Começo esta análise por dizer: SOBREVIVERAM TODOS!
E, com isto, Pikmin é aquela saga da Nintendo que não é para qualquer fã da gigantesca marca nipónica. A sua popularidade ainda não enche medidas, especialmente para mim que, já tendo batido algum terreno neste planeta desconhecido, gostava de ver a saga cada vez mais popularizada. Apesar disso, recordo-me que também eu, a início, estranhei o seu conceito no meu primeiro contacto com a franquia.
Como muita gente, até à altura da Wii U, também nunca tinha ouvido falar de Pikmin, que só agora é que começa mesmo a ser desenterrado e a ter presença mais proeminente entre os flagships da marca, embora ainda com reservas no seu sucesso – como se devem bem lembrar do jogo em AR lançado pela Niantic. Com isto, devo sublinhar que não é nada difícil de nos apaixonarmos por estas criaturas resilientes, e pela perspectiva sob liderança em matéria de trabalho em equipa que estes pequenos mas hábeis ajudantes nos ensinam. Só jogando por mim mesma é que realmente percebi onde a saga pretendia chegar e, como que Pikmins a desenterrar um néctar escondido, veio ao de cima uma das mais inesperadas e sumarentas aventuras Real Time Strategy que marcam a minha coleção pessoal de videojogos.
Ora, explicando por outras palavras, desta vez nas de Fernando Pessoa: “primeiro estranha-se e depois entranha-se”, e tendo já completado a sequela e mais recentemente o terceiro título da saga que trouxe aqui a análise para vocês, devo confessar que nunca até então tive a oportunidade de pegar no jogo originalmente lançado para a GameCube que conta a origem desta viagem. Portanto, esta aventura “remasterizada” que a Nintendo nos oferece agora, veio mesmo a calhar!
Será este título original tão ou mais desafiante e divertido que os seus sucessores? Será este um jogo simplista e modesto ou uma radical imposição no gênero? Será o seu port da versão da Wii justificável para a Nintendo Switch? Poderás encontrar as respostas a estas e a muitas mais perguntas já de seguida nesta análise sem spoilers! Estão prontos para descolar?
Antes de apertarem o cinto para o restante conteúdo desta análise, e embora ache que todos já conhecemos o prólogo da estória deste capítulo na saga de Pikmin, vale sempre a pena relembrar para os jogadores mais novatos a premissa de que partimos. Ora, o bom do nosso excelentíssimo Capitão Olimar, por meio de um incidente com um meteorito, despenhou-se num planeta desconhecido e primordial. Neste, estranhos seres pequeninos que parecem rebentos de pimentinhos, demonstram-se ajudantes valiosos na sua demanda por recuperar todas as 30 peças da sua nave, de forma a poder repará-la e voltar para casa. Nisto, pensava eu que à semelhança das entradas mais recentes, teríamos no máximo ter de recolher umas 3 ou 4 peças, mas eis que esse número redondo me surpreende de facto. Amigos, é que perante 30 peças soltas nós não estamos só a reparar uma nave, nós estamos a construir a nave!
Dado que vejo a experiência deste jogo como um modesto início de carreira para os nossos pikmins, é, de facto, um número desafiante e que se justifica nos seus três finais alternativos, bem como te permite evoluir enquanto líder numa jornada do herói para a qual nenhum outro jogo anteriormente nos preparou! Originalidade, criatividade, inovação, são os mais sublinhados adjectivos para começar a descrever à época e ainda hoje o que representa Pikmin, pelo que algumas coisas teremos de deixar passar. De facto, aqui acrescento já que nas entradas mais recentes foi introduzido algo mais fácil de engolir do que “30 peças de uma nave espacial”…
Como se não bastasse “recriarmos” a nave, descobrimos também que temos oxigénio para exactamente apenas 30 dias. Em apenas um mês, Olimar terá de se acostumar a estas novas criaturas e desdobrar-se entre equipas de Pikmins vermelhos, azuis e amarelos – a trindade original – para garantir que abre caminho até em média uma das peças por dia antes que o seu tempo se esgote. Como efeito, exploramos cinco biomas coloridos e diferentes onde passagens secretas, pequenos lagos e riachos, predadores, obstáculos e plataformas requerem algum pensamento estratégico de gestão das forças e fraquezas da nossa equipa de Pikmins.
Na minha opinião, isto faz deste jogo um excelente desafio para propores ao teu manager que não te consegue entregar o horário com uma semana de antecedência… Saber onde cada tipo de Pikmin poderá retirar mais vantagens é a chave de ouro para um trabalho rápido e eficaz, bem como para um final do dia produtivo. Se ainda não estás familiarizado com estas criaturas, vamos então fazer aqui uma pequena apresentação às estrelas deste título para as conheceres melhor. Entrem em cena os pikmins vermelhos, amarelos e azuis!
- O vermelho é, talvez, o mais popular, sendo resistente ao fogo. É, também, carregado de uma força bruta para partir para a porrada aos inimigos que se atravessam no teu caminho.
- O amarelo e mais fofo, é um tipo de pikmin mais leve, o que significa que consegues facilmente arremessá-lo a altitudes maiores. No entanto, estes são capazes de ao contrário de qualquer outro pikmin, carregar e detonar bombas que ajudam a rebentar bloqueios no teu caminho.
- O azul e mais versátil de todos, é o único capaz de nadar. De facto, eles só estão bem como peixes dentro de água, e apesar de também serem construtores resilientes, não possuem tanta força quando os restantes, bem como morrem mais facilmente à mínima lambidela de uma chama.
São estes os únicos tipos de pikmin presentes neste jogo, sendo que no máximo só poderás controlar um batalhão de 100 elementos fora das naves mãe. Poderás criar muitos mais claro, mas não poderão estar em terra mais que essa conta. Com efeito, tens um modo adicional neste jogo que é o Challenge onde o teu objectivo é criar o máximo número possível de pikmin e bater os highscores, sendo este um modo muito fácil e talvez feito mais para relaxar do que para competir. No entanto será o teu desafio no modo aventura, será controlá-los na resolução de puzzles que implicam o desbloqueio de obstáculos ou cuidado minucioso em estreitas passagens.
Com apenas três tipos de pikmin, devo dizer que igualmente a diversidade de inimigos é pouco, mas dada a simplicidade deste título em relação aos demais da saga, há que notarmos que o número de biomas que exploramos também cabe numa mão. Em cada uma destas zonas, teremos um determinado número – representado por estrelas – de peças para encontrar, mas igualmente há predadores que são apenas nativos de cada região. No entanto será muito mais frequente um certo tipo de predador ser encontrado, há semelhança de larvas e bichinhos da conta que surgem do chão.
Em termos de dificuldade para os derrotar, quanto mais pequenos mais fáceis, e quanto maiores convém também o teu batalhão crescer em igual proporção. Se estiveres sempre a deixar que os teus pikmin sejam derrubados e se levantem para atacar novamente, estarás a ter um desfalque enorme nos teus esforços por expandir o teu exército e progredir. É um concelho que te deixo.
Realmente, se não estás familiarizado com a saga, sabe que a complexidade em termos de gestão destes Pikmin requer mais alguns truques na manga. É preciso saber cultivar mais Pikmin, e tentar não deixar nenhum para trás. Pois sem Olimar, estas pobres criaturas ficam mesmo indefesas, e sujeitam-se a tornarem-se na ceia dos predadores que caminham à noite livremente por todo o mapa. Acredita que se te esqueceres de algum pikmin perdido algures, como sempre, vai ser de partir o coração ver a cutscene do final do dia… Estes vão desesperadamente tentar regressar a tempo à nave mãe a par e passo que acabamos de descolar do planeta… Fica-nos um gostinho amargo quando vemos o desespero nos olhos destes pequenitos que não se esquece.
Mas deixemos agora de parte a história e o conceito que já está estabelecido na franquia há anos. Falemos então deste produto em si como um port da versão melhorada que anteriormente foi lançada para a Wii, e se justifica-se algo deste género nos tempos que correm, sendo que temos um Nintendo Switch Online que poderá perfeitamente estar a caminhar para uma possível abertura a um novo espaço, que à semelhança do tratamento dos jogos da NES, SNES, N64, poderá integrar perfeitamente os jogos da GameCube no futuro. Mais sincera que isto será impossível, e falo isto com o peso de toda a geração da PS2 em mente – que ainda me custa acreditar que já é considerada uma geração retro -, mas não vejo como justificar atualmente para a Nintendo Switch, um port destes onde onde os gráficos poucas melhorias apresentam comparativamente ao original, continuando-me a parecer processados por uma GC. Eu até poderia ir buscar o assunto do Deadly Premonition 2, mas vamos deixar os mortos descansarem em paz…
Realmente aqui, neste ponto, não vejo como justificar este port ao invés de integrar a biblioteca do NSO. Poucos são os esforços para trazer uma atualização fresca e de cara lavada a este jogo, sendo um copy paste desmarcado da versão para a Wii que por sua vez também não teve grandes melhorias. Trata-se então sobretudo de um update em termos de controlos para os Joy-Con e pouco mais, à semelhança dos títulos na biblioteca NSO. Sendo vendido num pack com a sua sequela, veremos como a mesma se comporta embora me pareça desde já que pelo que foi dito, recebeu exactamente o mesmo tratamento que este título.
Portanto, a nível de texturas, a nível de animações, amigos bem sei que não será o que muitos que procuram esta análise quererão ler, mas é de facto a mais pura opinião que tenho a tirar do meu peito nesta experiência em análise. Com isto não quero deixar de lado o facto de esta ser a melhor oportunidade que terás atualmente de experimentar os humildes inícios desta saga, ainda para mais podendo jogar onde, quando e como quiser, um dos grandes benefícios da Nintendo Switch!
Modéstias à parte, há, no entanto, algo que me surpreendeu e iria igualmente me surpreender ainda mais a par do conceito deste jogo se o tivesse jogado na sua época de lançamento original: o olhar para os detalhes. Vocês já perceberam que 30 peças de um nave são um exagero, – deve ser uma Ferrari, só pode! – mas cada peça é única no seu design e função, pelo que é perfeitamente possível vê-la a ser acrescentada à nave consoante a recolhemos.
A paciência e resiliência para chegar a este resultado num videojogo que já tem mais de 20 anos é de se louvar se olharmos bem para o que se praticava na altura. Saliento que aqui o jogador sente uma gratificação por cada uma das 30 peças que recupera, com o vislumbre da nave a ficar cada vez mais completa e operacional. Não só em termos de design isto é visível, mas também na animação do comportamento da nave em si quando esta descola.
Ao navegar é possível notar diferenças na performance e comando da mesma, embora se trate apenas de cinemáticas onde não temos qualquer controlo. Por acaso, gostaria que nas entradas mais recentes tivessem chegado a um meio termo onde tanto isto fosse possível como a questão de consumíveis para sobrevivência da tripulação que é o que as entradas mais recentes focam mais.
Mas se por um lado um olhar minucioso para detalhes é bom, no que toca ao diário de bordo, menus e tudo mais o que implique textos, o botão B será o teu melhor amigo para saltares à frente, dado que muito deste conteúdo é mais palha do que propriamente novidade. Igualmente, há algo relacionado com estas informações que me aflinge neste jogo, e que é as interações quando sem querer toco numa peça que os pikmin transportam a caminho da nave. Por vezes é só mesmo de raspão, outras parece nem tocar em mim quando esta se cruza no meu caminho, mas por mais de leve que seja o toque, desbloqueia logo uma disruptiva interação que te leva a um ecrã informativo de texto sobre a mesma. B. B. B. B!!!
Uma marca e testemunho do seu tempo, que só vi melhorar à terceira entrada, é, talvez, o controlo de câmara que já na sua sequela foi de uma habituação… Um pouco sofrida, mas propositada! Dado que não controlas tão livremente a câmara de forma a evitar que vejas o horizonte, e navegas numa perspectiva que não é bem tabletop nem é bem terceira pessoa, requer alguma paciência e habituação. Agregado a esta câmara temos um pointer que nos permite fazer pontaria para onde queremos atirar os nossos pikmin. Este agora permite-te usufruir da funcionalidade de giroscopio do Joy-con, o que é muito bem vindo!
E já que estamos a falar de controlos, neste port não poderás pegar no teu Delorean e voltar atrás a qualquer um dos 30 dias de campanha do capitão Olimar, algo que no port da Wii conseguias fazer e facilitava um pouco o jogo. Assim, a decisão de fazer save ao final de cada dia deve ser mais ponderada que o costume, de forma a não te arrependeres se ao fim dos 30 dias não tiveres mínimamente reunido algumas peças da nave.
Pondo agora em perspectiva o espectro sonoro, é de se mencionar que muitas das músicas que ainda hoje marcam a franquia, também aqui tiveram a sua origem. Entre temas que invocam a selva e outros o espaço desconhecido, é também de reconhecer os tradições efeitos sonoros desta saga, como os próprios pikmins que fazem barulho quando estão a fazer esforços por te seguirem e carregarem coisas.
Agradecemos à Nintendo Portugal por nos ter cedido uma chave para análise.
Pikmin 1 já está disponível em Pikmin 1 + 2 lançado para a Nintendo Switch.