Nos primeiros anos do novo milénio, haviam poucas sensações que superassem a de uma criança numa ida aos grandes shoppings e pequenos centros comerciais, especialmente para um pré-adolescente como eu, que acabava de conhecer os clássicos (e já descontinuados) jogos em CD-ROM, nas suas caixas majestosas de cartão, e com aquele cheiro característico dos manuais de papel torrado.
Foi na saudosa loja de informática da Vobis que adquiri o meu primeiro computador, após convencer os meus pais que essa tecnologia inovadora e que praticamente desconheciam, iria fazer de mim o maior dos génios do 2º ciclo, que estava prestes a começar. As belas notas da primária ajudaram, e juntamente com o meu entusiasmo, lá me concretizaram o desejo, com muito esforço. O que eles mal sabiam, era que o meu plano maquiavélico já estava em andamento assim que passámos da caixa registadora, e apenas faltava uma caixa de cereais para começar a jogar, especialmente os jogos do Action-Man, que me deixavam a salivar, e quase me ofuscavam com o seu brilho característico do CD, sempre que os via numa caixa da Kelloggs.
A minha paixão pelos Action-Man vinha a ser levemente cultivada graças à extensa coleção de figuras que me iam oferecendo, ora no aniversário, ora no natal, ora aqui e acolá, mas por azar do acaso — vulgo ruptura de stock —, a primeira caixa de cereais que adquiri foram os Frosties, uma obscenidade em doce de milho tostado, que em condições normais não compraria (#TeamChocolate). O problema, é que estas não eram de facto condições normais, estava prestes a adquirir a minha primeira demo de um jogo de computador, a primeira de muitas, e não podia escapar. Talvez por ser a primeira, esta é francamente a minha favorita desta coleção dos cereais: “Asterix: Mega Confusão“.
Desenvolvido pelo estúdio Sueco Unique Development Studios e publicado pela Infogrames Europe, este foi o meu primeiro jogo de Asterix, e diria que também foi o meu primeiro Mario Party… gaulês. Esta DEMO (curiosamente dobrada para Português do Brasil, algo raro na altura), incluía apenas três minijogos, dos 14 presentes no jogo completo. Para quem era fã e já acompanhava os destemidos gauleses de Albert Uderzo e René Goscinny através dos livros e filmes na época, facilmente se iria deixar deslumbrar por este party game. Os minijogos eram super divertidos e patetas, com destaque especial para o Food Feast, que consistia em comer tudo o que mexia, exceto as refeições envenenadas e já estragadas.
Talvez por ser o primeiro jogo desta longa coleção dos pacotes de cereais, as memórias são muito vivas, e constantemente presentes quando me vou deixando recordar dos primeiros dias de pc gaming, como se ontem se tivesse passado.
Já os jogos seguintes que fui adquirindo, recordo-me vagamento de os jogar, mas já sem aquele entusiasmo digno de uma background story, e pouco sequer me recordo quais as marcas de cereais em que cada um era incluído. Como se costuma dizer, a primeira vez é sempre especial, e no meu caso foi, de facto.
Outro dos três jogos sobreviventes que ainda tenho carinhosamente guardado no sotão, Starsky & Hutch, um clássico dos anos 70′ da TV americana, que conta a história dos detetives David Michael “Starsky” (Paul Michael Glaser) e Kennedy “Hutch” Hutchinson (David Soul), que usavam algumas maneiras bem peculiares para resolver os seus problemas.
Com um estilo cartoonesco e muito inspirado em Driver, este foi juntamente com Crazy Taxi, o meu primeiro jogo de corridas a jogar em computador, que mal se aguentava. Quando menciono Driver, é literalmente isso: perseguição, cutscene e perseguição, pouco orçamento e muito coração.
O terceiro jogo que tenho carinhosamente guardado, tal como Starsky & Hutch, sem memória alguma de o ter adquirido, é Lucky Luke: Western Fever, o cowboy mais famoso da banda desenhada, mais rápido que a sua própria sombra.
Mais uma DEMO com tantas horas colocadas, que me faz sentir vergonha de largar jogos atuais a meio por mero aborrecimento. Esta pequena amostra de jogo, era a mais rápida de ser finalizada, e se pensam que os speedruns são algo mais atual, não imaginam o que eu já fazia com este pequeno excerto da Kalisto Entertainment, vezes e vezes sem conta.
A controlar Lucky Luke nos primórdios do 3D, o objetivo era disparar e eliminar os fora da lei sempre da mesma forma, em 4 cenários diferentes, que pouco ou nada mudava. Bang Bang Lucky Luke.
O dia nunca chegara, o dia em que eu iria adquirir o tão desejado Action-Man, e de facto não chegou. As remessas de caixas de cereais com jogos já se encontravam um pouco escassas, e aos poucos foram descontinuando essas edições. Ficou um Action-Man por ser jogado, mas sobreviveram umas histórias engraçadas e umas longas memórias de infância.
Com ajuda do Reddit, partilho também alguns jogos/demos que me lembro de ver nos supermercados mas que nunca os adquiri:
- Lego Racers
- Desperados: Wanted Dead or Alive
- Bionicle
- Test Drive 6
- Alone in the Dark: The New Nightmare
E tu? Recordas-te de algum destes jogos? Se sim, partilha connosco, ficaríamos contente de saber!