Bem-vindos a mais uma Sala de Pânico, o que é irónico pois os jogos tratados nesta rubrica apenas nos fazem querer sair da sala (ou quarto).

Podem já ter passado todos os Silent Hill, Resident Evil, Outlast, Amnesia, todos jogos assustadores de qualidade sem dúvida, mas estes jogos nunca ousaram desafiar o ortodoxo da forma como o protagonista desta semana o fez.

Trago o que é, talvez, o videojogo da saga que mais pelos eriça, mais saltos nos faz dar, ou causa até mesmo uma sensação de ansiedade dada a corrida contra o tempo que enfrentamos. Falo nada mais nada menos do que Forbidden Siren (Siren na versão NTSC), primogénito da saga Siren.

Inspirada em diversas fontes, no entanto, o projecto principal que fez originar Forbidden Siren é nada mais nada menos do que Insumasu o ouu Kage, uma adaptação japonesa na famosa obra de H.P. Lovecraft, A Sombra de Innsmouth. São também referenciadas a série Shinki ou o famoso Battle Royale. As fotografias de Paul F. McCarthy foram essenciais para a criação dos Shibito, e Toyama apoiou-se na arte dos mestres Junji Ito, Ryoko Yamagishi e Daijiro Morohoshi.

Merecendo um parágrafo apenas seu, uma das grandes inspirações de Forbidden Siren foi também o Massacre de Tsuyasma, uma onda de assassinatos em 1938 perpetrada por um jovem de 21 anos chamado Mutsuo Toi, onde o mesmo assassinou mais de metade da sua aldeia (30 pessoas, incluindo a sua avó), utilizando uma katana, um machado e uma caçadeira.

Seria de se pensar que Keiichiro Toyama quisesse apaziguar os ânimos depois de um lançamento tão bem-sucedido do genial e aterrorizante Silent Hill, no entanto, Toyama estava apenas a começar. Forbidden Siren acabou por ser não só uma experiência mais aterrorizante e no geral um jogo mais completo, uma verdadeira ode ao terror.

Após um terramoto devastar a região de Hanuda, uma cidade rural no Japão, esta encontra-se rodeada por um mar vermelho, mar este que começa a converter os seus habitantes em seres malignos. Estes indivíduos chamam-se Shibito, sendo que o dia-a-dia deles passa por andar pela cidade, a fazer algumas tarefas rotineiras da sua vida normal, e a matar qualquer não Shibito, que é o que nós somos. Aconselho ao máximo evitar os Shibito, pois os mesmo são impiedosos.

Tomamos então controlo de 10 sobreviventes do terramoto, fazendo o nosso melhor para que os protagonistas alcancem o seu destino e consigam fugir em paz. Vamos alternando entre eles num formato episódico, com o jogo a situar-nos temporalmente em que fase estamos do pós-terramoto.

A genialidade em Siren não está só na maneira como cria uma atmosfera arrepiante, mas também na sua capacidade de contar dez histórias diferentes, interligando as mesmas de forma a que tudo encaixe no mesmo puzzle. Facto engraçado, originalmente o jogo tinha planeadas 100 personagens jogáveis, mas Toyama decidiu cortar, para que a experiência fosse mais pessoal.

Além do que já mencionei, existem duas vertentes de Siren que o destacam do resto do género:

  • A primeira é o facto de a SIE Japan (na altura SCE) ter pegado em fotografias de pessoas reais e ter colado em cima de várias personagens do jogo, o que torna a experiência mais pessoal, e ao mesmo tempo mais inquietante pois fica o mais inortodoxo possível.
  • A segunda vertente trata-se da famosa mecânica Sight Jack, onde podemos trocar o nosso ponto de vista para os Shibito que se encontram nas redondezas, o que requer um planeamento estratégico da abordagem ao nível, e nos mantém em bicos de pés pois quando somos avistados por um, a câmara troca instantaneamente para o Shibito que nos persegue, e este tipo de momentos são puro caos.

Acompanhando todas estas potências, temos uma banda sonora exímia, orquestrada pela inigualável Hitomi Shimizu, uma metade do duo Syzygys. Shimizu compôs a banda sonora de Forbidden Siren e de Siren: Blood Curse, uma reinvenção do primeiro jogo (estilo Silent Hill: Shattered Memories). Desde sons de máquinas a ruídos altamente abstractos, é impossível passar ao lado deste jogo, jogando com ou sem fones, e não reparar na mestria com que o áudio foi preparado.

Forbidden Siren teve direito a uma sequela e a uma reinvenção na Playstation 3, sendo que deste então Toyama se dedicou à famosa saga Gravity Rush, uma saga merecedora de uma playthrough pela maneira como inova nas mecânicas espaciais. É pena que não tenhamos tido mais notícias da saga Siren, no entanto Toyama nunca confirmou que tinha abandonado completamente a saga, deixando-nos com uma réstia de esperança.

Com as limitações da altura, não era qualquer jogo de terror que conseguia colar alguém a um ecrã, mas Forbidden Siren traz consigo uma espada de dois gumes, tanto nos puxa pela sua mestria, como nos aterroriza mentalmente. Keiichiro Toyama alcança um feito incrível na indústria, procurando no canto mais obscuro pelo medo e a ansiedade, de forma a proporcionar ambos numa experiência ímpar.