Existe uma estranha desconexão entre Shenmue 3 e os anteriores capítulos, no qual eventos que decorreram por mais de uma década, não são recebidos como esperávamos. Simplesmente voltamos a encontrar Ryo e Shenhua, como se nada fosse, sem seguimento dos eventos finais do segundo jogo, e como se tivessem sido apenas passados alguns meses.
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A vida e o mundo em Shenmue 3
Por conseguinte e sem surpresa, um dos elementos mais fracos desta nova entrega vem ao de cima: a sua história. Sem grandes rodeios esta apresenta menos elementos e localizações, do que os capítulos anteriores. Ryo movimenta-se de localização em localização, sem uma motivação digna desse nome. Este elemento, culmina novamente no seguimento dos capítulos anteriores, ou seja, as suas pistas levam-no a um gangue de rufias com ligações com o cartel chinês Chi You Men, que no que lhe concerne o conduz a Lan Di, o assassino do seu pai, e consequentemente noutra tentativa de vingança sem efeito.
Infelizmente e para manchar ainda mais a pintura, as personagens introduzidas em Shenmue 2, também são praticamente inexistentes neste jogo. O que conseguimos recolher no máximo, é confirmar alguns acontecimentos ou elementos que já conhecíamos, o que realmente é uma pena. Pois as mesmas expandiram exponencialmente o mundo e a história criada por Yu Suzuki, espero que de futuro surjam DLC para as mesmas e que muitas perguntas sejam finalmente respondidas. Basicamente o que sentimos com esta entrega é uma ponte até outra, mas que ainda é inexistente.
Muitos podem fazer a pergunta: Do que se tratou afinal Shenmue 3? Estará este estilo de jogo datado e só capitalizou pela nostalgia dos seus fãs? Uma coisa é certa Shenmue III, pegou em todos os elementos das suas aventuras anteriores, moldou-os em pequenas doses refinando os seus melhores atributos.
Um bom exemplo é o seguinte: Ao sair de casa de Shenhua, é introduzido ao jogador, diversas localizações que o Ryo frequenta regularmente, como o Dojo, lojas ou as aldeias locais. Com um simples toque de botão, o nosso amigo não só chega à hora certa, como evita percorrer caminhos desprovidos de conteúdo. Embora para os mais nostálgicos pareça um efeito vazio e imediato, evita caminhar sem nexo e contribuir para aquela tradicional fadiga quotidiana que o jogo introduziu ao mundo à quase duas décadas atrás.
Outro efeito moderno bem empregue neste jogo, foi a utilização de um botão para saltarmos o resto do dia, para assim chegar a tempo e horas até ao próximo evento. Este contribuiu para não só evitar momentos “filler” (ou seja, fazer algo e ficar à espera até chegar a hora exacta), como não falhar o mesmo. Algo que me aconteceu com frequência e confesso que fiquei frustrado nos capítulos anteriores. Embora Shenmue 3, corta com alguns moldes do seu passado, em prol de uma era mais moderna e imediata, no entanto a sua herança ainda é sentida.
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É maravilhoso assistir ao quotidiano deste mundo. Os habitantes seguem o seu dia a dia, com tarefas como ir trabalhar nos campos, ou ficar de guarda às portas da aldeia. As crianças saem cedo para brincar e depois vão a correr para ir à escola, e todos à hora de almoço ou jantar reúnem-se em restaurantes ou bares para tomarem as suas refeições. É fantástico como Shenmue 3, encara o seu pequeno mundo, polvilhando-lhe muita vida. Mesmo que seja apenas com estes detalhes, amparou o efeito que embora seja em escala menor, foi mais gratificante e único quando comparado a muitas superproduções modernas em mundo aberto. Shenmue 3 assemelha-se assim a uma evolução do género inserto em moldes de acção/aventura, numa era onde o estereotipo de jogos desta não são aventuras em mundo aberto, produções da Rockstar Games, ou Ubisoft, por exemplo.
Talvez agora a melhor forma de caracterizar Shenmue 3, é dizer que este trata-se um jogo de detectives com algumas cenas de acção pelo meio. É interessante agora que L.A Noire existe, verificar onde o clássico da Rockstar foi procurar grande parte dos seus moldes. Entre usar o quotidiano para investigação, questionar e procurar pistas, também temos bem presentes outros dois grandes factores na vida de Ryo: a sua força e resistência. Estes podem ser melhorados através de um sistema de recompensas cíclico, muito gratificante, e até por vezes até bastante viciante.
Estes elementos giram a ligar as pontas de uns, a outros. Ryo nesta nova aventura precisa de alimentos para restabelecer a sua saúde ou resistência, e diversos pergaminhos para aprender novas técnicas. Quais custam pequenas fortunas, ou apenas podem ser adquiridas com a troca de alguns itens nas lojas de penhores. Para alcançar estes objectivos, o jogador é forçado a trabalhar em regime de tempo parcial em diversos trabalhos (como cortar lenha ou conduzir empilhadores), e ainda participar numa série de mini-jogos. Quais fazem uma pequena aldeia da China parecer uma grande avenida de casinos de Las Vegas.
Estes surgem de todas as formas e feitios, desde acertar com pedras em baldes, a uma mini-roleta. Até existe uma corrida de tartarugas, vê bem! Assim com os frutos do seu esforço, Ryo consegue o tão ansiado dinheiro e os itens para melhorar a sua técnica e força. Ainda durante estas actividades, o jovem pode encontrar diversas sidequests, como ajudar um menino a comprar um medicamento para curar a sua família, ou frequentar o dojo, participando em pequenos combates contra monges para subir de escalão e treinar com os mesmos para aperfeiçoar técnicas adquiridas nos pergaminhos. Este ciclo culmina no aumento do nível de Kung Fu, que consiste não só na força e resistência como também no domínio das várias técnicas de luta, que serão vitais para Ryo vencer alguns dos melhores e estranhos guerreiros.
É com base nestes, que como núcleo a verdadeira força de Shenmue 3 vem ao de cima, ou seja, a sua densidade e população periódica das suas áreas. Ao passo que nos capítulos anteriores tínhamos de encontrar gente na rua para indicar-nos onde se situava uma localização, neste capítulo a interacção com os mesmos não é muito longínqua. O jogo até inicialmente previne o jogador da exploração e expansão de novas áreas numa forma digna do seu contexto, numa tentativa de não intimidar demasiado com a sua dimensão.
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Gráficos
Felizmente, este mundo é moldado através de um novo motor de jogo, que contribuiu para excelentes efeitos de luz e modelos de texturas absolutamente fantásticos, devido ao uso do célebre Unreal Engine 4. Contudo, inexplicavelmente, algumas texturas em ambientes de menor importância, como interiores e telhados de casas, parecem apenas receber uma pintura HD semelhante ao que conhecemos na Sega Dreamcast e presente no pacote HD dos dois primeiros jogos.
No entanto, Shenmue 3 sofre de problemas bem mais graves, e que certamente deveriam receber mais atenção! Falo da animação e das expressões faciais. Arrisco-me a dizer que as últimas são heranças da Sega Dreamcast. A maneira como o fluxo de jogo por vezes é completamente parado também é do mais estranho. Logo no início acompanhamos Shenmua até à vila, depois de visualizarmos gravuras gigantes de ambos os espelhos numa gruta. Durante essa viagem, a dupla pára uns momentos e conversa várias vezes pelo caminho. O grande problema aqui, e na maioria dos diálogos, é que as perguntas dão a ideia de serem respondidas através transições entre planos, quase como se existisse um ligeiro carregamento de dados, dando um aspecto bastante rudimentar.
Juntando-se uma escrita muitas vezes sem nexo, principalmente quando as personagens que se vêm todos os dias, chamam pelo nome um do outro insensatamente durante o diálogo, enquanto as suas expressões faciais resumem-se a umas quatro a cinco animações. Os modelos de personagens também apresentam um efeito misto, enquanto os corpos, caras (especialmente as femininos) e roupas estão dentro dos padrões modernos, os cabelos, e a maioria de NPC menos importantes, infelizmente não foram tão refinados como deviam.
Felizmente no departamento sonoro, e respeitante à música, pouco de negativo podemos assinalar. As faixas transportam-nos imediatamente para os ambientes do jogo. Sejam esses mais urbanos como a cidade de Chobu, ou campestres como a aldeia de Bailu. Detalhes como o som de crianças no horizonte a brincar enquanto vão se aproximando (as suas vozes e risos vão-se a ouvir cada vez mais nitidamente) foram muito bem conseguidos, apoiando ainda mais o efeito de vida do jogo. Para o melhor ou pior, os actores das duas primeiras entregas regressaram. No meu caso, e para conseguir aguentar algum dos seus diálogos, modifiquei o áudio para japonês. Interpreta-me como entenderes, realmente desconheço se este feito foi propositado, vou encarar com sim por motivos nostálgicos.
Jogabilidade
Respeitante a jogabilidade apenas me deu a impressão de que esta existe por existir. Que esta afirmação não seja mal-encarada! Ryo movimenta-se bem pelos diversos campos e cidades, mas é no combate que notei mais esta deficiência. Muitas vezes o pressionar de botões não foi sequer canalizado para o jogo. Este acontecimento pode até frustrar o jogador mais paciente. Isto porque muitas vezes, numa cadeia de golpes e em muitas das ocasiões, apenas o último comando é aceite pelo jogo. Os diversos QTES, que surgem a um ritmo constante não são responsivos, e os desviar de ataques não é de todo eficaz. Mesmo com um botão dedicado de defesa, não ajudou muito em alguns combates mais complicados. O melhor para prosperar nos mesmos, é treinar Ryo, durante dias e dias, para acabar com as suas ameaças com o menor número de golpes. No final o sentimento que o jogador tem é que não sente em total o controlo do jovem Hazuki. É uma pena porque sendo parte integrante do já mencionado movimento cíclico do jogo, não foi tão bem orquestrado.
Quanto à versão de PC analisada, felizmente não parece sofrer problemas de optimização, o jogo é apresentado em resoluções altas até 4K, sem perda de quadros de animação, mantendo-se sempre na ordem dos 60fps. Apenas o único senão, é que as suas opções gráficas estão barradas a níveis pré-estabelecidos, não permitindo a modificação de elementos em áreas específicas, como sombras ou texturas. Infelizmente também não existe suporte HDR para já.
Shenmue 3 já está disponível para PlayStation 4 e na Epic Games para PC.