Sendo uma entusiasta de História, fui para Pax Augusta com as expectativas controladas, pois já as elevei várias vezes e fui desiludida n+1. Devo igualmente escrever que um jogo de construção de cidades romanas desenvolvido a solo não é exatamente o prato do dia na Steam, portanto, a curiosidade manteve-se alta. Eis que a expectativa foi mais do que superada, e dezenas de anos depois, ainda estou a pensar na vez em que o meu sistema de aquedutos ruiu porque calculei mal os desníveis de elevação perto de uma casa de banhos…

Pax Augusta não quer holofotes nem grandes teatros, e começa sem brilhos. Caímos num pedaço aberto de deserto romano e começamos a colocar estradas, um porto, talvez uma ou duas vilas. Em pouco tempo, a pequena colónia começa a pulsar com vida. Há algo de profundamente satisfatório em ver a cidade ganhar vida. Não porque o jogo te diz que está a correr bem, mas porque o podemos ver em direto. Os mercados começam a ficar lotados, de repente as pessoas juntam-se perto dos templos, e, com engarrafamentos na estrada principal, começamos a perguntar-nos: “Será que acabei de criar a hora de ponta?

Existem dois modos principais: um com estrutura e outro sem. A campanha está vagamente ligada a eventos históricos, principalmente através de texto de apoio e objetivos evolutivos. Por outro lado, o modo sandbox permite-nos perder na construção de cidades. Não há imperadores a respirar no nosso pescoço. Só nós, as nossas pedras, e as nossas ambições.

Mecanicamente, encontramos desafios, bons, e maus. Não é o tipo de jogo em que se pode ficar à mercê da estética. Estamos constantemente a gerir sistemas que, à primeira vista, parecem simples, mas que se tornam mais complicados com a escala. A satisfação dos cidadãos, a logística do comércio, a distribuição de recurso, está tudo interligado. Se as cadeias de abastecimento forem mal avaliadas, de repente falta azeite, o que significa que os templos deixam de funcionar, o que faz cair a popularidade, o que leva à agitação. É como ver um dominó a cair, exceto que os dominós são cidadãos de toga e agora querem incendiar o celeiro.

Os efeitos visuais não são revolucionários, mas possuem bastante carácter. Os edifícios têm um aspeto artesanal historicamente fundamentado mas acolhedor. Há algumas peculiaridades, como a luz do sol bater nas colunas de mármore mesmo ao anoitecer. Por vezes, as árvores atravessam as estradas se construirmos demasiado depressa, e não podemos fazer tanto zoom como queremos, a não ser que mudemos para o modo de fotografia. Ainda assim, com o zoom afastado, tudo se mantém coerente e vivo.

Para contexto, estou a jogar Pax Augusta numa RTX 4060 Ti com 16 GB de VRAM, i7-11700K e 32 GB de RAM.

Logo no início, o jogo corre que nem manteiga. Nuns belíssimos 1440p com tudo no máximo, estava a construir a mais de 100 fotogramas, mesmo com uma boa parte da construção da cidade a decorrer. Mas assim que atingi cerca de alguns milhares de habitantes e comecei a colocar mais rotas comerciais, mais edifícios cívicos e, especialmente, quando os eventos imperiais começaram, notei algum vacilo.

No pico da atividade, como já referi, a taxa de fotogramas desce para os 40 durante movimentos intensos, ou quando há muitos percursos a acontecer ao mesmo tempo (como dezenas de comerciantes e carroças a deslocarem-se entre portos e mercados). Adicionalmente, fazer zoom e arrastar a câmara rapidamente através de uma grande povoação pode causar gaguejos. Independentemente dos percalços, a utilização da GPU mantém-se bastante calma, mesmo em picos de carga.

Os tempos de carregamento são bastante razoáveis, levando normalmente menos de 20 segundos desde o menu principal até um save a meio ou no final do jogo. Não me deparei com falhas ou erros graves, mas existem alguns problemas na interface do utilizador, como por exemplo, colocar estradas ou estruturas perto de mudanças de elevação pode ser complicado. Como também já referi, gostava que eliminassem a limitação do zoom fora do Modo Foto, de forma a podermos apreciar melhor as nossas construções e o seu dia a dia.

Tendo tudo isto em conta, atribuo o máximo de crédito a Roger Gassman, pois para um desenvolvimento a solo, o nível de otimização é honestamente melhor muitos estúdios que fazem milhões ao ano. O motor não bloqueia, e não vi fugas de memória ou abrandamentos aleatórios em sessões longas.

Em termos de áudio, tal como o aspeto visual, encontramos discrição. Não se trata de uma banda sonora bombástica (nem o deve ser), mas sim de uma paisagem sonora texturada. O barulho ambiente dos mercados, os sinos distantes dos templos ou os pássaros a sobrevoar misturam-se perfeitamente num cenário de fundo histórico.

Um agradecimento especial à Plan of Attack pela disponibilidade ao ceder-nos uma key para Steam

CONCLUSÃO
Em construção!
7.6
Sara Kohl
Na internet, ninguém sabe que és uma batata.
pax-augusta-pc-anliseO melhor de Pax Augusta é que mesmo com as suas arestas, não faltam motivos para continuarmos a jogar. O ritmo simplesmente funciona, sem nos apressar com temporizadores artificiais ou distrações. O mais poético no meio disto tudo é que quando as coisas correm mal, não parece um castigo, mas antes uma lição de história.