O sucesso da nova consola híbrida da Nintendo, aka Nintendo Switch, é um dos grandes feitos na história da indústria dos videojogos. Numa grande reviravolta, a empresa nipónica não só conseguiu recuperar do insucesso da antecessora Nintendo Wii U como também bater novos recordes de vendas. Ultrapassando grandes nomes como a Nintendo Wii e o Game Boy / Game Boy Color, a Nintendo Switch ocupa (à data deste artigo) o terceiro lugar na lista de consolas mais vendidas em todo o mundo.
Passados mais de 7 anos, a Nintendo Switch continua a de boa saúde, coexistindo entre duas gerações de consolas concorrentes que continuam a ter o seu próprio destaque na indústria do entretenimento. No entanto, tu e eu sabemos perfeitamente que está na altura do hardware híbrido pedir a reforma e passar o testemunho à próxima geração. Mas antes, nada melhor do que fazer uma retrospectiva, olhando para as gerações anteriores, apontando os pontos mais fracos e o que ficou por implementar, projetando possíveis melhorias na futura consola sucessora. Vamos lá começar…
Hardware
Um Form Factor quase perfeito
Um dos grandes selling points da Nintendo Switch é o seu factor híbrido. Com comandos laterais removíveis e uma dock que a permite transportar a imagem para a TV, este era um conceito inovador no mercado. A flexibilidade de poder jogar na TV ou levar a consola para qualquer lado atraiu um número incrível de pessoas, que viam aquele este conceito refletido no seu dia-a-dia.
Com isto, se há coisa deve manter-se na sucessora da Nintendo Switch é este conceito. Mas ainda há espaço para melhorar! Dado que a Nintendo Wii U dispunha de um comando com ecrã, no qual poderíamos jogar os nossos jogos através de um canal de transmissão privado vindo da própria consola, porque não inverter os papeis com a nova geração? Uma Dock ou adaptador que se liga à TV, que permite transmitir o nosso ecrã da consola portátil para o grande ecrã, sem ter que me levantar para colocar a consola na Dock? Esta poderia até mesmo abrir uma porta nova para conseguir ter dois ecrãs independentes, simulando perfeitamente o que a Nintendo DS e 3DS sempre nos ofereceram. No entanto, isto é pouco provável de acontecer, dado os custos de produção e desenvolvimento implicados. Sonhar não custa, não é verdade?
Joy Con ou Sad Con?
O sistema de comandos Joy Con parece ser um misto de emoções que necessita de ser trabalhado. A conveniência de simplesmente remover e entregar um Joy Con a alguém e partilhar a diversão é fenomenal, mas o problema não mora aí. O verdadeiro capítulo assombroso desta consola passa pela qualidade de construção destes pequenos e muito frágeis comandos “mágicos”. Analógicos com Drift, Botões a deixarem de funcionar, curto alcance do sinal e pouca ergonomia são algumas das principais queixas apresentadas pelos inúmeros detentores de uma Nintendo Switch, que se viram impossibilitados de jogar os seus jogos, devido a estes problemas de construção. Se há algo óbvio a fazer é apostar em material de melhor qualidade, como melhores antenas internas e botões analógicos com tecnologia Hall Effect, evitando de uma vez por todas os problemas mais comuns presentes nos atuais comandos. Além disso, seria uma boa oportunidade para aplicarem gatilhos analógicos (L2 e R2), oferecendo uma melhoria significativa para os jogadores de jogos de corrida. Deixo a nota que não temos este tipo de gatilhos desde a era da Nintendo Game Cube!
Vai ser preciso um grande salto gráfico para alcançar os mínimos da concorrência atual
A Nintendo Switch quando foi lançada, prometia um bom desempenho gráfico. Apesar de albergar um processador Tegra X1, semelhante ao que se podia encontrar no Nvidia Shield, um hardware lançado em 2015, conseguiu entregar-nos fantásticos jogos. The Legend of Zelda: Breath of the Wild, Mario Odyssey e Splatoon 2 são apenas alguns dos títulos que se estrearam no hardware no ano de lançamento. Com isto, a pergunta que vem logo em mente é: Como é que esta consola conseguiu entregar (alguns) bons títulos estes anos todos? A resposta é “Optimização”.
Alguns estúdios têm bons recursos para otimizar os seus jogos para que estes tenham a melhor performance possível. Um dos casos é a própria Nintendo, que obviamente tem todos os instrumentos para nos entregar a melhor experiência possível na sua consola. Já outros estúdios, como a Panic Button, conseguiram fazer port de títulos como Wolfenstein e Doom, provando aos mais céticos que era possível correr jogos pesados na híbrida.
Contudo, esses foram outros tempos, e cada vez mais vemos títulos a serem excluídos da Nintendo Switch por requererem mais poder gráfico. Teorizo aqui uma coisa; Estamos numa nova era, em que as empresas estão constantemente a lançar novos jogos, sem preocuparem-se com a sua optimização, priorizando as suas datas de lançamento (a mítica expressão: “launch now, patch later”). Isto coloca a velhota Switch numa situação complicada, pois os estúdios não possuem tempo nem recursos adicionais para optimizar os seus jogos para um hardware já tão limitado. Então no final acabamos por ver um jogo a correr mal ou a ser excluído por completo da plataforma.
A Nintendo tem que pensar muito bem nas especificações que a sucessora da Nintendo Switch. Se esta quer que a próxima consola reine com sucesso durante uns bons anos, terá que ter uma boa margem para aguentar e acompanhar os requisitos gráficos mínimos exigidos na geração atual. Não há necessidade de gráficos 4K, apenas algo que corra fluidamente sem quebrar a experiência de jogo. No entanto, se sempre tivermos jogos em 4K, estes serão baseados num AI Upscale de uma resolução inferior, poupando poder de processamento. Isto é atualmente utilizado nas placas gráficas, como por exemplo nas da NVIDIA, que utilizam a técnologia DLSS.
Outra nota importante: Estamos na era dos Handheld Portable Computers, e o Steam Deck destaca-se grosseiramente nesse mercado. Este será provavelmente o concorrente direto da próxima sucessora, caso realmente esta continue a ser uma consola híbrida (o que seria ridículo se não fosse). Se a Nintendo quer sucesso, para além do upgrade de hardware, há que apostar em bons lançamentos exclusivos e até mesmo em novos IPs para além dos clássicos que todos nós conhecemos e acompanhámos desde criança.
O ecrã adequado para a sucessora
A Nintendo Switch e a Nintendo Switch Lite albergam um ecrã LCD de plástico, já a sua versão OLED da Nintendo Switch possui um ecrã de vidro. Ambas suportam a resolução 1280 por 720 pixels. No espectro visual da coisa, a ideia seria manter o painel OLED para a nova sucessora, porém há um problema. A qualidade dos paineis OLED da consola deixa a desejar, pois muitos desses possuem problemas com o chamado Mura Effect, uma espécie de mancha/granulado verde que se torna visível em tons mais cinzentos quando o ecrã está com baixa luminosidade. Eu pessoalmente sou um dos contemplados e se soubesse disto antes, não teria investido tão cedo no upgrade. A minha Steam Deck OLED também sofre do mesmo, portanto penso que isto seja algo comum com ecrãs de “baixo” custo. Sendo assim, a melhor aposta seria aplicar um novo painel LCD em vidro com uma melhor qualidade, oferecendo boas cores e acompanhado de um bom contraste, a um custo de produção ligeiramente inferior ao OLED.
No que toca à resolução, a Steam Deck é a prova viva que podemos manter uma boa experiência visual num ecrã HD (1280 x 800p) e poupar bateria no processo. Há quem deseje um ecrã de 1080p na próxima consola para uma melhor a experiência visual, mas na verdade é algo que iria encarecer o preço da consola, reduzir o tempo de jogo e aumentar a temperatura de funcionamento, degradando a bateria no processo. Com isto, penso que o ideal seja manter a atual resolução e deixar as resoluções maiores para quando ligarmos dita cuja à televisão.
Melhor rede sem fios
Se há algo que pessoalmente me desaponta desde a era da Nintendo Wii são os downloads lentos, derivados das limitações da placa de rede interna da consola. Estamos em 2024, e ainda me sinto frustrado cada vez que faço download de algo na Nintendo eShop. Um misto de fraca cobertura de Wi-Fi e da limitação da própria placa de rede deixam-nos a olhar para a nossa transferência por mais tempo, isto sem falar nas falhas de conexão durante as sessões online. Esta é outra categoria de hardware que gostaria de ver melhorada no próximo hardware, introduzindo a norma Wi-Fi 6 e revendo as antenas internas para conseguir um melhor alcance sem quebras de ligação.
Oh não, o espaço acabou! (Outra vez…)
Se tens uma Nintendo Switch sabes perfeitamente do que estou a falar. É completamente ridículo termos apenas 32 GB de memória interna (64 GB na Nintendo Switch OLED) numa consola que constantemente exige instalação de Updates e dados de jogo adicionais dos cartuchos de jogo. É completamente impossível construires uma biblioteca de jogos numa Nintendo Switch sem teres que comprar um cartão de memória (Micro SD) no mínimo com 128 GB. Ao custo que os os chips de memória estão, espanta-me não terem feito ainda upgrade interno nas atuais revisões das consolas (há que maximizar o lucro). Se vamos ter uma nova geração, com jogos mais pesados, não será de todo possível termos um hardware com menos de 256GB de memória interna, para que possamos alojar os dados.
User Interface e Software
Uma interface vazia que precisa de um toque pessoal
A interface da Nintendo Switch ficou conhecida como algo simples e de fácil acesso. No entanto, esta simplicidade custou à Nintendo a sua própria identidade. Se alguma vez tiveste uma consola Nintendo, em particular desde a era da Nintendo Wii e Nintendo DSi, consegues testemunhar um retrocesso brutal na experiência de utilização quando pegas na tua Switch. A vista em grelha dos jogos, as pastas para organizar os teus jogos, a música de fundo icónica, as animações dos downloads, tudo desapareceu! Na Switch, a coisa mais idêntica às pastas que foi implementada foram os grupos, mas isso não é o ideal se não der para aplicar na tua página principal. Já na música, a consola é praticamente muda, sem uma peça musical que lhe conceda uma identidade própria para a sua geração. Invés disso, temos apenas os sons dos menus, que possuem algumas características Nintendo, mas poderiam ser acompanhados de uma icónica melodia que seria reconhecida por qualquer fã ou dono de uma Nintendo Switch.
Continuando a olhar para a interface de utilizador, há algo que me choca profundamente: A falta de temas. Não consigo entender até hoje como é que, passados tantos anos de existência desta híbrida, ainda não temos temas personalizados. Indo ainda mais além, a única opção de personalização que existe de momento são os avatares na tua conta e trocar entre o tema claro e o tema escuro! Na geração da Nintendo 3DS, a personalização foi um destaque desta família de portáteis. Com uma grande dose de temas alusivos aos inúmeros títulos que passaram pela consola, ainda que muitos deles pagos, estes permitiram ao jogador dar o seu toque pessoal e único dentro da consola. Não há desculpas, a próxima geração tem que apostar mais na personalização por parte do utilizador, e redimir-se da atual interface medíocre.
Trancas a sete chaves para os graúdos
Ainda que não muito olhado por muitos, acho que a falta de bloqueio por código causa-me preocupação. No dia-a-dia os nossos equipamentos exigem algum nível de segurança, seja esta através de uma password ou um simples PIN numérico. A atual Nintendo Switch não permite o bloqueio de nenhuma forma para o usuário comum. Esta apenas é possível através do controlo parental, uma das alternativas que muitos utilizadores acabam por recorrer para protegerem as suas consolas de mãos alheias. Mas em vez de andar às voltas com métodos alternativos, não seria mais simples incorporar esta medida de segurança diretamente nas definições da consola? É assim tão difícil desenvolver isto?
Melhor sistema de captura de video
A Nintendo Switch foi a primeira consola da grande nipónica a possuir um sistema de captura de imagem e video de jogo. Ainda que útil seja esta ferramenta, existem ainda alguns pontos a melhorar. Um deles passa pelo melhoramento da qualidade das capturas, que atualmente apresentam uma elevada taxa de compressão, em especial nas capturas de video. Outra melhoria é o levantamento do limite das 1000 capturas de imagem e 100 de videos (10000 imagens e 1000 videos utilizando o micro SD) imposto pela consola, independentemente do espaço de armazenamento que esta possua. Por último, a forma de partilhar as capturas tem que ser mais simples, sem termos que utilizar códigos QR com o nosso smartphone.
À conquista dos troféus!
Se há algo que a Nintendo pode fazer melhor que ninguém, é um sistema de troféus. Para muitos, os troféus são um agente motivador para continuar a jogar, à conquista dos vários desafios e serem recompensados por isso. A ausência disto mostra o quão longe a Nintendo está do resto da indústria concorrente. A Nintendo tem um enorme poder criativo para levar o conceito de conquistas a novas fasquias, mas a nipónica parece ter algum dogma que a impede de colocar estas ideias em marcha.
Contudo, querendo destacar algo interessante, na era da Nintendo 3DS, foi introduzido algo que, a meu ver, seria o início de um sistema troféus que revolucionaria todo este conceito de conquistas. Estou a falar do Nintendo Badge Arcade, uma aplicação que te permite ganhar crachás, jogando um jogo de Crane Machine. Antes de avançar mais com a ideia, quero que vejas o trailer:
Como podes ver, estes crachás têm a particularidade de servirem de colecionáveis que podes expor no teu menu HOME, ao lado das tuas aplicações e jogos favoritos, adicionando mais uma camada de personalização à tua consola. Esta ideia poderia facilmente ser transportada para a nova geração. A cada conquista feita no teu jogo favorito, receberias um crachá alusivo ao mesmo. Com estes crachás, poderias expo-los numa espécie mural personalizado no teu perfil de utilizador, que poderia ser visto e apreciado por todos os teus amigos. Ainda que tudo isto seja pouco provável de acontecer, não quero deixar de sonhar e desejar por algo assim a chegar à próxima geração.
Para além dos videojogos, um espaço de lazer!
Seguindo o tema anterior sobre a simplicidade da Nintendo Switch, acho que seria pertinente falar também das aplicações que ficaram ausentes. Até à data deste artigo, ainda não tivemos um único navegador de internet na consola, o que acho um autêntico disparate, considerando que esta por vezes é vista como uma tablet com comandos. Há sempre necessidade de fazer uma pequena pausa para procurar por uma dica sobre um jogo ou simplesmente aceder à nossa página favorita de notícias, mas isso ainda não é uma realidade no atual Hardware. Mais uma vez questiono se isto tem alguma justificação, dado que internamente a consola já possui um browser que é revelado sempre que é necessário fazer algum registo numa plataforma específica. Será que isto passará a ser norma futura para as próximas consolas Nintendo? Esperemos que não!
Outra coisa em falta são os pequenos jogos e aplicações que sempre habitavam nas gerações passadas. Falo por exemplo da Praça Mii, onde poderíamos interagir com os nossos Mii e dos outros jogadores que surgiam através das ligações de rede local (Street Pass). Mini jogos, Puzzles, leitor de música, onde ficaram estas aplicações de lazer que nos permitia descobrir e socializar com o resto da comunidade? Foi mais um passo dado para trás na experiência Nintendo com que sempre me habituei.
A falta de comunicação entre jogadores é outro dos pontos negativos que persiste na atual consola. A maioria gosta de comunicar com os amigos por mensagens ou chamadas de voz enquanto está a jogar. Infelizmente isso não existe aqui, ou pelo menos não dentro da consola, sendo que para poder comunicar (apenas via voz) estás dependente da aplicação móvel para Smartphones e Tablets. Algumas exceções existem, que é o caso de Fortnite, que já possui chat de voz integrado dentro do seu jogo. Com estas limitações e dependências de aplicações externas, mais vale utilizar outras ferramentas de comunicação, como por exemplo o muito conhecido Discord, que tem muito mais utilidade. Ainda que pouco provável, seria importante integrar o Discord na próxima geração, à semelhança do que já acontece com a Xbox e PlayStation. Este é um ponto sensível, pois estamos a falar de uma consola feita para um público mais jovem, que são possíveis alvos de adultos com objetivos perversos. No entanto, esta preocupação não deveria levar à extinção de uma ferramenta de comunicação tão útil. A ferramenta de controlo parental atualmente existente na consola serve para esse fim. Evitar que situações nefastas aconteçam!
Em suma, a perfeita redenção para uma consola de barbas brancas
Estes foram alguns dos pontos que têm sido reportados pela comunidade de jogadores ao longo destes últimos anos de vida da Nintendo Switch. Ansioso por uma redenção por parte da Nintendo, se grande parte destes pontos forem realmente melhorados, a próxima consola terá tudo para ser bem sucedida, continuando a ter o seu destaque entre a concorrência atual na indústria das consolas.