Silent Hills 3

Bem-vindos a uma nova rubrica, onde planeio discutir os videojogos que na minha opinião (e a de convidados que assim o queiram, talvez mesmo algum de vós que esteja a ler este artigo) marcaram o género do Horror na indústria. Claro que poderão ficar alguns por mencionar, nesse caso encarrego-vos de deixarem sugestões tanto nas redes sociais como aqui no nosso site.

So, shall we begin?

A minha escolha para introduzir esta rubrica é o inigualável Silent Hill 3. Silent Hill 3 trouxe consigo um inferno nunca antes visto num ecrã! Enchendo-nos de ansiedade com as inúmeras esquinas, e com o plano da câmara estrategicamente desenhado para não nos deixar espreitar, incentivou-nos a descer a rampa em direcção ao inferno.

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Este videojogo é, na minha humilde opinião, o melhor da sua saga. É verdade que o mais aclamado é Silent Hill 2, que poderá também ser discutido aqui, mas Silent Hill 2 estreou-se na geração, onde o seu sucessor veio beber do sumo paranormal que as mentes brilhantes da Konami conjuraram, melhorando a fórmula e tornando-a mais claustrofóbica, dando ainda continuidade ao legado de respeito que até aqui tinha sido sustentado.

Silent Hill 3 vence ao quebrar o estigma de 90% dos videojogos de horror, sendo que nos tradicionais, os primeiros 40 minutos são habitualmente os mais calmos, para que possamos ter uma noção de como os controlos funcionam, interactividades, ou até mesmo para que nos apercebamos do ambiente em que estamos. Bem, pois aqui Silent Hill 3 não funciona assim. Cerca de cinco minutos depois de o jogo começar, encontramos-nos num local com monstros a correrem atrás de nós, com a pior das intenções: despedaçar-nos.

Divergir do género, é onde SH3 ganha passo em relação aos outros jogos na minha opinião. Na primeira meia hora, ganhamos uma noção de como o videojogo vai ser, sem filtros, sem brincadeiras. Ou corremos pela vida ou morremos. O que deixa-nos numa constante sensação de asfixia que nem as armas colmatam.

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Embora estejamos numa constante fuga do nosso pesadelo, temos imenso tempo para ir descobrindo toda a personalidade de Heather Mason. Através de curtas cutscenes, vamos criando uma ligação com a sua história e os seus motivos, sejam eles bons ou maus. Sempre em destaque, Heather consegue expressar todas as suas emoções claramente, o que contribui para a transportação deste videojogo para algo mais do que isso, acaba por constituir uma experiência paranormal, mesmo como Nakazawa planeou.

Aliado a este pânico, encontramos os elementos perfeitos para incutir claustrofobia: corredores estreitos, escuros, e com esquinas repletas de surpresas que apenas encontramos em pesadelos. O design dos níveis é soberbo, conseguindo recriar-se de forma camuflada inúmeras vezes, sem que percamos a noção da sua estrutura, mas nunca sabendo onde vamos parar.

Como não podia deixar de ser, além da complexidade da repetição disfarçada dos níveis, temos também os puzzles integrados na jogabilidade. Estes, adicionam um toque intelectual, e fazem com que este jogo seja algo mais do que um “jogo de gritos”. Podendo escolher a dificuldade dos puzzles, fica já o aviso de que não será fácil, mesmo no modo assim o denomidado.

Para a altura em que saiu, SH3 foi considerado um videojogo forte na área visual. Não só graficamente mas também na própria arte. Além da atmosfera, que criaram com o nevoeiro já utilizado em SH2, Nakazawa decidiu manter o jogo segmentado em termos estruturais, para que cada área fosse reduzida, mas bem trabalhada.

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Um dos maiores destaques da saga, além da atmosfera arrepiante, é a maneira como Masahiro Ito cria seres perfeitamente repugnantes, onde damos por nós a parar por segundos para admirar a maneira como os monstros se mexem! Cada membro do seu corpo é meticulosamente desenhado para que possamos acordar a meio da noite a suar.

Além de Ito, um dos grandes impulsionistas da atmosfera de SH é Akira Yamaoka, revolucionário na indústria de som no que toca a videojogos. Através das suas técnicas de mestre, intensifica o aterrorizante som dos passos de forma a criar uma atmosfera isolada, sem que nos apercebamos do que pode haver à volta. Aliado a isto, concebe ainda uma banda sonora de génio, triunfando ao longo da saga.

Embora a opinião popular seja a favor de Silent Hill 2, para mim, SH 3 será sempre o videojogo que me fez temer mais pela vida da personagem. Desenrolando-se numa atmosfera infernal, interpretamos o papel de Heather, que à medida que vai conhecendo a sua origem e propósito, terá de atravessar sítios que nem em pesadelos conseguirão imaginar. Um selo de obrigatório é pouco para amantes do género, deixo esse selo para os amantes de videojogos em geral. Uma experiência para ser vivida, nem que apenas uma vez.