Com todos os rumores que têm surgido em torno de um possível regresso de Silent Hill, decidi acalmar a minha ansia ao escrever sobre um dos que mais me impactou, e esse é Silent Hill: Shattered Memories!
Um jogo que sempre priorizei para análise, porque tende a cair muitas vezes no esquecimento quando se fala em Silent Hill e possui um charme tão único que por pouco só não ficou o meu favorito pela existência de Silent Hill 2 – o melhor dos melhores dentro do seu género.
No entanto, eu não recomendaria de todo Shattered Memories para iniciantes à franquia. Antes de jogares este título, aconselho pelo menos teres completado Silent Hill 1 e Silent Hill 3, até porque Shattered Memories serve como elo complementar entre ambos, tendo como foco principal aprofundar a história que já conhecíamos, e atribuir um laço final à sua trajectória. Para além disto, Silent Hill 1 e 3 são dos melhores jogos de terror que vais encontrar por aí, sendo ambos cruciais para compreenderes o contexto de Shattered Memories e muitas das referências presentes no jogo.
Originalmente lançado para a Wii em 2009, o jogo recebeu um porte para PS2 e PSP em 2010. Foi desenvolvido pela Climax Studios e publicado pela Konami como uma re-imaginação de Silent Hill 1. Apesar de o ter experiênciado num emulador, aconselho jogares Shattered Memories na Wii. Isto se pretendes usufruí-lo na sua qualidade máxima, acompanhado por uma jogabilidade mais interactiva através do Wii Remote.
Shattered Memories
Tal como no clássico de 1999, Harry Manson sofre um acidente de carro nas redondezas de Silent Hill, acontecimento que acaba por desencadear o desaparecimento da sua filha, Cheryl. O protagonista explora as ruas da cidade, procurando desesperadamente pela filha. Entretanto, Silent Hill vai levar Harry por vários caminhos familiares, porém completamente diferentes dos que já tínhamos enfrentado antes.
A cidade manifesta a sua bipolaridade através de um mundo sombrio, esporadicamente contaminado por uma dimensão infernal, conhecida por “Nightmare”. No mundo sombrio, Harry pode levar um passo mais lento, aproveitando para explorar mistérios que estão à sua volta e conhecer novas personagens.
Entretanto, a dimensão infernal surge não com a habitual ferrugem, mas sim quando a cidade cobre-se por uma camada espessa de gelo. Aviso já que este lado “Nightmare” vai deixar muitos monstros à solta… quando ouvires gritos estridentes a aproximarem-se, é uma boa altura para começares a fugir!
Atenção, o jogo está a vigiar-te!
A narrativa está dividida entre o passado e o presente, que liga a jogabilidade de Silent Hill com sessões de terapia realizadas numa clínica psiquiátrica. As tuas interacções vão ser analisadas pelo psicanalista Dr. K. Por coincidência ou talvez não, o jogo Until Dawn sempre me deu muitas parecenças com esta vertente de Shattered Memories. O enigmático Dr. K vai abordando múltiplas questões e pedir-te para realizares testes, o que permite desbloquear novos segmentos para continuares a tua jornada em Silent Hill.
Apesar de no início a clínica não parecer muito relevante, esta acaba se tornar num ponto-chave para o desencadear da história, pois todas as respostas que dás a esta personagem, acabam por moldar o jogo consoante a tua personalidade. Sim, ouviste bem!
Para além disto, o cursor direccional do jogo também rastreia o teu foco visual enquanto jogas em Silent Hill, isto serve para avaliar o teu desempenho e alterar aquilo que for preciso para tornar a tua aventura ainda mais interessante.
Isto faz de Silent Hill Shattered Memories uma experiência única com bastante valor de replay, podendo resultar em vários finais alternativos para cada jogador. Os traços psicológicos que o jogo rastreia em ti, afectam principalmente as características físicas e a personalidade das personagens; o aspecto dos monstros e a apresentação decorativa de certos locais.
Pela primeira vez, Silent Hill assume uma posição mais pessoal relativamente ao jogador, fazendo com que tu passes a ser o centro do seu esquema sombrio…
Foge, antes que eles te apanhem!
Ao contrário de muitos Silent Hill’s, Shattered Memories não têm meios de combate em relação a adversários, a tua única solução é escapares dos seus ataques até encontrares uma saída por vários caminhos labirínticos. Os monstros possuem sempre a mesma forma base: não manifestam rosto e o seu corpo é literalmente carne viva.
Não vou esconder que isto acabou por desiludir-me um pouco, os Raw Shock são os únicos tipos de monstros presentes no jogo, manifestando a sua presença apenas quando a cidade é invadida pela dimensão infernal. Para mim, isto foi um downgrade a comparar com os antecessores, que marcaram-me imenso com o seu extenso catálogo de monstros e respectiva simbologia.
Entretanto, os Raw Shock vão atrás de ti numa perseguição quase em género loop: podes esconder-te; atravessar quantas portas quiseres e até escalar, eles conseguem eventualmente encontrar-te! O facto do jogo possuir uma câmara que te permite olhar para trás para ver se os inimigos continuam a perseguir-te, ajuda a culminar ainda mais naquele sentimento de paranóia.
Mas nada está perdido, podes sempre abrandar os seus movimentos atirando objectos; utilizando tochas sinalizadoras e esquivando-te das suas garras de “amor”. Tem é cuidado, pois levares com os constantes abraços destas lindas criaturas, podem deixar-te a zero de vida!
Nestes momentos de pânico e pura acção, o frame rate prefere abrandar um pouco, o que é mesmo “ideal”! Especialmente quando tens de atravessar portas atrás de portas para encontrares o teu bilhete de saída. Os ambientes demoram um pouco a carregar, possivelmente porque Harry está a tentar fugir apressadamente dos monstros, o que já não acontece com muita frequência fora do mundo infernal, quando o ritmo é mais lento.
Tal como na vida real, o telemóvel é a nossa salvação!
É verdade, o equipamento principal do jogo é um grandioso telemóvel! Através dele, podes fazer tudo e mais alguma coisa: aceder ao mapa conectado a um sistema GPS; salvar o jogo; detectar locais com elevada estática sonora; receber mensagens de texto; áudio e fotos.
Este aparelho também pode ser utilizado para telefonar ou tirar fotos a elementos presentes nos cenários, de maneira a revelar informação escondida e até alguns Easter Eggs. Para além disto, podes ter acesso a uma lanterna para dar alguma visibilidade ao que está à tua volta. Aproveito para dizer que ter um Wii Remote nesta altura é bastante útil, pois podes iluminar e fazer zoom a qualquer objecto, apontando o comando para o ecrã.
Fiquei genuinamente estupefacta como um mero telemóvel conseguiu revelar-me tantos segredos sobre Silent Hill! É de facto muito interessante desvendar mais sobre o passado das pessoas que outrora viveram na cidade, por vezes estas estão congeladas ou representadas em meras sombras, só precisas de tirar uma foto e voilà… ficas a conhecer uma grande variedade de histórias drásticas e por vezes emotivas.
Admito que esta foi das partes que mais agradou-me no jogo, sendo eu a fã curiosa que sou sobre o universo de Silent Hill, posso dizer que fiquei extremamente satisfeita com aquilo que descobri!
Os puzzles foram outro elemento que se destacou. Silent Hill Shattered Memories conseguiu trazer desafios criativos que brincam com o cenário à tua volta, exigindo um ligeiro grau de concentração, mas nada de muito complicado.
Para além disto, o aspecto das personagens é super realista, assim como o voice acting e as animações. Já para não falar do maravilhoso soundtrack criado por Akira Yamaoka, conhecido por ser o compositor da maioria dos títulos Silent Hill. Apesar do jogo não ser muito longo em termos de duração, a sua versão de Silent Hill é extremamente detalhada e imersiva, o que dá uma enorme vontade de mergulhar nos seus cenários e absorver todo o seu conhecimento.
Não resta dúvidas que Shattered Memories traz algo novo à mesa de Silent Hill, brilhando mais pela sua quantidade de história background e não tanto pelas suas características “survival horror”.
A identidade do jogo não é dar-nos uma aventura cheia de gore e momentos de tensão como os outros títulos já fizeram, mas sim fazer com que nós escavemos as memórias do passado para resolver um enigma presente.
Se és um fã hardcore de Sillent Hill 1 e 3 como eu, é impossível também não ficares de coração apertado com o valor sentimental que este jogo possuí. Shattered Memories toca bem lá na ferida que muitos fãs da franquia carregam e tenta sará-la com o seu final inesperado. É uma história triste, nostálgica e necessária que deixa em pratos limpos aquilo que deu origem aos primórdios de Silent Hill.