Tinha eu acabado de receber a minha primeira consola caseira (Playstation 2), quando o meu padrinho é contratado para uma revista onde ganha acesso a jogos para fazer análises. Eis que, pouco depois disto, numa noite aleatória, aparece em nossa casa com dois jogos: Serious Sam para a Xbox e Pac-Man World 2 para a Playstation 2. Entro em modo adrenalina ao ver dois jogos novos, sendo que na altura, feito parvo, até testei o Serious Sam na Playstation não fosse haver uma maneira de o jogar, mas enfim, não é que tenha toldado a minha felicidade, pois continuava a ter um jogo novo, e mal sabia eu que esse jogo iria marcar boa parte da minha infância/adolescência.
Pac-Man World 2 foi um jogo bastante criticado na altura em que saiu, dado os picos de dificuldade que ocasionalmente surgiam, o que o tornava um platformer bastante exigente no que toca ao tecnicismo. Ora, foi esta exigência que marcou boa parte do meu desenvolvimento enquanto jogador pois quem já jogou Pac-Man World 2 sabe bem a dor de cabeça que aquilo se torna, pelo que os restantes jogos, mesmo os considerados difíceis raramente me frustravam após ter passado pela terapia forçada da (na altura) Namco. Foi assim que guardei um carinho e agradecimento especial por esta saga ao crescer.
World 2 à parte, numa louvável tentativa de reavivar personagens esquecidas, a Bandai Namco tem apostado no lançamento de clássicos, tendo o primeiro da linha (se não estou em erro) sido Klonoa Phantasy Reverie Series. Curioso é que Klonoa 1 e 2 eram lançamentos PS1 e PS2, mas a saga Pac-Man World só teve direito, até agora, ao re-lançamento do primeiro. Não sei se se trata de uma táctica financeira, ou se por outros motivos técnicos ou legais não estão a conseguir trazer de volta o seu sucessor, mas deixa um dissabor, embora custe menos 10€ do que a colectânea. Não obstante, vamos então dedicar-nos ao destaque de hoje.
PAC-MAN WORLD Re-PAC (quase all caps, à la MF DOOM) traz então de volta uma das personagens mais icónicas de sempre ao mundo dos 3D platformers. Desta vez com uma camada de visuais polidos e uma banda sonora remasterizada, damos seguimento ao retorno da linhagem de clássicos da Namco que tomaram o mercado dos videojogos de surpresa (só faltas tu I-Ninja).
A história mantém a rotina dos platformers, onde o vilão, Toc-Man, com a ajuda do seu exército de fantasmas, captura familiares e/ou amigos, distribuindo-os pelos vários mundos por onde iremos saltar e derrotar os vários inimigos. À medida que vamos completando níveis, encontramos chaves que desbloqueiam as suas jaulas, sendo que se libertarmos todos antes da luta final, teremos direito a uma ajuda extra.
A jogabilidade mantém-se fiel ao original, tendo a Bandai não só adicionado uma nova mecânica para nos mantermos alguns segundos no ar (alguns saltos eram mesmo tramados), como também podemos optar por um modo de dificuldade mais fácil, algo que não existia na versão da Playstation 1. Ao saltarmos conseguimos reparar que o Pac-Man na versão base é um bocado balão, o que ao início complica para acertar com os saltos, pois não só temos de aprender a calcular a wobbliness de cada salto, como também interpretar o posicionamento de Pac-Man, visto que o jogo é 2.5D.
O mundo de Pac-Man World era já bastante diverso no que toca aos cenários, o que com certeza ajudou ao tornar o jogo visualmente apelativo, no entanto, creio que podiam ter refrescado mais a paisagem. Nota-se claramente o esforço da Bandai em abrilhantar a versão da PS1, não só nos modelos das personagens, como nos pequenos detalhes que vamos encontrando em vários locais, e creio que um dos problemas é certas vertentes estarem tão retocadas, que quando comparamos com fundos como a lava por exemplo, simplesmente não coincidem na apresentação.
Fora visuais, já na altura esta aventura tinha uma profundidade bastante razoável no design de cada nível, sejam caminhos alternativos ou até mesmo a maneira como vamos ganhando perspectiva à medida que escalamos torres ou navegamos por túneis subaquáticos. Cada nível tem também a sua dose de objetos escondidos que nos dão bónus não só na pontuação, como também no formato de vidas extra, ou como já referi, chaves para abrir jaulas.
Um objeto em específico permite-nos abrir um portão que nos leva para um labirinto extra, servindo este para acrescer à pontuação. Para além disto, no final de cada nível, caso consigamos encontrar todas as letras que compõem “PACMAN”, temos direito a um mini-jogo cujo objectivo é apanhar o máximo de itens para aumentar a pontuação. Após terminar o mini-jogo somos levados para a roleta de vidas, onde aproveitamos as moedas que apanhámos durante o nível para tentar fazer linhas dos mesmos símbolos, sendo não só recompensados com vidas, como também com pontuação extra.
Para um re-lançamento de 1999, creio que embora o trabalho feito esteja bem conseguido, podiam ter aproveitado para rechear ainda mais Re-PAC. Por exemplo, existe um nível onde temos de ganhar uma corrida, e mesmo não sendo digno de um jogo somente dedicado a isso, sem dúvida que seria um belo modo de jogo adicional, quiçá até acrescentava uma vertente multijogador, apelando assim à rejogabilidade do produto.
Todavia, para os fãs mais aguerridos da saga, terão labirintos adicionais no fim de cada mundo, e um modo Original, onde durante 9 níveis irão fugir dos famosos fantasmas, sendo que a cada nível a velocidade aumenta, ficando este um desafio à altura do lançamento de 1999.
Também as opções de jogo acabaram um pouco desfalcadas.
O jogo encontra-se a 60fps (excepto a clássica versão da Nintendo Switch) mas não existe nenhum toggle entre desempenho e qualidade, referi e gabei na análise a Klonoa o sistema de acelerar as cutscenes e em Re-PAC só as podemos passar, portanto não sei se seria difícil de implementar ou se simplesmente desistiram do método. Também é verdade que criaram cutscenes novas, portanto percebe-se que a Bandai nos queira a ver o trabalho da equipa, portanto acaba por equilibrar a balança.
Embora tenhamos novas cutscenes, as vozes foram removidas e substituídas por barulhos à la JRPG. Percebe-se e prefere-se sinceramente pois não só acrescentam um valor cómico, como poupam dinheiro e recursos à equipa. Adicionalmente temos ainda uma banda sonora remasterizada, mantendo esta os tons alegres e dinâmicos com que vamos saltando pelos níveis.
No geral, Re-PAC é um produto mais que satisfatório, não só para os fãs da saga como para fãs do género. Claro que depois do lançamento de Phantasy Reverie Series seria de esperar que pelo menos o 2º jogo viesse incluído mas lá teremos de (rezar e) esperar por um possível relançamento do mítico Pac-Man World 2. Façamos figas para que Pac-Man recupere proeminência no mundo dos platformers e não só apostem mais nesta lendária personagem como em inúmeros outros IPs moribundos.