A família Nohara está de volta ao Ocidente, e chegou carregada de bagagens para umas longas e prósperas férias num cantinho bem rural e cheio de personagens caricatos. O irreverente Shinnosuke (carinhosamente conhecido como Shin-chan), continua a ser a estrela, numa viagem mista de altos e baixos.

A Neos foi a responsável pelo desenvolvimento e publicação do jogo, com Kazu Ayabe a comandar o projecto. Ayabe é o grande responsável pela série de jogos “My Summer Vacation” (Boku no Natsuyasumi) que começou na era da primeira Playstation e nunca saiu da sua terra-mãe. Se conhecem Animal Crossing, Harvest Moon, Stardew Valley e outros cozy games como agora são etiquetados num género, My Summer Vacation trouxe um pouco desse conceito, tentando simular umas férias tranquilas nos locais mais interiores do Japão.

Podemos considerar este jogo de Shin-chan um título principal da série, não só por fazer uso do nome da franquia e usar o mesmo director, como por usufruir muitos dos elementos já utilizados no passado, literalmente.

Identidade Shin-chan presente, mas furos abaixo do anime

Se assim como eu, acompanhaste Shin-chan no início dos anos 2000 na televisão Portuguesa, vais sentir uma enorme fidelidade colocada neste título, como se de um filme do anime se tratasse. Shin-chan continua o mesmo: 5 anos de idade, sem pudores, politicamente incorrecto, intrometido e assediador de mulheres muito mais velhas que ele. A sua mãe é destemida e extremamente dedicada à família, e o seu pai é o típico trabalhador de escritório Japonês estereotipado, com muitas horas de trabalho, e outras tantas em álcool.

Shin Chan: O Meu Verão com o Professor inicia-se precisamente com uma viagem de negócios do seu pai até Kyushu, que serviu de propósito o acompanhamento da família Nohara a juntarem-se a uma amiga de infância de Misae em Asso, Kumamoto, para umas curtas férias. Seria suposto tudo correr de forma tranquila, até que ao chegar à estação, a família Nohara encontra um tipo de caráter duvidoso, que se apresenta como Dr. Akuno, e afirma ser um cientista louco. É nessa altura que Akuno lhes oferece uma câmara fotográfica que transforma as fotos em ilustrações, uma ferramenta que permitirá o nosso pequeno Shinnosuke captar todos os momentos das férias como lembranças. Claro que este professor tem outras intenções em mente, e começam a acontecer coisas estranhas em Asso, incluindo loops intermináveis e até a presença de dinossauros.

Efectivamente, Shinnosuke e a sua família só iriam passar uma semana em Asso, mas devido às tramóias do professor Akuno que faz o tempo retornar ao dia da chegada à estação, o jogo entra num loop extremamente chato, obrigando-nos a ouvir e ler os mesmos diálogos por diversas vezes. Este loop faz com que apenas e exclusivamente Shinnosuke se recorde exactamente de tudo o que se passou, e tudo o que é coleccionado durante o tempo de jogo fica com o nosso personagem, mas ainda assim preferia outra abordagem mais directa sem perdas de memória.

Ao longo das férias existem objectivos para cumprir num separador especial chamado ‘Memórias de Verão’, com direito ao final habitual de episódio, como se de fragmentos do anime se tratassem. Existem 19 no total, e podem ser completados da forma que bem desejares, e é em cerca de 10 horas (se não te importares com todos os insectos e peixes para colecionar), que finalizas o jogo.

Os personagens novos estão bem escritos e apresentados, e até será possível encontrar alguns elementos importantes do anime devido a uma engraçada justificação que o jogo conta. Já os 19 episódios principais, são geralmente curtos na sua maioria, e uns bons furos abaixo do habitual que passava na televisão. Excluindo Shin-chan, falta aquela dose de vivacidade a praticamente todos os personagens já conhecidos da série, e que aqui passam apenas por obstáculos para realizar alguns dos objectivos de jogo.

Jornalista de manhã, pescador à noite

Existem variadas actividades que poderás realizar na pele do pequenito Shinnosuke, desde fazer a dança do rabinho (pois claro), pescar, caçar insectos, trabalhar no jornal local, e até participar em batalhas com os dinossauros que irão sucessivamente chegando ao local. Todas estas actividades que mencionei irão gerar uma pequena mesada para que Shin-chan possa adquirir alguns pequenos ingredientes na mercearia, ou os tão famosos biscoitos de chocolate que o nosso protagonista tanto gosta.

Na primeira hora de jogo poderás facilmente visitar os pequenos espaços da cidade, já que existem muitos locais ainda interditos e que abrirão com o decorrer do jogo. Depois de teres o mapa completamente aberto e não pretendas coleccionar tudo à primeira, tudo ficará aberto até mesmo no new game +, presente após terminares a história principal.

As actividades são geralmente feitas com apenas um botão, sem segredos ou desafios. Para apanhares insectos, basta apontares a rede para o local onde a pequena criatura se encontra e atirares. Para pescar, basta apenas perceber se andam peixes pela zona, atirar a cana de forma curta ou extensa, e esperar a mordida. Ao contrário de Stardew Valley ou Animal Crossing, tu não irás criar uma zona de cultivo de raiz, e sim usar a dos vizinhos, e colectar apenas cenouras, pimentos e tomates, e outros pequenos ingredientes plantados pelo mapa. Não poderás vender nenhuma destas verduras, que servirão para ajudar alguns habitantes do local com os seus pedidos.

Também está incluído um jogo de cartas de dinossauros, e é uma vertente de jogabilidade completamente fora do padrão, mas muito bem-vinda. Sucintamente, trata-se de uma fórmula simples de pedra-papel-tesoura em batalhas por turnos, e o objectivo é finalizar os pontos de vitalidade dos teus adversários. Poderás escolher o dinossauro que pretendes e até ampliar as suas estatísticas com cartas que irás adquirindo quer seja nos pacotes de chocolates, ou através dos recados.

O jogo tem o seu encanto nas primeiras horas, mas mais tarde existe o comum risco de começar a cansar visitar sempre os mesmos cenários, muitas vezes sem rumo, e esperar apenas que o tempo passe para que alguma das histórias principais comece a surgir. Demorei sempre muitas horas para sentir esse cansaço em jogos do mesmo estilo, neste bastou meia dúzia, talvez pela sua extrema casualidade e falta de desafio.

Uma tela com som

A combinação de contrastes entre os personagens cel-shading e os cenários pintados à mão, dão um ar inigualável a este título e encantou-me desde a primeira vez que o vi.

A característica muito singular do traço dos personagens está extremamente fiel ao que conhecemos do manga e do anime, e as zonas do mapa ainda que sejam de câmara fixa, são cheias de detalhes como pequenas partículas que me fizeram imergir e por vezes sentir-me a navegar por uma tela.

Para complementar com a experiência, as faixas de música originais encaixam que nem uma luva, e todas elas passam aquela sensação dos dias quentes de cada etapa do verão.

Lembro que Shin Chan: O Meu Verão com o Professor – A Semana Interminável já está disponível para Nintendo Switch, PlayStation 4 e na Steam para PC, e está dobrado exclusivamente em Japonês, mas conta com legendas localizadas para o Português Europeu, uma surpresa muito agradável.

CONCLUSÃO
Um verão mais fresco
6.5
Igor Gonçalves
Curioso, explorador, e fã de videojogos desde que me lembro, e em especial pela saga Metal Gear. Não jogo plataformas, jogo jogos.
shin-chan-o-meu-verao-com-o-professor-analiseShin-chan: O Meu Verão com o Professor – A Semana Interminável é um jogo muito casual e divertido, particularmente se fores fã deste universo e das suas personagens. Tem algumas falhas e quebras de ritmo, mas mantém o humor ácido que Shinnosuke e os restantes personagens nos habituaram.