O destaque desta análise é, nada mais nada menos do que a nova entrada no panteão de exclusivos de qualidade da Sony, Returnal.
Antes de começar, deixem-me só dizer que devido às complicações que ocorreram com os patches, fiquei sem save quando foi lançado, o que me obrigou a refazer o jogo todo, mas, como a Housemarque é amiga, removeram o patch pois estava a dar vários problemas, mas apagaram-me o save outra vez. Portanto, caso tenha acontecido o mesmo convosco, I feel you.
Caso não conheçam o historial da Housemarque, aconselho vivamente a visitarem o catálogo de jogos impressionantes que esta equipa finlandesa já trouxe à indústria, desde Outland, passando por Resogun, até ao mais recente Matterfall. Deixo no entanto a nota de que não serão nada parecidos com Returnal, exceptuando o espectáculo visual.
Esta foi então a primeira aventura da equipa em várias vertentes, temos uma maior ênfase na narrativa, a câmara foi reposicionada para transmitir a experiência cinemática característica do catálogo da Sony e como se costuma dizer, the last but not the least¸ Selene é a protagonista, contribuindo para o lote de protagonistas femininas memoráveis que têm tornado esta indústria cada vez melhor e mais diversificada.
A história de Returnal inspira-se largamente na manga All You Need is Kill, provavelmente a primeira coisa que vos vem à cabeça é o filme Edge of Tomorrow, protagonizado por Tom Cruise, pois este também bebeu do sumo criado por Hiroshi Sakurazaka. O ponto central da história é que quando o protagonista morre, volta sempre à mesma localização temporal, tendo como objetivo encontrar o elo que perpetua este ciclo.
Já percebemos que a Housemarque tem bom gosto, mas para além disso, conseguiu acrescentar o seu toque pessoal, que embora não altere a génese da história, causa impacto suficiente para deixar marca no jogador e mais não posso dizer pois arrisco-me a estragar a história.
A jogabilidade… Ui a jogabilidade…
Posso começar por abordar o elefante na sala e dizer que o jogo não é difícil, no entanto, torna-se involuntariamente difícil para um jogador casual devido ao tempo que cada run demora, isto porque não temos maneira de guardar o progresso.
Vinco, este jogo não apresenta grandes dificuldades, apenas sofre da falta de um porto seguro para descansarmos e desanuviarmos de tantos extraterrestres. Caso tenham jogado a saga Soulsborne então, isto é um passeio.
Sejam pacientes, façam as salas opcionais, mexam-se muito e conservem recursos.
Existem desafios opcionais onde podemos tentar bater os recordes globais, ou simplesmente disputá-los com amigos, numa tentativa de obter a maior pontuação possível dentro de circunstâncias impostas pelo mesmo.
O jogo enquadra-se perfeitamente no género roguelite, visto que embora tenhamos de começar de novo cada vez que morremos, mantemos certos itens/materiais connosco. Isto facilita bastante parte do processo.
Encontrei algumas falhas na utilização das mecânicas, como por exemplo, termos uma sala onde podemos fazer um “backup” de Selene caso morramos, no entanto, se morrermos num bioma diferente de onde fizemos o backup, não ressuscitamos, e gastámos recursos para nada.
Temos uma grande variedade de armas, embora a pistola seja a minha eleição, portanto acabei por me focar mais nesta, e acreditem que parece que não ao início, mas compensa bastante mais para a frente.
Para além das armas temos os característicos buffs, que nos vão fortalecendo de várias maneiras à medida que vamos progredindo, temos buffs temporários, no formato de consumíveis, podemos encontrar itens permanentes à run, ou, temos uns bichinhos que se colam a nós, que ao mesmo tempo que nos dão algo, também retiram, portanto terão de planear bem a vossa build, de forma a potenciarem o vosso estilo de jogo.
Existem 6 biomas para visitarmos, excluindo a casa, que é o ponto central de desenvolvimento da história. Estes biomas são diversificados em arquitectura, no entanto mantêm todos o tom sombrio que caracteriza o planeta.
Falando em tom sombrio, deixem-me dizer que este jogo tem um ambiente bastante desconfortável para um roguelite. Remeto-vos para Alien/Prometheus, e saberão do quão desconfortável falo. É incrível a maneira como num cenário com tanta acção, e mesmo numa run em que estejamos no auge dos poderes de Selene, a Housemarque consegue ainda assim veicular uma sensação de desconforto.
Esta sensação encontra-se aliada aos visuais impressionantes que Returnal traz à tela. Estejamos sozinhos ou rodeados de inimigos, teremos sempre detalhes que acrescentam uma camada à imersão, seja os cenários altamente polidos ou as partículas que vão interagindo connosco à medida que interagimos com os seus recipientes.
A imersão é ainda mais potenciada quando colocamos uns fones e utilizamos o DualSense. Para além do áudio 3D de que podemos usufruir (embora não esteja tão nítido como em Resident Evil Village), temos o DualSense completamente optimizado para esta run, entre a vibração adequada ao cenário, como os gatilhos efectuarem várias acções, mediante a pressão que colocamos nestes.
Falei pouco de Selene, mas Jane Perry acarreta este papel com uma seriedade ímpar no género. Claramente candidata a prestação do ano (embora já tenha concorrência de peso), a maneira como entrega o diálogo é de tal forma convincente, que não só nos interessamos cada vez mais pela sua história, como ansiamos por vê-la triunfante no fim da história.
A banda sonora segue a linhagem subtil dos títulos Playstation, estando claramente adaptada ao ambiente, mas não teremos quaisquer vocais presentes. O objectivo foi claramente deixar o instrumental definir o momento, e foi feito com imensa graciosidade.