Para leigos na matéria Rune Factory é uma franquia, com início em 2006 na Nintendo DS, que mistura os combates dos RPGs de ação mais comuns, em tempo real, com a agricultura de Harvest Moon e/ou Story of Seasons, muito antes de Stardew Valley ser uma ideia sequer e transformando o status quo deste género de jogos. Apesar de destacar o número cinco no título, este é na verdade o sétimo na saga, se contarmos com spin-offs Tides of Destiny e Frontier (este último muito divisivo entre os fãs). Rune Factory tende sempre a ser uma experiência única e rica em conteúdo slice-of-life que, mesmo com os vários aspetos fantásticos, consegue sempre transmitir aquela sensação do dia-a-dia deste tipo de vida, contando ainda com vários elementos à lá Visual Novel e interações muito doces e carinhosas (outras hilariantes) entre as várias personagens.
Apesar de ter apreciado em larga parte o meu tempo no mundo desta quinta interação, sugiro aos curiosos que adquiram o superior Rune Factory 4 Special, também disponível na Steam. É um excelente videojogo dentro do género (o melhor da série na minha opinião). Atenção que não considero Rune Factory 5 mau, apenas tem uns quantos problemas que merecem ser criticados e o port em questão (foi lançado originalmente na Switch) também não é muito bom com várias falhas que irei detalhar brevemente.
O enredo abre portas com (preparem-se) um jovem amnésico a cair por um portal, na periferia da cidade de Rigbarth. Uma organização chamada SEED, toma nota deste acontecimento e, após algumas discussões, decide transformar a personagem principal num membro a tempo inteiro: isto providencia umas quantas benesses como uma quinta para cuidar, batatas para plantar e monstros para capturar. Fora disso é expectável, em boa maneira RPG, correr a vila por várias demandas secundárias por forma a engrossar cada vez mais os bolsos. Esta trama consegue manter-se constantemente interessante, não só pelas interações lúdicas entre as personagens, mas também pelos vários cenários, biomas e variedade de inimigos.
Rune Factory 5 continua a tradição de ser possível travar amizades e relações amorosas com as várias personagens disponíveis. Desta vez (felizmente) o leque de parceiros/as está aberto a ambos os géneros disponíveis, um passo em frente na temática da inclusão nos videojogos. São doze candidatos/as no total para encher de presentes, ter várias discussões e assistir a múltiplas cinemáticas para no final, pois claro, casar e procriar, ou achavas que a única semente era aquela que plantavas na terra? Dito isso e fora de brincadeiras, tal qual como em Rune Factory 4 Special todos são interessantes o suficiente para ler léguas e léguas de texto.
Um dos aspetos que mais apreciei nesta iteração, em comparação com as anteriores, é o quão despreocupado estarás com o tempo despendido, sendo que podes ir tão rápido ou tão lento quanto quiseres com a história. Este facilitismo empurra-te para explorar os outros sistemas com paciência e cuidado, algo que quererás fazer, pois metade da diversão está em cuidar da quinta que herdaste. O mais curioso é a flexibilidade que Rune Factory 5 proporciona com este sistema, porque as várias colheitas não estão presas a uma das quatro estações. Contudo, se quiseres colher a melhor batata em Rigbarth terás de plantá-la na Primavera ou no Verão e utilizar sementes da maior qualidade possível.
Isto estende-se ao sistema de crafting existente, algo que podes dominar ou ignorar por completo. É óbvio que, se dominares a mecânica, terás acesso a melhores ferramentas para desempenhares as tuas funções agrícolas, melhores armas e armaduras para o combate nas masmorras e refeições de maior qualidade que podes consumir, vender ou oferecer como presente à Ludmilla (melhor candidata sem discussão possível).
O combate é um dos últimos três pilares de Rune Factory 5, um que dispõe de uma vasta personalização de armas e habilidades. É também, na minha opinião, o sistema mais fácil de aprender pois numa dificuldade mais baixa o título pode ser jogado do início ao fim com a fiel técnica de button mashing (relembro que isto é completamente opcional). Como é um sistema intrinsecamente ligado às duas outras vertentes esta não tem muito que se lhe diga: utilizas equipamento mais forte, utilizas habilidades mais fortes, destróis monstros mais fortes. Feito.
Infelizmente, conforme referido anteriormente, o port para PC não se encontra nas melhores condições (embora os fãs tenham feito um excelente trabalho com RF5Fix para a Steam). Existem vários crashes durante os ecrãs de carregamento algo que, aparentemente, já perdura desde o lançamento na Switch. Isto é especialmente agravante porque Rune Factory 5 não faz autosave e para ajudar à frustração está imposto um sistema rudimentar de gravar o teu progresso: só o podes fazer à entrada das masmorras ou na tua cama. Se isto já era datado numa consola portátil como a Switch então menos desculpa tem no PC.
Visualmente Rune Factory 5, apesar de limpo e nítido, não surpreende em duas áreas: o mundo agora aberto em 3D, frequentemente vazio com texturas horríveis, e subsequentes animações tanto pelas personagens como inimigos que parecem retiradas diretamente de um jogo há vinte anos atrás, já para não falar do famoso pop-in das texturas que aparece de vez em quando. É difícil de colocar isto por palavras, sendo necessário ver um vídeo ou dois para realmente se compreender o que se está a dizer. É desapontante e retira alguma qualidade final ao videojogo sem dúvida. Para piorar a questão os controlos no PC são uma experiência sofrível, sendo recomendado que os alterem ou, melhor, utilizem um comando.