Dou por mim numa missão para recolher esferas de energia de várias torres, quando ao sair do carro, reparo que não puxei o travão de mão, vendo-o descer colina abaixo enquanto corro atrás dele e ao mesmo tempo levo choques das várias torres que me levaram ali em primeiro lugar.

Bem-vindos a Pacific Drive.

Narrativa

Encarnamos um transportador, estando claro, encarregues de transportar mercadoria na nossa carrinha. Com uma vibe bastante Firewatch, serpenteamos por uma floresta com colinas lindíssimas, no entanto, somos obrigados a fazer um desvio ao longo de uma das paredes da Zona de Exclusão Olímpica, um desastre que levou o governo a construir muros maciços para conter esta mesma área. Muda repentinamente o ritmo e ambiente do jogo. Surgem-nos perigos que não conseguimos identificar (quando jogarem perceberão) e o nosso transporte, após falecimento, é engolido por uma anomalia.

Após acordarmos, somos contactados por um par de cientistas com personalidades bastante distintas e expressivas, que vivem na Zona e conhecem as anomalias. Ao encontrarmos uma carrinha, descobrimos que é na verdade um Remnant, um objeto sobrenatural ligado a nós e à região, e a nossa única forma de escaparmos. Somos então guiados pelos cientistas que através dos vários objetivos que nos atribuem, mantêm a aventura focada. À medida que partimos em missão vamos conhecendo personagens novas e ouvindo histórias. Adicionalmente, encontramos bastantes registos e algumas gravações áudio, existindo portanto muita história por descobrir.

Jogabilidade

A nossa Remnant, fruto das várias aventuras em que nos leva, e as reparações que lhe realizamos, torna-se a nossa fiel companheira. Achei bastante interessante a forma como a Ironwood consegue juntar pequenas mecânicas como construir peças ou pintar o carro e mesclar tudo numa experiência praticamente de estimação. O ciclo é repetitivo, mas não o cheguei a achar aborrecido: saímos para angariar recursos, tentando sobreviver às anomalias, e voltamos para fazer upgrades antes do próximo ciclo.

A Zona possui mais de quarenta junções, ou níveis. Para procedermos entre elas, temos de recolher esferas (orbs) de energia (as tais da introdução) especiais e criar uma ligação âncora numa junção adjacente. Para regressarmos à base, utilizamos um dispositivo para abrir um portal que nos transporta de volta. O contra de finalmente podermos sair, é que a criação do portal traz consigo uma tempestade que nos encurrala, algo que vai testar a nossa velocidade a fugir. O próprio jogo reforça a curta duração das visitas pois ao fim de cerca de vinte minutos, ouvimos uma sirene semelhante às de um ataques aéreos, sinalizando que a junção criou uma tempestade e esta se encontra a caminho da nossa localização.

Creio que o loop da jogabilidade encontra um bom equilíbrio entre explorar caminhos e desbloquear novas rotas, ao mesmo tempo que vamos descascando camadas da narrativa. Não existe uma sensação de obrigação pois a autonomia é determinada por nós, visto que tanto podemos apanhar poucas (ou as suficientes para abrir o portal), como acumular imensas esferas de energia. As anomalias introduzem uma vertente misteriosa e assustadora, mas não passam da mesma interação conosco: abanar o carro. Inclusive ouvimos os cientistas referir outras anomalias que nunca se chegam a concretizar, o que desilude.

Mundo

Pacific Drive é claramente uma carta de amor ao Noroeste do Pacífico no Canadá. Desde os bosques densos e as colinas ondulantes, ou até a banda sonora, que inclui uma série de artistas oriundos da zona, mas de estilos diferentes. A extensa floresta engole-nos em verdura, trazendo imensas ruínas onde podemos saquear postos de investigação ou recolher destroços de carros.

O que achei mais curioso é que Pacific Drive é assustador apenas até o compreendermos. Não demoramos muito até percebermos que não existem criaturas à espera de nos atacar, nem mesmo jumpscares (diretos). Atrevo-me até a dizer que após as primeiras duas horas, o medo desvanece e o conforto instala-se, com este mais que interessante mundo pela frente.

Quiçá derivado da minha adoração pela saga S.T.A.L.K.E.R., a Zona é capaz de ser um dos mundos que mais gostei de explorar recentemente. A Ironwood Studios concebeu um mundo misterioso, assustador, e ao mesmo tempo, lindíssimo.

Breviário

Pacific Drive traz consigo uma viagem inesquecível. Com uma narrativa concisa mas sólida, um loop de jogabilidade simples e equilibrado, e um ambiente que nos imerge em mistério, não faltam motivos para apostarem na vossa própria aventura na Zona.

Agradecemos à Kepler por nos ter fornecido uma chave para análise

CONCLUSÃO
Curioso
8
pacific-drive-analiseA Ironwood Studios picou o interesse de imensas pessoas, incluindo eu, quando teve destaque no State of Play. Desde então fermentaram um produto que provou ter pernas para aguentar os vários pesos que este género traz. Não só encontramos um produto bastante completo em Pacific Drive, como o caminho pela frente equipara-se à sua premissa, um mistério interessante.