Uma emissão é transmitida. Nela, alguém se identifica como o Quartering Duke, questionando a sociedade atual e assassinando duas pessoas que tinha como reféns. Estes eventos repetem-se uma e outra vez. A sociedade está em choque, a criminalidade aumenta e “copycats” do Duke aparecem, imitando os seus métodos. A Detective Alliance, uma organização onde estão os melhores detetives do mundo é chamada para pôr fim a este terror. 
Um grupo de detetives reúne-se na sua base secreta, numa ilha remota, para debater e arranjar solução aos recentes homicídios do Duke. Ao chegarem, um espetáculo horripilante aguarda-os. Os colegas, que nela já estavam, foram todos mortos, incluindo o mais veterano deles. Ao refugiarem-se no edifício principal dão por si aí encerrados devido a uma máquina mortal que se encontra nas redondezas e, o assassino, o Quartering Duke, pode estar entre eles, dentro daquela mesma mansão. 
Mas a verdade nem sempre é o que parece, e o passado e presente unem-se nesta aventura em que inúmeros mistérios terão de ser resolvidos. Conseguirão sair com vida da mansão e encontrar o responsável.

Será este novo caso da Nippon Ichi Software digno de investigar?

Desde o primeiro segundo somos introduzidos ao pesadelo do Quartering Duke


História


Aqui assumimos o papel do detetive novato Wato, com a alcunha detetive “Incompetent” que, no início, é recrutado para a agência que sempre desejou trabalhar, a Detective Alliance. Rapidamente se verá transportado para uma ilha em que se verá envolto, juntamente com outros detetives, num conjunto de homicídios ocorridos e, se não têm cuidado, cada um deles poderá ser o seguinte.
A verdade é que desde o início não se sabe para que lado a história se há de voltar, qualquer coisa inesperada pode acontecer. Logo, desde os primeiros minutos, homicídios acontecem e estamos numa constante procura pela verdade para, de seguida, outro mistério aparecer. Fiquei bastante satisfeito nas constantes reviravoltas que aconteceram, incluindo coisas como “super poderes” e o Oculto.

Nesta aventura começaremos com 14 detetives. A maioria segue clichés da cultura anime japonesa. Temos a personagem “sexy” e que só pensa em comida (alcunha Gourmet), a “tomboy” que destaca em combate (alcunha Rowdy), o rapaz mais andrógeno que está sempre assustado e grita bastante (alcunha Doleful), a rapariga rica e “snob” (alcunha Posh), entre outros. Em alguns momentos estas personalidades são levadas ao extremo, causando algum constrangimento em certas cenas.
Numa fase inicial, estes personagens não me causaram grande impressão, mas admito que ao avançar do jogo fui conectando cada vez mais com eles, descobrindo novas facetas deste grupo. A partir do momento que o grupo vai diminuindo de tamanho é dado mais ênfase a cada um deles. Ao avançar a aventura eles vão-se abrindo, junto com a história, dando uns momentos bem mais empáticos.

Momentos cómicos e descontraídos estão presentes ao longo da investigação

Deixou-me um pouco desconcertado alguns momentos da história porque, supostamente, estes personagens são detetives muito famosos e têm grandes capacidades, no entanto em certos momentos; dão a sensação de ser pouco inteligentes (“burritos”). Às vezes resolvem as coisas como se nada fosse e outras parece que não lhes apetece pensar.

A história é bem longa. Da minha parte, sem saltar os diálogos, levei em torno de 30 horas para terminar, sendo a segunda metade muito mais intensa e interessante que a primeira. As escolhas ao não oferecem diferentes caminhos faz com que não seja rejogável a não ser que queiramos tentar conseguir todas as keywords e memory fragments do jogo.


Jogabilidade 


Process of Elimination é uma visual novel extensa com elementos jogáveis. Divide-se em 2 momentos, a parte Visual Novel pura e em fases jogáveis. 
Nos segmentos Visual Novel a história avança automaticamente, podendo haver alguma opção de escolhas pelo meio, sem influenciar o decorrer da história principal. Neste segmento podes ir apertando o botão depois de cada diálogo ou podes deixar em modo automático e estar tranquilamente desfrutando da história. 

O segundo momento no jogo são as partes jogavéis mais interativas. Em cada capítulo haverá momentos em que se terá que realizar algum tipo de investigação/ação que requer que tomemos o controlo. O jogo coloca-nos num mapa da zona, dividido numa espécie de quadrículas, onde os nossos personagens estarão e se poderão movimentar.

As fases jogáveis são surpreendentemente divertidas

Os personagens têm 5 parâmetros que os definirão. Temos Infer, Analyze, Inspect, Assist e Move, e cada um terá uma certa utilidade no tipo de mistérios que temos que resolver. O comando Infer permite resolver alguma pista complicada presente no mapa, tendo esta um valor que teremos que reduzir a 0 com o comando Infer. Este comando também serve para desativar armadilhas/perigos com os quais nos encontraremos no campo. Analyze possibilita analisar certas pistas que tenhamos encontrado sem ter usado o comando infer. Inspect serve para inspecionar as redondezas do personagem, para encontrar pistas, palavras-chave e outras “coisas”.  Assist possibilita ajudar um colega que usa o comando Infer, tendo que nos colocarmos junto a este para o poder ajudar. O Move indica o quanto nos podemos mover no mapa. 

Em cada destas fases temos um certo número de “horas” limite ou a resistir, por exemplo. Em cada turno podemos realizar uma das 4 ações mais o comando Move, sem ordem específica de qual realizar primeiro. Podemos também optar por deslocaremo-nos sem estar limitados pelo máximo do nosso valor de Move, mas, em contrapartida, não poderemos depois realizar nenhuma outra ação no mesmo turno.
Teremos dois comandos de suma importância, o Preliminary e o Investigate. O Preliminary serve para que os personagens que já ordenamos fazer algum movimento o façam. O Investigate serve para o mesmo, mas acaba logo o turno, tendo nós ordenado ou não o movimento a fazer a todos os personagens. É conveniente selecionar um personagem e de seguida carregar no Preliminary já que as descobertas efetuadas podem ser aproveitadas ainda nesse “turno” pelos companheiros que ainda não atuaram. 
Ao realizar certas ações ir-se-ão desbloqueando, nessa fase, novas ações a realizar e o controlo de personagens que, até então, atuavam por si mesmos. E por falar de atuar por si, em certos momentos, haverá personagens que não podemos dar nenhuma ordem, já que atuarão por si, às vezes sem fazer nada e outras tentando investigar certas zonas. Teremos que ter muito cuidado já que haverá, ocasionalmente, armadilhas em campo e estes personagens facilmente podem cair nelas, tendo nós que arranjar forma que isso não aconteça, por exemplo, através de desativar a armadilha com um personagem que controlemos.

É necessário usar as capacidades de cada detective na melhor forma possível

Ao cair numa armadilha ou o tempo acabar, fará saltar o ecrã de game over e teremos que voltar a iniciar desde o início esta fase. Admito que, numa das fases, passei alguma dificuldade uma vez que analisava algo que fazia aparecer certas armadilhas, andava sempre a repetir o mesmo erro e a reiniciar o nível, até que me apercebi que não deveria analisar aquele elemento. Estava muito frustrado, mas quando me dei conta, muitas risas e vontade de chamar-me idiota surgiram. É muito importante o trabalho em equipa entre eles.
No geral, estas fases são extremamente divertidas e bem pensadas. Recorda muito aos jogos de mesa que muitos de nós jogávamos. Adoraria que voltassem a pegar neste sistema noutro jogo e o expandissem.

Em certos momentos, ao finalizar esta parte jogável, entraremos num modo em que teremos que responder de forma correta às questões que nos colocarão, podendo dar um conjunto de opções de resposta ou então ter que selecionar o personagem que achamos responsável. As pistas que reunimos na fase jogável servem para ajudar a responder a essas questões.

Fora disso, durante o decorrer da história os poucos momentos que nos dão escolhas são inconsequentes.


Visuais


A parte visual consiste nos retratos dos personagens sobre fundos estáticos. Estes retratos contam com diversas poses e expressões dependendo da situação e com animação dos lábios para tentar dar uma boa sensação de lip sync. Os fundos não são muito diversificados e, geralmente, são também pouco detalhados. Acho também que tudo isto é influenciado onde o jogo se ambienta, estando limitados ao que realmente apresentar, mas ao menos poderiam ter oferecido mais quantidade. Por vezes, a história também é apresentada através de imagens detalhadas em que aparecem os personagens no próprio ambiente e não apenas em retrato sobre o fundo como na maioria do jogo.

Um grupo heterogêneo para uns casos bem inusitados

O desenho de personagens é interessante e com um bom número de detalhes nestes, nada que já não se tenha visto antes, mas bem agradáveis à vista e que se complementam na perfeição com os fundos.

Inicialmente, o desenho visual geral do jogo pode chocar um pouco com o suposto argumento, isto é, um estilo muito anime e descontraído, mas com um argumento sobre um assassino em série e o estar preso numa mansão onde podes ser atacado/morto a qualquer momento. 
A verdade é que quanto mais jogava mais achei ideal o estilo porque, queira ou não, o jogo possui também esses momentos mais descontraídos e cómicos que ajudam a entender  esta parte visual e faz que a nossa cabeça a integre como complemento da história.

A parte jogável de Process of Elimination conta com uns mapas com uns desenhos relativamente simples, com os nossos personagens representados com um estilo interessante, indo de encontro aos cenários e com um charme difícil de ignorar. Este mapa funciona por “quadrículas”.


Som


A quantidade de músicas é reduzida se tivermos em conta a grande duração do título. Passaremos grande parte do jogo ouvindo as mesmas músicas uma e outra vez. Contudo, também é importante dizer que as músicas são de boa qualidade, adequando-se, na sua generalidade, aos momentos em questão. A verdade é que, ainda com a pouca quantidade, conseguiram criar uma boa atmosfera graças a estas composições.

O jogo não possui muitos efeitos de som. Destaca-se a parte dos personagens a deslocar-se com o som das pisadas e algum que outro momento, apesar disso não há muito mais que destacar.

As vozes estão apenas em japonês. Apesar de, na generalidade, o jogo apresentar uma boa dobragem, em alguns momentos, certas vozes atingem um nível incrível de cringe. O protagonista adora falar tão baixo e como se tivesse de cabeça voltada baixo que, por vezes, nem o conseguimos ouvir (apesar de ter baixado a música no menú), o Doleful adora gritar com os seus “Eeeeeeeeeek” e a Posh, a detetive da nobreza, adora soltar os seus “OH, OH, OH” e falar extremamente alto, entre outros. Também achei um pouco estranho na mesma frase personagens andarem a subir e a descer o tom de voz, aconteceu muitas vezes.

Será que deves ir de cabeça comprar Process of Elimination?

A equipa Squared Potato agradece o código digital cedido gentilmente pela NIS America.

CONCLUSÃO
Um processo digno de seguir!
7.5
Bruno Cavaco
Grande apaixonado pelo mundo dos videojogos, destacando a sua predileção por RPGs e jogos japoneses no geral. Licenciado em Gestão de Marketing, continua a planear o caminho que deve seguir. Um fã da Eurovisão dos pés à cabeça.
process-of-eliminationProcess of Elimination é uma visual novel bem interessante e que oferece elementos diferentes do habitual. Uma história longa, cheia de giros, mistérios e sentimentos bem humanos e umas fases jogáveis divertidas e estratégicas são os grandes pontos a destacar. Por outro lado, as grandes sequências de história sem qualquer input da nossa parte, uns fundos estáticos sem personalidade e alguns momentos mais caóticos da voice acting são os seus principais pontos em contra. Apesar do seus baixos valores de produção, Process of Elimination surpreendeu-me pela positiva e tenho a certeza que irá fazer as delícias de quem anseia por um bom mistério (assim ao estilo de Danganronpa ou da trilogia Zero Escape) ou simplesmente queira jogar algo diferente ao habitual.