Lançado em Fevereiro de 1995, Ristar é um jogo de acção e plataformas para a SEGA Mega Drive, e Sega Game Gear criado por Akira Nishino e Takeshi Niimura.
Ristar como mascote
O seu desenvolvimento, remete aos inícios da concepção de Sonic the hedgehog (retro-análise aqui), onde a SEGA ainda estava a decidir qual seria a sua mascote. Inicialmente Ristar, não foi uma estrela, mas sim, um coelho chamado “Feel” que esticava as suas orelhas para alcançar superfícies e derrotar inimigos. Embora o seu desenvolvimento remeta à criação do ouriço azul, Ristar só viu a luz do dia 4 anos mais tarde, quando Akira Nishino e a sua equipa o adaptaram para a sua conhecida forma de estrela.
Na verdade, Ristar foi concebido para ser o sucessor de Sonic the hedgehog, e muitos até especulam que a decisão de tornar Ristar numa estrela, foi devido a esta ser uma mascote que remetia ao espaço, o foco da próxima geração de consolas da SEGA, com a SEGA Saturn. Contudo este também foi o elemento que destruiu a sua exposição, já que saiu na fase terminal da vida da consola de 16bits, e a uns meros meses do lançamento da sua sucessora.
Uma história com diversas versões
A sua história muda conforme a versão jogada, contudo e ainda assim, permanece com alguns pontos comuns. O que ambas as versões têm como comum, é o seu vilão. Greedy, é um pirata espacial que invade a galáxia do reino solar de Valdi. Imediatamente esta vil criatura começa a tomar posse das figuras e líderes mais influentes de cada planeta.
Num acto de desespero, um dos últimos planetas não afectados, Neer, ora a um herói que os salve, e as suas preces chegam à nebulosa da Deusa Estrela, Oruto. A Deusa então acorda uma das suas crianças: Ristar. Este tem a difícil de missão de resgatar todos os líderes, resgatar o sistema solar, e acabar com as conquistas de Greedy.
Na versão ocidental, além da história mudar um pouco, temos também pequenos pedaços de texto a comentar a mesma. Certamente Greedy ainda permanece com a sua conquista do sistema solar. No entanto nesta versão, Ristar é filho de um lendário herói que protege o espaço, mas o seu pai acaba por ser capturado pelas forças de Greedy. O ancião do planeta Flora, ora a um herói que os salve, e esse herói, não é nada mais nada menos que Ristar, o filho do herói lendário. Embora pequeno e inexperiente, Ristar é corajoso, determinado e constitui a última esperança do sistema solar de Valjee.
Curiosamente Oruto, não aparece na versão da SEGA Mega Drive, mas sim na versão Game Gear, onde permanece fiel à versão original japonesa. Contudo, a narrativa não é o único dos seus pólos de diferença em ambas as versões. Para além dos nomes dos planetas por onde Ristar viaja serem diferentes, outras alterações como bosses, ou pequenas alterações cosméticas, também marcam presença.
Muitas destas são originárias da cultura japonesa, como a Nekojita (língua de gato). 猫舌 é uma expressão usada por quem tem dificuldade em comer ou beber coisas muito quentes. A expressão teve origem no conhecimento popular japonês, de que os gatos nunca comem alimentos quentes. Um dos bosses deste jogo é Itamor, um gato robótico gigante. Para o vencer, Ristar tem de alimentar esta ignóbil criatura com um prato de comida quente. Na versão ocidental Itamor, é mudado para um boneco de neve, curiosamente nos instantes finais do jogo, mas ainda podemos assistir à sua cauda, que se esqueceram de remover.
Também na versão SEGA Game Gear, o segundo planeta para onde Ristar viaja é o Planeta Fanturn, este está ambientado em temas do mundo dos sonhos e do imaginário como castelos arco-íris e pés de feijão. O Boss deste nível é um yokai (espírito do folclore japonês) com a aparência de um Tapir. Está é também a razão porque o Pokémon Drowzee, tem a forma deste animal. Na versão ocidental, este nível é mudado para o Planeta Terra, que curiosamente e como o nome indica, é semelhante ao nosso, mas numa fase de aventuras de navios e piratas.
Estas são apenas duas das grandes mudanças, com outras puramente cosméticas como esquilos voadores a serem mudados para morcegos, inimigos mais ameaçadores, ou Ristar andar de ski na neve, também são alvo de destaque e terei todo o prazer de voltar a pegar nestes temas se assim o desejares.
Além do elevadíssimo carisma desta simpática estrela, Ristar tem inúmeras animações que lhe transmitiram uma identidade muito própria, a grande força deste jogo, também parte da sua jogabilidade, como se molda e se transforma, por onde Ristar passa na salvação do sistema solar.
Ao contrário da maioria das personagens de estilo mascote desta época, os movimentos de Ristar, não são dos mais ágeis, e até mesmo a sua capacidade de salto é um pouco limitada. A sua principal forma, é usada nos seus braços que se esticam, derrotam inimigos, alcançam superfícies e objetos que permitem a sua navegação entre níveis, como manivelas onde a nosso herói sai disparado como uma estrela cadente.
Cada planeta é temático, Flora, é um planeta rico em natureza e verdejante, Undertow, um planeta aquático, Scorch, é um planeta vulcânico, Sonata um planeta musical, Freon, um planeta gelado, e finalmente Automation, um planeta tecnológico povoado por máquinas e robôs mortais. Com base nestes o nosso herói terá também não só de se ambientar e lidar com diversas ameaças, como conquistar algumas mecânicas introduzidas nos mesmos. Estas surgem na forma de elevadores, sapatos anti-gravitacionais ou simplesmente derrotar os inimigos numa certa ordem.
Criatividade
Devido a estes e muitos mais valores que deixo a recomendação de explorares, o jogo é constituído por um enorme level design, que faz as limitações da sua personagem a sua maior força e destaque. Um feito por si só, tremendo e digno de se louvar. Como não bastasse, os bosses também são criativos, introduzindo sempre elementos novos, como notas musicais cantadas pela Maria Leal, uma toupeira com armadura que com os gritos desaba o chão, ou usar um gancho para atordoar um robô criado pelo braço direito do tirano espacial.
O nível de criatividade e simbiose deste jogo é para lá de impressionante, mesmo quando comparado e inserido nesta era moderna. O jogo é todo integrado, isto porque no final de cada Round (fase) assistimos a Ristar em toda a glória a viajar pelo espaço até ao próximo planeta na posse de Greedy. Mesmo em pormenores, este efeito é simbiótico com o seu núcleo de jogo, já que quando Ristar perde uma vida, a última estrela do seu contador de vida cai, e atinge-lhe na cabeça.
Arte e Música
O grafismo e ambientes são sem sombra de dúvidas alguns dos mais belos da SEGA Mega Drive. Coloridos, vibrantes com diversos efeitos de paralax, e cheios de detalhe, mesmo numa consola de 16bits ainda conseguem surpreender, quanto não seja porque estamos a falar de um jogo de 1995. O mesmo panorama pode ser dito da versão SEGA Game Gear, que muito possivelmente é um dos jogos visualmente mais impressionantes da portátil da SEGA, muito acima da maioria dos jogos 8bits da época.
As melodias também surpreendem em ambas as versões. As faixas representam com clareza os seus ambientes. Por exemplo Undertow, como é na sua maioria submerso num oceano, temos melodias calmas, ao passo que a faixas de Schorch, são aceleradas, por Ristar se encontrar diante de vulcões a expelir lava e solo ardente, precisando este de se movimentar rapidamente. Contudo os maiores exemplos neste contexto são no Planeta Sonata, onde os próprios instrumentos no cenário interagem com a melodia, e durante o desafio final com Greedy, onde apenas com a sua ameaçadora faixa, conta toda a história do combate, algo que sempre achei fantástico.
É claro que a maioria dos jogadores vai imediatamente retirar a respeito de som, que Ristar usa os efeitos sonoros de Sonic the Hedgehog 3/Knuckles (retro-análise aqui), isto porque ambos são produtos da Sonic Team da mesma época.
Replay Value de Ristar
Ristar também tem outra condicionante muito pouco própria: o seu final é diferente consoante as versões, sendo que até prefiro o desfecho da versão ocidental. Nesta Ristar encontra-se com o seu pai (o qual só vemos os braços e mãos) enquanto na versão original e na portátil da SEGA descobrimos que o Greedy escapou do seu castelo, enquanto num planeta assiste ao vazio do espaço, surgindo uma forma de Ristar no mesmo. De salientar como o jogo se ambientou ao seu enredo, foram criadas novas cenas consoante o mesmo. Certamente que a versão original, foi criada já com sequelas à vista, desconheço se foi por esse motivo que foi modificado no ocidente, de forma a concluir a aventura num só jogo.
Para atribuir algum replay value neste grande título, a SEGA, colocou algumas manivelas secretas em algumas fases, onde Ristar tem de alcançar um tesouro, para assim revelar as passwords quando terminamos o jogo, isto na versão SEGA Mega Drive. A versão SEGA Game Gear, é mais simples neste prisma, já que no jogo existem estrelas colecionáveis nas fases, que atribuem uma vida quando colecionamos 100. Ristar ao colecionar dois planetas azuis nas fases no final, pode viajar até um planeta bónus colecionando estas estrelas para receber mais tentativas.
Ristar, é mesmo um jogo que passados mais de 20 anos continua a surpreender. Infelizmente não atingiu a grandeza que lhe era destinada, por entrar demasiado tarde na vida da SEGA Mega Drive. Mesmo presentemente e perante um céu estrelado, ainda sonho com o regresso da pequena estrela da SEGA novamente às nossas vidas, e deixo a recomendação para também te contagiares pela sua magia. Além da SEGA Mega Drive, Ristar na versão 16bits está disponível na maioria das compilações da SEGA, na Steam ou até na palma das nossas mãos nos nossos telemóveis. O seu impacto certamente foi fugaz, mas o seu legado continua a ser explorado.