300 mil pessoas e 14.500 credenciados, visitaram a Cidade do Rock nos dias 15, 16, 22 e 23 de Junho no Parque Tejo, para celebrar 20 anos de uma experiência musical com que poucas se podem dar ao luxo de rivalizar no nosso país.

Música

Com um primeiro fim de semana em cheio, onde tocaram Extreme, Europe, Evanescence, Scorpions, e Hydrid Theory, logo no primeiro dia, e Calum Scott e Ed Sheeran entre muitos mais, devo dizer que o segundo ficou muito mais aquém. Atenção, isto são gostos pessoais, e apesar de tudo 3 dias do evento esgotaram absolutamente as bilheteiras. Mas senti que as expectativas estavam muito altas para os senhores quase octogenários dos Scorpions.

Como colegas e outros visitantes referiam: é sempre preferível acabar em grande e no topo enquanto ainda há tempo. Aliás cada vez mais os grupos de tributo têm mais relevo. Infelizmente Chester Bennington deixou-nos há quase 7 anos, com muito ainda por viver. Foi um golpe duro e a banda estava a fazer novas músicas, esperava mesmo que eles fossem o concerto de octogenários que eu acabaria por ir assitir daqui a muitas décadas, mesmo que já não soassem ao mesmo, conforme foi o queixume do concerto dos Scorpions. Mas para surpresa de muitos, foram os nossos conterrâneos de Portimão que salvaram a primeira noite, após Evanesce dar-nos um aquecimento. Hybrid Theory estouraram o recinto com a energia do Linkin Park e mostraram porque é que a própria banda os reconhece oficialmente.

Rock in Rio Lisboa 2024 Hybrid Theory

Devo dizer que após um primeiro dia tão intenso de velhas e novas lendas do Rock, o festival seguiu sem para outras vertentes musicais, muitas que tiveram berço neste género musical e evoluíram conforme a tecnologia, mas não preencheram um vazio comum em todo o cartaz: Metal, rock progressivo, pesos pesados… 

Contudo é de ressalvar que facilmente um dos melhores concertos da minha vida foi assistido nesta edição, com o incansável Ed Sheeran a mostrar como se faz, despejando toda a sua alma na música e no que produz. Simplesmente inesquecível.

Quanto ao segundo fim de semana devo dizer que passei o turno para os meus colegas, para poder recarregar baterias e eles continuarem a nossa cobertura, até porque os artistas desses dias não puxavam tanto por mim que ainda teria de fazer a viagem desde o Algarve até Lisboa novamente e Vince-versa. 

Parque Tejo

Para muitos, e apesar de estarmos a celebrar 20 anos de um festival com muita história, a mudança do local desta edição foi uma estreia, dada a decisão de levar a cidade do rock para o Parque Tejo. Algo que não me surpreendeu muito dado que agora o governo tem de tentar justificar aos portugueses o monólito de milhões de euros pagos pelos contribuintes que lá foi construído, e sobre o qual nem quero escrever mais uma vírgula para não me esticar, mas para confirmar as minhas suspeitas: nem para palco conseguiu ser aproveitado na Cidade do Rock.

O terreno do Parque Tejo, contudo, parece ter trazido alguns benefícios para os mais veteranos, que à priori nos contavam como eram poeirentas e lamacentas as edições anteriores do Rock in Rio Lisboa, no Parque da Bela Vista. Tendo isso em consideração, o relvado em frente ao Palco Tejo promoveu um maior conforto para os grupos se puderem sentar, jogar, ouvir, descansar, fazerem piqueniques e socializar. Nisto, seria excelente se o relvado se estendesse para além dessa parte do recinto, qual é delimitada por um largo caminho que permite facilmente chegarmos a qualquer outro ponto do recinto, e para lá do qual o restante terreno é em terra batida. Claro está que podia ser muito pior, podia ser necessário irrigar o terreno como é prática noutros recintos onde o piso torna-se lamacento para evitar as poeiras de milhares de caminhantes. Nisto umas boas sapatilhas para caminhar e umas calças para protegerem do fresco da noite, são os melhores aliados dos visitantes, não dispensando qualquer casaco. 

Ainda falando do recinto em si, gostaria de fazer aqui uma ponte para um outro tema: visibilidade. Indo direta ao assunto, e tendo um metro e meio de altura, devo dizer que é desapontante passar por toda esta experiência para depois só ver costas. Apesar de o terreno do Palco Mundo ser algum inclinado, testemunhos de edições anteriores relataram-me que no Parque da Bela Vista, por mais afastado que estivesses do palco, era sempre possível ver qualquer coisa. No Parque Tejo, tendo um metro e meio ou um metro e setenta e quatro a diferença não era nenhuma: costas, cus e cabeças, é os 3 cês para quem não se afiambrar logo ao palco entre os intervalos.

Algo que me espantou pela positiva foi contudo a quantidade de cadeirantes no recinto. Em termos de acessibilidade vê-se que há uma aposta forte na equidade social do Rock in Rio Lisboa e isso é um espírito que transborda lá fora. Com efeito logo à entrada do recinto, à esquerda, tinhamos uma zona de receção para os visitantes cadeirantes ou a necessitar de cadeiras para se enteirarem do evento. Já em pleno recinto, além de rampas de acesso aos locais mais proponentes, houveram também espaços específicos para pessoas com mobilidade reduzida poderem desfrutar de uma boa vista do Palco Mundo, e não só! Até como comentado pelo próprio Ed Sheeran, uma equipa incansável de tradutores de linguagem gestual acompanharam os artistas nos ecrãs gigantes, para o público dificuldades de audição.

Rock in Rio Lisboa 2024 Evanescence

Acho importante também referir que em termos de abrigo e sombra,  que nas edições anteriores foram um dos pontos fortes para conforto dos visitantes, neste Parque Tejo, descampado, sem árvores ou grandes abrigos, estamos sempre expostos ao sol e ao calor. Já sabes, protetor solar não pode faltar nessa mochila! É preciso repensar um pouco neste aspeto, algo que está fora do controlo da organização do festival, mas trazer um pouco mais de natureza ao parque deveria de ser um must e não um should, especialmente se queremos continuar a ter aqui a Cidade do Rock. Contudo e segundo um inquérito feito pela organização ao longo dos 4 dias do festival, 70% dos inquiridos escolheram dar mais outra oportunidade ao Parque Tejo, e como tal a edição de 2026 já tem lugar marcado!

Comes e Bebes

Se é verdade que o evento esgotou as bilheteiras, também é verdade que houve mesmo outras partes do mesmo que foram apanhadas de surpresa pela sua afluência. Falo das zonas de restauração, onde se acabou a carne por exemplo no stand do Burger King, e as pizzas da Pizza Hut apesar de saírem a tempo recorde dada a dedicação de uma equipa inteira esgotada que não deixava os fornos descansar, simplesmente não conseguiam escoar as filas! Contudo houve zonas de restauração mais calmas, onde cheguei mesmo em plena hora de jantar, a pedir, pagar e recolher em menos de 2 minutos. Isto porque já estavam a cozinhar tudo por antecipação. O facto de terem apenas 3 opções de escolha em toda a banca é uma estratégia que também ajuda nestas ocasiões a organizar e a escoar as filas. Pagas e recebes o que já está pronto.

Claro está que para um evento desta envergadura, o nosso primeiro pensamento se fossemos como visitantes e não em trabalho, seria de trazermos merendas, mas as regras apertadas do recinto, proibiram expressamente diversos tipos objectos e comidas, e para dificultar, se um visitante saísse do recinto para merendar lá fora, tería de comprar novo bilhete para entrar. Todavia isto não é nenhuma novidade para quem já frequenta uma boa diversidade de eventos na capital, não obstante percebesse que os visitantes se tenham sentido encurralados e obrigados a pagar preços estúpidamente inflacionados como 15€ ou 16€ por um bagel/hambuguer/sandes sem qualquer menu. Os preços andavam sempre por volta desses valores para comeres algo substancial dentro da Cidade do Rock, sendo que no largo onde estava localizado o stand do Continente, conseguias preços mais competitivos.

Falando agora de bebidas, quem se quisesse refrescar, a Cidade do Rock disponibilizou diversos spots onde qualquer pessoa podia se servir de àgua fresca para combater a desidratação. Tivemos também as marcas Sommersby, Licor Beirão, entre outras,  a fazerem ativações, e inclusive a patrolharem o evento com depósitos e bandeirolas que podiamos ver mesmo no meio da multidão. Cada copo de bebida custava 5€, e é importante referir que a maioria das transações não nos davam possibilidade de pagar com dinheiro. Para nós até não foi problemático, e até apoiamos essa posição, mas para quem não é fã de MBWay ou contactless foi de facto um incómodo.

Ativações de Marcas

As ativações de marcas, já não são bem o que eram. É verdade que cada vez estas investem mais em espaço e largueza para se destacarem no recinto, no entanto em termos de acessibilidade nem todas levam nota positiva, e em termos de experiências para os visitantes, a única experiência que têm a oferecer e que é comum a qualquer barraca destas é as horas de espera em fila, em que não nos estamos a divertir, não estamos a ir buscar comida, nem bebida, nem a descansar, estamos simplesmente a exasperar numa fila interminável, para 30s de uma interação que não valerá o tempo que despendemos. Os freebies já não são o que eram. Antes traziam simpatia pela marca, hoje são uma verdadeira isca para gastarmos o nosso tempo e não aproveitarmos o evento. Falham o seu propósito por completo. Toma lá um elástico, estiveste duas horas de fila!

Organização

Por fim, numa nota mais pessoal para a organização, creio que ainda têm desafios pela frente para cumprirem até 2030, mas para já a nota foi positiva. Eles melhor do que nós saberão que há ainda fogos por apagar, caminhos ainda por melhorar, mas da perpectiva de quem nunca foi a um festival de verão, mas a outros semellhantes em formato mais pequeno, digo que foi uma experiência muito positiva tanto fora como dentro do recinto onde sentimo-nos sempre em segurança, sempre à vontade para trabalharmos e sempre preparados com os dos e don’ts que a imprensa tinha acesso que não vale a pena tar a salvar este artigo.

De ressalvar também a atenção dispensada pela organização a garantir-nos condições de trabalho dignas, como espaço próprio de press com estações de trabalho, catering, bebidas, arrumos, horários e regras muito bem definidos e sempre há mão através das nossas credenciais. Para esclarecer o leitor mais curioso, a realidade para a imprensa nacional não é esta, muitas são as organizações que só nos dão a entrada e o resto fica por nossa conta. Normalmente não temos todas estas condições e temos de bater chapas e enveredar mais nestes eventos por responsabilidade do que por diversão. Meios como o nosso nem pagam as deslocações que fazemos, sendo todo o trabalho 100% voluntário e comunitário, e por isso ver toda esta atenção dispensada para organização creio que criou uma certa igualdade de oportunidades para todos os meios. Condições e garantias que esperamos poder corresponder com a nossa cobertura.

Joana Sousa
Apaixonada pelo mundo do cinema e dos videojogos. A ficção agarrou-me e não me largou mais! A vida levou-me pelo caminho da Pós-Produção, do Marketing e da organização de Eventos de cultura pop, mas o meu tempo livre, dedico-o a ti e à Squared Potato.