Jogos de terror com experiência narrativa na primeira pessoa e carregados de quebra-cabeças, têm sido um padrão de sucesso na maioria das tentativas por parte dos desenvolvedores. O pequeno estúdio Alemão Pixelsplit quis surfar nessa onda com uma tentativa arrojada, que impressiona na sua direção de arte, mas falha redondamente no restante.
Reveil coloca-nos na pele de Walter Thompson, um protagonista que acorda com resquícios de amnésia, e que vive alegadamente num estado de realidade alternativa. Este é mais um título que segue o padrão dos jogos de terror, iniciando-se com um despertar confuso do protagonista, com imensas perguntas e zero respostas. Tudo o que entendemos desde muito cedo, através das pequenas interações com os objectos e documentos coletados, é que Walter procura incessantemente a sua esposa Martha e a filha Dorie, e que a família está de alguma forma ligada à indústria do circo.

O conceito narrativo e a sua construção tendo como tema o mundo do circo, é uma combinação extremamente eficaz e promissora neste género, uma vez que muitos elementos alusivos a este tema carregam esse peso terrorífico se bem implementados na direção de arte, mas Reveil falha ligeiramente ao entregar o que na teoria tinha tudo para dar certo. A história tem algumas boas revelações e surpresas, mas no seu modo geral é uma premissa narrativa clichê, e ao jogar esta curta experiência de duas horas, senti já ter visto isto em algumas outras obras.
Visualmente, Reveil tem uma direção de arte que te convida a visitar todos os seus planos, com cenários muito bem construídos e com detalhes muito singulares. Algumas texturas perdem-se pelo caminho, mas tendo em conta o tamanho do estúdio e o seu orçamento, este pequeno título destaca-se da sua concorrência. Esta falta de orçamento nota-se na repetição dos cenários com as constantes alucinações de Walter, o que acaba por saturar, naquela que já é uma experiência tão curta, e aqui fica sempre aquela sensação de mau aproveitamento.
A jogabilidade é simples e sem muitos segredos; Reveil é um walking simulator. O personagem consegue caminhar, correr, agachar-se e interagir com objectos. Os quebra-cabeças são extremamente simples e pouco desafiantes, e grande parte da experiência é passada a caminhar até uma parede, virar a personagem para trás, e os cenários mudam.
Os momentos de terror e tensão nunca estiveram presentes durante a experiência. O abuso de elementos que causam jumpscares são levados ao extremo em Reveil, encontrando-se algum boneco de circo em qualquer canto, com um pequeno berro entediante, acabando rapidamente com a sensação de tensão que deveria estar presente neste título.

Walter é um personagem que fala. Algo que não esperava quando conheci a proposta de Reveil. O voice acting é medíocre, sem emoção, muitas vezes descontextualizado da cena presente, mas está lá. Preferia um protagonista mudo, e mais documentos espalhados pelos pequenos cenários, que me fizessem incentivar a explorar mais para conhecer a narrativa, mas a Pixelsplit optou por uma abordagem mais amigável para todos os jogadores.
As três faixas que compõem a banda sonora do jogo são muito interessantes. Escritas e interpretadas pela cantora e compositora Arina Tara, as músicas procuram entregar uma atmosfera bem ao nível das actividades psicadélicas que o protagonista passa, e nisto, acertaram em cheio. A faixa “We Will Go” é a mais ouvida durante a experiência, e é espantosa, com sensações muito parecidas à atmosfera entregue por Low Roar em Death Stranding.