Apesar de nunca ter tido uma Super Nintendo, cresci a jogar numa em casa de um amigo. Junto de Goof Troop, Super Mario World e Super Mario Kart, estava a jóia da sua coleção: Donkey Kong Country, da Rare. Não me recordo ao certo do primeiro dia que o joguei, mas ainda consigo sentir todos os pedaços de nostalgia em todos os momentos que inseríamos o cartucho na consola e ouvíamos a icónica introdução do jogo. Donkey Kong Country era abismal. Com uma perspectiva 2D mas com modelos 3D pré-renderizados, eram os melhores gráficos que já tinha visto até à data.
Poucos anos mais tarde e já detentor de uma Playstation (a primeira consola da Sony), foi-me oferecido pelos meus pais Crash Bandicoot, uma revolução nos jogos de plataformas. Com um conceito ligeiramente diferente de Donkey Kong, mas igualmente divertido e agora em 3D, Crash trouxe uma liberdade aos jogos de plataformas que nunca havia experienciado, mesmo depois de Spyro e Rayman, e ainda contava com o seu humor e uma caracterização completamente tresloucada do marsupial.
30 Anos depois de Donkey Kong Country e 28 após o lançamento de Crash Bandicoot, recebemos uma homenagem certeira da VEA Games, com uma mistura muito interessante entre o que há de melhor dos dois jogos. Nikoderiko é tudo o que resultou destes dois jogos, um título que me fez sentir aquele aroma nostálgico da minha casa antiga, ou dos chocolates quentes preparados pela avó do meu amigo após uma sessão de Super Nintendo a dois. Tardes que já lá vão, mas jamais esquecidas. Estas sensações voltaram porque Nikoderiko é uma mistura de vários títulos lendários de plataformas, mas sobretudo destes dois jogos que mencionei um pouco mais acima.
Narrativamente falando, trata-se de uma premissa muito simples como é habitual neste estilo. Niko e Luna são os protagonistas do jogo, e descobrem uma relíquia antiga carregada de poderes, numa das suas aventuras. O problema: o vilão Grimbald, também tem a mesma ideia, mas caso lhe meta as mãos, é garantido que o mal será semeado. O objectivo de um dos nossos jogadores à tua escolha (ou até os dois caso jogues em modo cooperativo local), é navegar por sete mundos únicos e derrotar o exército do mal.
Nikoderiko conta com a típica história infantil habitual do bem contra o mal, e não esperes aqui uma densidade narrativa, e nem mesmo o jogo assim o exige. As cutscenes são poucas e aparecem apenas em momentos-chave do jogo. Normalmente, depois de cada nível, és presentado com umas caixas de diálogo que te vão contando um pouco mais dos planos dos inimigos e do progresso que vais fazendo. Existe voice acting, algo que achei surpreso, e apesar de não impressionar, é um extra muito agradável para complementar os mais novos.
A navegação entre níveis é feita através de um hub já muito conhecido como em Donkey Kong Country (lá vou eu começar com as comparações), e serás tu a selecionar os níveis que poderás jogar. Todos eles são repetíveis, para o caso de perderes algum dos colecionáveis como diamantes, moedas especiais para comprar arte conceptual e faixas musicais do brilhante David Wise, ou as famosas iniciais N I K O em pequenos cubos de ouro tal como já vimos em Donkey K O N G.

Quanto às mecânicas; trata-se de um jogo que faz transições entre níveis muito interessantes de 2D e 3D. Podemos controlar qualquer um dos protagonistas, sendo o moveset exactamente o mesmo para ambos. Os controlos são bons, mas não são do mesmo nível das suas inspirações já que existem alguns movimentos menos precisos. O personagem pode saltar (sem duplo salto), planar, e pegar em objectos para os arremessar a inimigos. As únicas maneiras de acabar com os inimigos é além desse método, também saltar por cima deles, ou atacar de uma maneira não tão convencional em jogos de plataformas, rasteirando-os. Senti falta de um golpe básico como um soco, mas rapidamente me habituei à maneira que os níveis iam passando.
Um dos pontos altos do jogo são as montarias. Temos vários tipos de animais com habilidades únicas para invocar como um dinossauro que destrói tudo onde passa, ou um sapo com os seus mega-saltos que poderá fazer muito jeito para alguns colecionáveis perdidos pelo mapa. Estas criaturas são extremamente bem conseguidas, e dão uma caracterização muito original a Nikoderiko.
No meio dos níveis mais tradicionais, temos alguns extras como batalhas com chefes, apresentados de formas peculiares, como fugas em side-scrolling, ou lutas intensas com armadilhas. Os níveis são muito criativos, e quase sempre és apresentado a uma nova forma de jogar. Realmente é um título cheio de novas mecânicas, mesmo que 90% delas sejam inspiradas em diversos títulos do género. Estão presentes as lianas, os vagões mineiros, as plataformas aquáticas, o progresso em que corremos de trás para a frente drasticamente limitados com os ângulos de visão como o famoso nível boulder de Crash, os níveis extra em locais escondidos do mapa… Tudo isto é conhecido de diversos jogos do género, mas Nikoderiko trouxe-os para nos presentar com uma nova abordagem, mantendo a diversão e nostalgia de sempre.
Os visuais são muito bonitos, coloridos, com percursos muito criativos, inimigos variados que se apresentam de diversas maneiras para te fazer a vida complicada. Os níveis aquáticos estão de volta, e que bom que é reviver as faixas aquáticas com o som de David Wise aqui. O célebre autor e compositor britânico conhecido pelo seu trabalho na Rare, especialmente na série Donkey Kong, foi o responsável por toda a vertente sonora em Nikoderiko. Este compositor lendário é reconhecido por criar músicas atmosféricas e memoráveis, e aqui tem umas quantas que não te irão sair da cabeça assim que as ouvires. Simplesmente memorável.
Agradecemos à JF e à editora por nos ter cedido esta chave para análise, para a plataforma PS5.