador que caí de paraquedas no chamariz de ver um episódio por pura curiosidade. O que é que este anime tem para nós? Vamos então contextualizar o enredo sem spoilers:
Imagina a Terra num cenário pós-apocalíptico, milhares de milhares de anos num futuro longínquo (que na realidade não parece tão longe dos tempos de hoje quanto em 2017), onde impera uma guerra incessante entre automatas e uma raça de seres mecânicos em rebelião total. Estes últimos inclusive expulsaram todos os humanos do planeta, e nos obrigaram a ir viver para a Lua, sendo os automatas as nossas defesas e esperanças de um dia voltarmos a recuperar a nossa casa.
No meio deste enredo que te acabo de apresentar em resumida premissa, conhecemos ao longo de 2 belas temporadas de 24 episódios, a história de 9S (nine s) e 2B (two be), ambos automatas ao serviço da nobre missão da YoRHa em restituir e garantir que a humanidade conseguirá prevalecer. Conhecê-los a eles, é conhecer as suas limitações tecnológicas, como as necessidades de backup e upload de dados, que por vezes coloca em risco as suas memórias quando precisam de se sincronizar com o bunker para regressarem com conhecimento dos seus últimos momentos de vida quando morrem em combate.
Sendo 9S de um modelo Scanner, e mais habituado a fazer missões sozinho, é fácil nos simpatizamos com a felicidade que este transborda em puder trabalhar com alguém. Já a 2B é mais reservada e nunca dá aso a deixar os momentos fluírem, mas é igualmente uma personagem que nos impressiona. A história de ambos, da qual somos cúmplices de testemunhar, faz-nos parar para colocarmos em questão tudo o que achávamos saber sobre a forma como a vida se processa com inteligência artificial. De facto, quanto mais evoluímos no enredo, mais nos afundamos, nas personagens que acarinhamos quase instantaneamente e numa balança que tendemos a não conseguir escolher o lado que queremos pesar. É um enredo tão humano, que surpreende-me agora que penso nisto, a força e quantidade de momentos que impactam-nos nesta história dirigida a explorar as máquinas e as suas limitações lógicas.
A par de cada automata também merece menção o pod que o acompanha e que vejo como uma evolução daquilo que procuramos atualmente desenvolver com os CHATGPTs desta vida. Uma inteligência artificial que funciona com nosso companheiro/conselheiro pessoal e nos ajuda a navegar e compreender melhor as situações em que nos inserimos.
O mundo à volta do enredo, sente-se vasto e cheio de diversos biomas, que visitamos em certos mini-arcos e me fazem sentir como se estivesse de facto a jogar numa nova área. Em todos eles há momentos marcantes, que parecem uma perfeita cinemática para passar-nos o controlo logo a seguir. Tendo visto um pouco do jogo salteado aquando de uma análise de um colega aqui na Squared Potato, fico até com a impressão de uma fidelidade que logo nos primeiros episódios na cena com o primeiro Goliath nos deixa embasbacados.
Em termos de ação, Nier Automata oferece-nos de tudo, motivos para rir, chorar, com cenas de combate de animação de detalhes afiadíssimos, e ligeiros slices of life que nos deixam a desejar por mais momentos assim. O ritmo arrítmico deixa-nos sempre a crepitar pelas nossas personagens favoritas, e durante uma grande luta, só desejamos saber se alguma vez este clima terrorífico irá passar para voltarmos a poder respirar com a segurança de todos, sendo que esta obra não perdoa.
Em termos de voice acting, para os jogadores será excelente saberem que são os próprios atores que deram voz aos videojogos que regressam uma vez mais aos seus papéis. Claro está que para quem é de fora esta foi uma oportunidade perdida para Yuichi Nakamura, mas essa não é uma batalha que possamos vencer hehe..
Não percas as 2 temporadas de Nier Automata Ver 1.1a na Crunchyroll!