Sabes que estás a ser bem alimentado quando assim que te salta para as mãos a responsabilidade de escrever sobre um dos Remakes mais aguardados de todos os tempos, o país inteiro mergulha numa neblina incomum. Parece que a altura para entrar às apalpadelas no mundo de Silent Hill não poderia ter sido mais profética, em especial para uma iniciante na franquia mas fiel seguidora do trabalho da Bloober Team! Posto isto, quero agradecer ao meu companheiro de caneta, o Zero irá tratar de abordar nesta análise a perspetiva de veterano.
Devo dizer que Silent Hill não fez parte da minha infância/adolescência. Descobri a existência da franquia numa fase já de muito reboliço na minha vida, e por isso sempre esperei pelo momento certo para dar este salto, e acho que fiz muito bem pois o timing da chegada do seu Remake é perfeito.
Claro está que oportunidades, vontade e encorajamentos nunca me faltaram pelo caminho, até dado o meu repertório, amizades e sendo o título em questão inspiração de muitos jogos e equipas de desenvolvimento que vim a admirar. Não obstante, desde o seu anúncio, não procurei saber absolutamente mais nada. Toda a experiência que tive anteriormente com a saga foi jogando precisamente uns primeiros minutos do original deste título na PS2 e o inesquecível P.T. Assim mesmo, às escuras, foi talvez a melhor forma de dar este passo que confesso nunca me ter passado pela cabeça ter a honra de analisar.
Ás apalpadelas, descobrir os diversos cenários que figuram Silent Hill 2 é descobrir a maior e mais prepotente personagem secundária de todo o jogo. Numa atmosfera de nos arrepiar os cabelinhos da nuca, e envoltos numa soundtrack mais propícia a jump scares que a jogabilidade inteira de muitos estandartes do género, encontramos conforto em sentirmo-nos sozinhos, quando estamos sozinhos…
Zero:
A jogabilidade está tal e qual como no original, mas melhorado e mais refinado, o que torna a jogabilidade mais fluída. A luz do DualSense dá a importante informação do estado de saúde do James que muda com a quantidade de saúde que tem e temos botões próprios para curar. Houve alterações de certas localizações de certos objetos e armas. A arma inicial no original era 1 cano de ferro e no Remake foi substituído por 1 tábua com pregos. Outra “novidade” foi a introdução e retirada de puzzles. A ausência mais notória é a ausência do infame puzzle que existia na biblioteca e que é considerado por muitos como um dos puzzles mais difíceis de sempre.
A banda sonora, como tem sido tradição da série Silent Hill, está encarregue a Akira Yamaoka, veterano de anos e anos da Konami, que mais uma vez, trouxe uma banda sonora pesada e melancólica que capta o ambiente sombrio da famosa cidade e as vozes estão no ponto, embora eu seja mais fã da voz original do James.
A pausa para respirar e olhar o mapa, é em si a meu ver uma mecânica principal estabelecida para mexer com os nossos sentimentos. Meter o coração no lugar e definir os próximos pontos estratégicos a explorar no passo seguinte, dá ao corpo do jogador a hipótese de recuperar o fôlego numa simbiose perfeita com James Sunderland antes de se aventurar mais ainda, na certeza que o caminho em frente se sente cada vez mais abismal e cheio de surpresas.
Devo dizer que nunca em quase 10 anos de análises a videojogos, me lembro de um jogo que merece tanto a menção ao trabalho na sonoridade, como aqui onde não é pela companhia que nos faz, é por toda a dimensão que carrega cheia de propósito. Como que uma personagem omnipresente, troça-nos, troca-nos os batimentos cardíacos, mexe e remexe uma vez mais com o nosso psicológico…
Zero:
Bastante fiel ao jogo. O Remake segue o conteúdo original do jogo de 2001, mas não se livra de grandes críticas num certo aspecto.
Infelizmente, gostaria de saber quem teve a brilhante ideia de pegar do material fiel do original e meter pormenores novos que fazem logo spoilers do jogo todo. Só no início e se se prestar atenção, tem 3 pormenores que denuncia logo o que vai acontecer mais tarde no jogo ou conta praticamente a história toda, o que faz logo questionar essa decisão e não é o único sítio que faz esse tipo de denúncias. Algumas cutscenes também foram alteradas/cortadas, e a maior desilusão foi terem retirado o polémico e infame cutscene do 1º encontro com o Pyramid Head e que é pertinente à história do jogo. Tal como no original, tem easter eggs e surpreendentemente, alguns desses easter eggs estão diretamente relacionados com o 2 original e outros jogos do franchise e alguns de pop culture. Esta versão conta com 2 novos fins, fazendo o total de 8. O UFO ending, que serve como joke ending desde o 1º, está de volta no Remake e é diferente do original, que, mais uma vez, faz ligação com o 2 original.
Sabes, nunca me tinha apercebido do quão reliable eu sou no combate melee. É muito raro me porém a contar cartuchos e balas, mas a escassez e um bom cano de ferro fez-me reconhecer que não há vício mais gratificante que sair do trabalho e desatar à paulada com enfermeiras. Controverso?
Friso que joguei inteiramente no modo Padrão, tanto para puzzles como para combate, e nem por isso temos mais sorte no stock de frascos e agulhas. Tudo bem que a início parece que colecionamos stock, pelo que estive para aumentar a dificuldade, mas rapidamente quando chegamos ao hospital que se localiza numa espécie de 2.o acto, essa percepção muda muito. Contudo continuo a preferir esse ao tétano city, também conhecido como Blue Creak.
Zero
Vem com a desejada melhoria gráfica para a consola atual, e também com as devidas adaptações ao DualSense. Outra principal diferença é a transição de câmara fixa do original para 1 câmera de 3ª pessoa por cima do ombro, o que facilita bastante a navegação e o esquema de controlos está praticamente intocável. O grafismo está impecável tal como o original, com realismo acrescentado nos monstros e alguns detalhes como o sangue no chão, o que acrescenta o ambiente negro e sinistro.
Genialmente calculado e traçado a régua e esquadro, o mistério de Sillent Hill 2 Remake e os seus puzzles são um appetizer delíciante a roçar o sadomasoquismo. Reflito e penso: Nunca amei tanto um jogo onde me sentisse tão só. Sabes? Acho que é uma mistura de todas estas coisas numa liquidificadora que torna o equilíbrio aqui conseguido mais improvável de alguma vez ser reproduzível. Mas ei, espero que esta não seja a nossa última caminhada pelos trilhos de Silent Hill.
Antes de terminar, uma palavra de carinho pelos nossos ilustres figurantes, pois sem eles não seria possível manter o meu cardio em dia. De enfermeiras, que desde criança sempre me assombraram, a bacanos desorientados com um cone de ferro espetado na cabeça, gostaria de distinguir a minha especial estima em rebentar à paulada com os Mannequin sorrateiros que adoram-me fazer saltar do sofá com emoção, esses sim têm pernas para andar. Já figuras restantes, fazem-me lembrar os meus colegas de trabalho a picar o ponto numa segunda-feira antes do café, e com todo o respeito, reatámos uma velha brincadeira pisa-pisa-pé.
Silent Hill 2 Remake já está disponível para PlayStation 5 e na Steam para PC.
Agradecemos à Ecoplay por nos ter cedido esta chave para análise, para a plataforma PS5.
+ Pontos Positivos
- Jogabilidade
- Animação
- Música
- Dobragem
- Enredo
- Cenários e Sonoridade Atmosfericamente soberbos!