Entre os vários desportos, talvez Skate seja um dos mais sonantes, e ao mesmo tempo, um dos mais desvalorizados. É raro o jogador que não tem conhecimento da imensa colectânea de videojogos Tony Hawk, sejam eles na vertente Pro Skater, Underground ou até mesmo títulos icónicos como American Wasteland. Estes títulos marcaram a geração PS2, tendo cimentado um legado inesquecível, não só pela jogabilidade viciante e qualidade inegável, como também pela falta de competição.
Eis que na geração Playstation 3/Xbox 360 a EA surge com Skate, um título mais realista e focado no dia-a-dia de um skater de rua, ao contrário das missões ridículas (embora hilariantes) da saga Tony Hawk. Skate ganhou de imediato seguidores, tendo gerado 2 (com agora uma terceira em desenvolvimento) sequelas, sendo que Skate 3 ainda hoje é jogado online.
Ambos estes títulos reinaram durante anos como a experiência definitiva, até que a dada altura, a Easy Day Studios e a Cre-ature Studio decidiram tentar comprar bilhete para o Olimpo da simulação de skate, e hoje, vamos falar sobre a tentativa da Crea-ture com Session: Skate Sim, doravante Session.
Session começou bastante barebone, tendo saído em Early Access sem narrativa ou missões focadas num plano maior, apenas com os básicos da simulação de skate, focando-se na jogabilidade e precisão com que devemos acertar os truques. Assim que assentaram os princípios do que seria a derradeira simulação de skate, partiram para conteúdo adicional, e assim têm feito até ao lançamento da versão 1.0.
Mal chegamos a Session somos deparados com a selecção do modo de perícia, onde escolhemos o tipo de controlos com que nos sentimos mais à vontade. Podemos optar pelo modo Assistido (quase piloto automático), Fácil, Predefinido ou Hardcore. Segui com o modo predefinido pois é a opção preferida pela equipa para quem vai jogar pela primeira vez. Após escolhermos, passamos ao criador de personagens que é bastante limitado. Apenas podemos escolher entre 8 personagens predefinidas e alterar o cabelo/chapéu e o vestuário. Ao terminarmos somos de imediato levados para o tutorial.
É no tutorial que o jogo nos informa que tivemos um acidente a skatar há 10 anos e que o médico apenas agora nos deu o OK para voltarmos às ruas.
O tutorial é bastante intuitivo, dando-nos tempo e oportunidades para testarmos o básico de controlar um skate. O sistema de controlo é bastante técnico e exigente mas quando nos habituamos percebemos que não havia outra maneira e esta é a ideal. Viramos com os gatilhos e o movimento de cada pé é controlado pelos analógicos. Depois de uns Ollie e uns grinds (e uns faceplants pelo caminho) ficamos com uma percepção básica de como nos desenrascar na cidade.
O objetivo será alcançarmos o maior estatuto possível na comunidade de skate, o estatuto Pro. Até lá, teremos de ir subindo na pirâmide, ajudando a comunidade com a gravação de truques, participando em torneios e conseguindo patrocínios para ganharmos reputação. Ao longo da viagem deparamo-nos com imensos skaters conhecidos como Annie Guglia, Antiferg, Ryan Thompson, entre muitos outros.
No que toca à jogabilidade, Session é tão técnico como é trapalhão. A precisão com que temos de acertar alguns truques é apertada, mas garanto-vos que vale bem a pena quando finalmente sacamos um Laserflip ou um Big Spin. O problema não é acertar os truques, é fazer o jogo perceber que estamos a acertar os truques.
Inúmeras foram as vezes em que uma missão me pedia para fazer por exemplo um Ollie 180 ao descer escadas, eu fazia 7 Ollies 180 a descer as escadas (estavam destacadas, não tinha como enganar) mas o jogo simplesmente não reconhecia o truque. Em algumas situações até fiz os truques simplesmente parado e o jogo assumiu como se tivesse saltado no sítio que era devido. Confesso que em algumas situações se tornou frustrante pois chegamos a um ponto em que os truques se tornam bastante complexos e sentimos que a nossa luta para acertar com o truque fica à mercê de um código que não sabe reconhecer que o fizemos bem, quando nós próprios o vemos com os nossos olhos.
Devo no entanto escrever que a tecnicidade de Session é tanta, que quando precisava de aprender um truque mais complexo, bastava-me ver como é que era feito na vida real e replicar no jogo, dada a fluidez dos controlos. Creio que este é o ponto de venda de Session, não terão uma simulação tão bem conseguida noutros jogos actuais. E nem menciono o modo Hardcore, onde inclusive temos de saber aterrar os truques, mas deixo isso para os mestres.
Todos os truques, simples ou complexos, podem ainda ser gravados através do gravador nativo (basta carregar no touchpad/Select) que o jogo possui, dando azo a gravações incríveis, com filtros fisheye ou nocturnos para uma verdadeira sensação underground.
Para além do skate, ainda podemos andar a pé. Como já referi, o foco da crea-ture foi a simulação de skate, portanto não devem esperar muito das animações a pé. Reparei que, para além do efeito ragdoll quando caímos do skate, a nossa personagem derrapa quando fazemos curvas apertadas a correr, portanto ainda dá para tirarmos umas risadas.
Temos como palco Nova Iorque, incluindo locais icónicos que já não existem, mas deixaram a sua marca nos skaters de tal forma que era criminoso não as incluir. Embora estejamos na Grande Maçã, a falta de pedestres (ainda está em modo experimental) deixa um dissabor. Um local tão marcado pela grande densidade de pessoas encontra-se quase representado como um mundo pós-apocalíptico.
Não só temos Nova Iorque como ainda a podemos personalizar através do editor. Session traz um modo onde podemos escolher vários objectos e colocá-los onde quisermos, incluindo posições que desafiam as leis da Física. Este editor dá bastante jeito por exemplo quando anoitece (o tempo é dinâmico) e queremos iluminar melhor o local. Embora a iluminação esteja bem conseguida sem termos de recorrer a assets externos, é sempre mais agradável termos uma boa visibilidade do local, e a crea-ture assim o possibilitou.
Entre lâmpadas, mesas ou rampas, não faltarão objetos para dares asas à creatividade e personalizares o teu playground.
Visualmente, Session não deslumbra, mas cumpre com o que é esperado. Usando uma palette de cores mais viva, traz-nos uma experiência agradável visualmente. Podemos optar por dois modos na definição Graphics Mode, sendo estes o modo Graphics, onde dá prioridade a 60fps com uma resolução elevada, ou o modo Performance, tendo como objetivo os 120fps e uma resolução mais baixa.
Joguei sempre no modo Graphics pois creio que é o melhor equilíbrio e o jogo não atinge sempre os 120fps no modo performance.
A banda sonora é muito relaxada com imenso Chillhop à mistura. Ao início não me estava a ecoar bem pois sempre me habituei aos tons punk de Tony Hawk, mas à medida que ia passeando pela cidade percebi o porquê da escolha e sem dúvida que encaixa como uma luva na visão geral de Session.
Não estava à espera de me sentir tão imerso no mundo de Session. A sua tecnicidade anda de mão dada com as decisões audiovisuais, o que nos providencia com sessões de skate relaxadas e satisfatórias. Resta apenas esperar que a crea-ture decida aumentar a escala em vertentes como a população ou os locais.